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Crescem rumores de antecipação de eleições argentinas

Cristina e seu marido, Néstor Kirchner, estariam planejando transferir votação presidencial de 2011 para 2010

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Por Marina Guimarães
Atualização:

Faltando apenas 13 dias para as eleições parlamentares de 28 de junho na Argentina, o governo é obrigado a carregar as baterias para desmentir versões de que a presidente Cristina Kirchner e seu marido, Néstor Kirchner, ex-presidente, atual titular do Partido Justicialista e principal candidato a deputado pela província de Buenos Aires, pretendem antecipar as eleições presidenciais de 2011 para 2010.

 

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A hipótese foi levantada neste fim de semana pelo analista político do jornal Clarín Eduardo Van der Kooy, atribuída a uma fonte política "muito próxima aos Kirchner". Segundo o analista, a antecipação das eleições presidenciais de outubro de 2011 para março de 2010 "seria o último recurso de Néstor e Cristina Kirchner se uma derrota ocorrer no último domingo deste mês."

 

A derrota mencionada, nesse caso, seria na província de Buenos Aires, que concentra quase 38% do eleitorado do país. A província de Buenos Aires é para a Argentina o que o Estado de São Paulo é para o Brasil. Kirchner usou todos os recursos possíveis para obter uma vitória nesse colégio eleitoral e o principal deles foi a criação das "candidaturas testimoniais", que consistiu em colocar como candidatos a deputados e senadores o governador desta província, Daniel Scioli, e cerca de 40 prefeitos que ainda estão na metade de seus mandatos executivos.

 

Se forem eleitos, esses candidatos não devem assumir o cargo legislativo, mas terão puxado votos para a legenda Frente para a Vitória, que representa o kirchnerismo dentro do partido. No sistema eleitoral da Argentina, o voto é para a legenda que tem sua lista de candidatos.

 

Segundo as pesquisas de opinião, o kirchnerismo deve perder as eleições na cidade de Buenos Aires (capital federal) e nas províncias de Santa Fe, Córdoba e Mendoza. Também corre o risco de perder a maioria na Câmara e no Senado. Mas a grande preocupação é mesmo com a província de Buenos Aires, onde as pesquisas ainda dão uma pequena vantagem ao kirchnerismo, mas não garante a vitória por causa dos indecisos.

 

O resultado de 28 de junho dará ao casal o cenário no qual terão que trabalhar até o final do mandato de Cristina, em dezembro de 2011. Neste sentido, se houver uma derrota contundente do kirchnerismo, o casal convocaria as eleições antecipadas para evitar o desgaste de governar sem apoio político.

 

Há pouco, o ministro do Interior, Florencio Randazzo, afirmou que essa hipótese "é um disparate e uma mentira". "De nenhuma maneira analisamos adiantar as eleições presidenciais para 2010", disse o ministro em entrevista às rádios de Buenos Aires. O ministro criticou o Clarín por veicular a informação e disse que "a notícia é mais uma de tantas outras mentiras do jornal."

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O ministro de Justiça, Aníbal Fernández, também desmentiu a nota e a classificou como um "panfleto para confundir a opinião pública". O cientista político Rosendo Fraga, do Centro de Estudos União para a Nova Maioria, explicou à Agência Estado que, tradicionalmente, no Partido Justicialista, também chamado de peronismo, quando o presidente toma medidas que levam a uma perda de popularidade, como ocorreu com Cristina Kirchner e sua briga com o setor agropecuário, os caciques peronistas vão retirando também o apoio político ao mandatário.

 

Desde que assumiu o governo, em dezembro de 2007, Cristina caiu de 56% de aprovação popular para 28%. A partir do conflito agrícola, nomes importantes do peronismo encerraram suas alianças com o kirchnerismo e outros começaram a questioná-la. "O resultado das eleições de junho será um xeque-mate para os Kirchner, porque vai definir se continuam com liderança para indicar o sucessor presidencial", explicou.

 

CENÁRIOS

 

O analista político Carlos Fara, da consultoria homônima, afirmou que a hipótese de antecipação das eleições é avaliada em caso somente de uma derrota em Buenos Aires. "Essa alternativa coloca a oposição em situação complicada, porque não lhe dá tempo de se organizar para as presidenciais", explicou.

 

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Nesse sentido, o kirchnerismo evitaria o crescimento da oposição Em caso de uma vitória de Kirchner na província, o analista diz que Scioli deixaria de ser um "candidato testimonial" e assumiria o cargo na Câmara. "Nesse cenário, Scioli assumiria como presidente da Câmara até o final do mandato de Cristina, quando se apresentaria como candidato a presidente pelo kirchnerismo, enquanto Néstor se apresentaria como candidato a governador da província de Buenos Aires, onde manteria uma cota importante de poder político."

 

Em qualquer das duas situações, de vitória ou de derrota, os Kirchner já têm a opção para não perder peso político, segundo os analistas. Vale lembrar que, no início deste ano, Cristina antecipou as eleições parlamentares de outubro para junho, justamente para evitar um desgaste político que os efeitos da crise econômica poderiam provocar até a data original.

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