Alto Comissário da ONU cobra medidas para frear 'clima de medo' na Nicarágua
Zeid Ra'ad Al Hussein condenou repressão das forças do governo Daniel Ortega contra manifestantes da oposição e exigiu medidas para evitar 'distúrbios políticos e sociais mais graves' no país
PUBLICIDADE
Por Redação
Atualização:
GENEBRA - O Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos pediu à comunidade internacional a adoção de medidas para frear a crise da Nicarágua, consumida por um "clima de medo" em razão da violenta repressão das forças do governo contra manifestantes da oposição.
PUBLICIDADE
"A repressão contra os manifestantes prossegue na Nicarágua enquanto o mundo inteiro assiste", disse o Alto Comissário para Direitos Humanos da ONU, Zeid Ra'ad Al Hussein, em comunicado. "A violência e a impunidade nos últimos quatro meses destacaram a fragilidade das instituições do país e do Estado de Direito, gerando um clima de medo e desconfiança."
As manifestações contra o presidente nicaraguense Daniel Ortega começaram em abril após o governo apresentar uma proposta de reforma previdenciária. Rapidamente, os atos passaram a exigir a sua renúncia após a repressão do governo contra a oposição. Balanços estimam que os confrontos deixaram mais de 300 mortos e dois mil feridos.
Em julho, a estudante brasileira Raynéia Gabrielle Lima foi morta a tiros em circunstâncias ainda não esclarecidas pelo governo local. Nesta semana, a cinegrafista brasileira Emilia Mello foi deportada da Nicarágua para os Estados Unidos, onde também tem cidadania, após tentar gravar um documentário sobre a situação dos protestos.
O comunicado do Alto Comissário também destaca a violência da oposição contra sandinistas, funcionários do governo e forças de segurança, que resultou na morte de 22 policiais.
"O grau de brutalidade dos confrontos, que incluem queimaduras, amputações e profanação de cadáveres, ilustra a grave degeneração da crise", diz o Alto Comissário, que divide a crise nicaraguense em dois momentos: a "repressão" por parte de forças do governo e paramiliares e a "limpeza", nas quais a polícia derruba barricadas e barreiras montadas por focos de resistência da oposição.
O Alto Comissário também alerta que manifestantes e opositores ao governo "têm sido perseguidos e criminalizados" por paramilitares armados "com absoluta impunidade".
Publicidade
"Peço que o Conselho de Direitos Humanos e a comunidade internacional adotem medidas específicas para dar fim à crise atual e evitar distúrbios sociais e políticos mais graves", afirmou Hussein. //AFP
A crise na Nicarágua em imagens: 100 dias de protestos
1 / 21A crise na Nicarágua em imagens: 100 dias de protestos
Nicarágua 1
Os protestos na Nicarágua começaram no dia 18 de abril, quando a população foi às ruas contra a reforma da previdência social no país. Logo nas primei... Foto: EFE/Jorge TorresMais
Nicarágua 2
A maior reclamação era de que as medidas não evitariam a falência do INSS e aumentariam o desemprego e a informalidade, diminuindo o consumo e a compe... Foto: AFP PHOTO / INTI OCONMais
Nicarágua 3
Já nas primeiras ocasiões, a imprensa foi censurada. O canal 100% Noticias, que transmitia os protestos ao vivo, foi retirado do ar. Em um protesto no... Foto: Jorge Torres/EPA/EFEMais
Nicarágua 4
O governo do presidente Daniel Ortega culpou "pequenos grupos de oposição" de serem os responsáveis pela revolta. No dia 22 de abril, ele revogou a re... Foto: EFE/Jorge TorresMais
Nicarágua 5
Em 23 de abril, o número de mortos subiu para 31, quando policiais invadiram a Universidade Politécnica da Nicarágua e mataram quatro estudantes. Nest... Foto: EFE/Paolo AguilarMais
Nicarágua 6
O número de mortos estava em 34 no dia 25 de abril, quandocentenas de nicaraguenses marcharam com velas acesas pelas ruas da capital, Manágua, pedindo... Foto: EFE/Jorge TorresMais
Nicarágua 7
Além das 34 mortes, 66 pessoas feridas estavam internadas e, destas, 12 apresentavam estado crítico de saúde. Dos mortos, a maioria recebeu tiros na c... Foto: REUTERS/Jose CabezasMais
Nicarágua 8
Em 6 de maio, o número de mortos estava em 45 e o Parlamento - dominado por partidários de Ortega - criou uma comissão para investigar as mortes. Grup... Foto: REUTERS/Oswaldo RivasMais
Nicarágua 9
Após 24 dias desde o início dos protestos, 50 pessoas haviam morrido, segundo as ONGs. Em 11 de maio, 21 estudantes foram intoxicados enquanto partici... Foto: Oswaldo Rivas/ReutersMais
Nicarágua 10
Em 17 de maio, cerca de 60 mortes haviam sido registradas e o número de feridos estava em 500. Neste momento, a Comissão Interamericana de Direitos Hu... Foto: AFP PHOTO / DIANA ULLOAMais
Nicarágua 11
No início de junho, 114 pessoas haviam morrido, incluindo um estrangeiro. A cidade de Masaya, que fora reduto dos rebeldes na década de 80, havia se t... Foto: REUTERS/Oswaldo RivasMais
Nicarágua 12
Em 16 de junho, cerca de 200 mortes eram contabilizadas. Governo e oposição fizeram um acordo para que organizações internacionais verificassem as fat... Foto: REUTERS/Jorge CabreraMais
Nicarágua 13
Em 7 de julho, Ortega declarou que não anteciparia as eleições, o que elevou as tensões pelo país e motivou mais protestos.Barricadas foram levantas p... Foto: EFE/Bienvenido VelascoMais
Nicarágua 14
Quatro dias depois, em 11 de julho, a CIDH calculava em 264 o número de mortes e em 1,8 mil o número de feridos.A Igreja havia retomado a mediação dos... Foto: Mais
Nicarágua 15
Em 16 de julho, as mortes se aproximavam de 300 e a situação piorou quando grupos armados pró-governo e policiais começaram a cercar universidades ocu... Foto: Mais
Nicarágua 16
Em 17 de julho, o Parlamento aprovou uma lei sobre terrorismo que, segundo a ONU, poderia ser utilizada para criminalizar protestos pacíficos. No mesm... Foto: AP Photo/Alfredo ZunigaMais
Nicarágua 17
Na ocasião moradores ergueram barricadas de até dois metros de altura para se proteger. Trinta e sete caminhonetes cheias de agentes da polícia antimo... Foto: REUTERS/Oswaldo RivasMais
Nicarágua 18
Em 20 de julho, no aniversário da Revolução Sandinista,Ortega pediu aos manifestantes para acabar com que considera uma tentativa de "desestabilizar o... Foto: REUTERS/Oswaldo Rivas TPX IMAGES OF THE DAYMais
Nicarágua 19
Ainda em 21 de julho, dezenas de mães que procuravam seus filhos presos ou desaparecidosforam expulsas por agentes do governo e ameaçadas com armas de... Foto: Marvin Recinos / AFPMais
Nicarágua 20
Em 23 de julho, a estudante universitária brasileiraRaynéia Gabrielle Lima foi morta a tirosquando voltava para casa depois de um plantão hospitalar n... Foto: Reprodução / FacebookMais
Nicarágua 21
A comunidade internacional voltou a pressionar Ortega e pedir eleições antecipadas.O Brasil condenou a morte da estudante, pediu que o caso seja inves... Foto: REUTERS/Jorge CabreraMais