"Dois caftas, alface, queijo, molho especial, cebola e picles no pão árabe" é a versão egípcia do Big Mac à venda nos McDonald's da capital, Cairo. Em viagem ao Egito, foi em um desses endereços que passei horas, na semana passada, por um motivo muito simples: era o único local com conexão gratuita à Internet, de onde eu poderia iniciar este blog. Aproveitei para observar o movimento. Definitivamente, não é o melhor lugar para se experimentar a cultura do País secular, mas diz muito sobre a história contemporânea de um Egito paradoxal, dividido entre a tradição e o Ocidente.
O Egito adotou ainda nos anos 1920 um estilo ocidental, então símbolo da modernidade em tempos de influência européia, mas tem retornado a costumes mais tradicionais. Os anos 1970 trouxeram o capitalismo e a abertura econômica. "A intervenção Americana no Egito foi ruim para cada um dos 65 milhões de habitantes - exceto por poucos milhares que se tornaram fabulosamente ricos com a nova economia", escreveu a romancista egípcia Ahdaf Soueif, em um artigo no diário britânico The Guardian.
"Fazendeiros endividados, trabalhadores desempregados, a classe média dizimada, os intelectuais silenciados e os estudantes. Todos dirão responsabilizar a América por seus problemas", diz Ahdaf. Começaram a questionar se seguir o Ocidente era bom para o Egito e a olhar novamente para sua própria história e tradições. Cobrir os cabelos tornou-se símbolo da busca por uma identidade egípcia não-ocidental.
Hoje, nesse McDonald's, o que se vê é quase a totalidade das belas jovens de calças jeans compridas e largas, camisas quase até os joelhos e de mangas longas e o hijab, o véu, cobrindo-lhes o cabelo. Tudo muito colorido e moderno, diga-se. Aproveitam a praticidade de um fast-food com conexão sem fio à Internet, mas tentam fazê-lo à sua própria maneira.
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