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Americano usa habilidade para caçar jihadistas e salva yorkshire sequestrado

Mãe de uma adolescente mobilizou habitantes de Maryland em busca do cachorro da filha, sequestrado por uma adolescente, e recebeu ajuda de um ex-combatente na Guerra do Iraque

Por Justin Jouvenal

THE WASHINGTON POST — Raquel Witherspoon passou 24 horas frenéticas em busca do yorkshire terrier de sua filha após uma descoberta chocante. Imagens gravadas pela câmera instalada na porta de sua residência mostraram uma adolescente, com cabelo pintado de vermelho, caminhando pelo jardim em frente à sua casa, agachando-se e jogando petiscos para Avery — e depois fugindo com o cãozinho.

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A filha de 12 anos de Witherspoon ficou desolada. Avery dava apoio emocional a Semaj, e ela mal conseguiu comer ou dormir depois que ele desapareceu. Witherspoon estava em sua casa, em Maryland, no dia seguinte ao desaparecimento do cachorrinho, em junho, quando de repente seu iPhone começou a tremer.

Em mensagens de texto ameaçadoras, com palavrões e erros de digitação, uma pessoa afirmava que mantinha Avery refém e mandou um vídeo do cãozinho marrom e preto dentro de uma jaula. Avery pareceu desesperado quando levantou sua cabecinha peluda e olhou para a câmera.

Imagem mostra Semaj Witherspoon ao lado do seu yorkshire, Avery, após o resgate do cão. Avery foi sequestrado por adolescente em Maryland, nos EUA Foto: Bill O'Leary/Washington Post

A conversa foi pontuada por uma ameaça de matar Avery e um pedido de resgate: “vocês não terão o cachorro de volta sem pagar 1.200, sem gracinha”.

Witherspoon foi vítima de um crime que parece em alta em todo o país: sequestro de cães. A polícia não costuma manter estatísticas de roubos de animais de estimação separadamente em relação ao outros roubos, mas os números mais recentes levantados por uma afiliada do Clube Canino dos EUA, que registra dados sobre os bichos, mostram que sequestros de cães aumentaram 30% no terceiro trimestre de 2022 em comparação ao mesmo período do ano anterior.

Enquanto abrigos de animais estão lotados de cachorros colocados para adoção, especialistas afirmam que a vigorosa demanda por raças puras e sua baixa oferta, assim como cães de design, como pomskies, shihpoos e maltipoos, estão criando um lucrativo mercado de revenda em que cachorros roubados podem valer milhares de dólares.

Certas vezes, os crimes têm chegado às manchetes com violência surpreendente — uma passeadora de cães de Maryland teve um braço quebrado durante o roubo de um havanês em fevereiro; uma intensa troca de tiros ocorreu entre uma criadora da Flórida e ladrões de cães no fim de 2021; e o passeador dos cachorros de Lady Gaga foi baleado em Los Angeles quando criminosos sequestraram os buldogues franceses da artista naquele mesmo ano, um caso muito mais noticiado.

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Mas com cada vez mais frequência donos de cães relatam crimes silenciosamente devastadores, que deixam vazios espaços interiores anteriormente preenchidos por membros amados das famílias. “É como perder um filho”, afirmou Witherspoon a respeito do desaparecimento de Avery, em junho.

A maioria dos cães roubados nunca é recuperada, mas o que se seguiu no caso de Avery foi um improvável esforço de descobrir a identidade da sequestradora. A iniciativa uniu Witherspoon, vizinhos, jornalistas da TV, policiais e um ex-operador de inteligência do Corpo de Fuzileiros Navais — que ofereceu as habilidades que aprimorou em campos de batalha do Iraque para capturar combatentes da Al-Qaeda. “Eu vou conseguir recuperar seu cachorro”, dizia Witherspoon a Semaj, com mais esperança do que convicção.

Witherspoon afirmou que, desesperada, sentiu que não tinha outra alternativa a não ser os meios de comunicação. Na segunda-feira seguinte ao roubo de Avery, ela apareceu diante da câmera do noticiário do Channel 7 e disse à reportagem que aquele cachorrinho “é tudo” para sua família, enquanto fotos do cãozinho peludo atravessavam a tela. “Quero Avery de volta”, pediu ela, com Semaj ao seu lado, no jardim frontal de sua casa.

Rick Machamer viu a entrevista. Machamer, que vive em Arlington, afirmou que vinha se incomodando com as notícias recentes sobre sequestros de cães na região. “Eu tenho dois cachorros”, afirmou Machamer, dono de um elkhound norueguês e um lulu da Pomerânia. “Não consigo nem imaginar minha reação se alguém roubasse um deles, especialmente se me mandassem sua foto em uma jaula.”

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Machamer afirmou que serviu na Guerra do Iraque capturando insurgentes e colhendo sinais de inteligência para o Corpo de Fuzileiros Navais. Ele disse que se sente honrado por ter participado de operações que ajudaram a capturar combatentes e líderes da Al-Qaeda na Província de Al-Anbar. Hoje ele dirige uma empresa de inteligência corporativa, a Dark Ember, realizando pesquisa de oposição para campanhas políticas e outras sondagens.

Machamer disse ter notado que o resgate tinha sido pedido pelo telefone. Esse número era uma pista crucial — ele imaginou que poderia ser capaz de rastreá-lo colocando em prática suas singulares habilidades. A reportagem de TV mostrou um panfleto de “cão desaparecido” com o telefone de Witherspoon, então Machamer enviou-lhe uma mensagem de texto oferecendo sua ajuda. Witherspoon concordou rapidamente e mandou para ele o vídeo gravado pela câmera instalada na porta de sua casa, o número de telefone usado no pedido de resgate e outras evidências.

Machamer começou a trabalhar. Ele disse que confrontou o número de telefone com um banco de dados online, mas o número não tinha registro. Ele usou um software para tentar extrair os dados de geolocalização do vídeo de Avery na jaula, mas não havia nenhum. Ele disse que até leu algumas avaliações de clientes de salões de cabeleireiro próximos à residência de Witherspoon, esperando encontrar a sequestradora, já que a maneira que ela pintava o cabelo era bastante peculiar. Mas fracassou novamente.

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Machamer afirmou que tentou um último truque: Ele colocou o número de telefone da sequestradora em seus contatos no iPhone, que estavam ligados à sua conta no Instagram. Ele sabia que o Instagram provavelmente recomendaria que ele seguisse qualquer conta associada àquele número. Machamer afirmou que pesquisou no Google até encontrar um post em rede social a respeito daquele cachorro.

A postagem mostrava uma foto da polícia conversando com uma família a respeito do cão, incluindo uma pessoa parecida com a sequestradora registrada pela câmera instalada na porta da casa de Witherspoon. A foto mostrava também o endereço da residência em que a imagem foi registrada.

Machamer ficou empolgado. Ele não estava 100% certo, mas pensou que poderia ter identificado a sequestradora.

Machamer preocupava-se com a possibilidade da publicidade em torno do caso poder levar os criminosos a vender Avery rapidamente ou se livrar dele. Um outro cão, roubado em Washington DC, no ano passado, foi encontrado morto em uma casa abandonada em Maryland. “Era necessário pressa”, afirmou Machamer.

Quatro dias depois de Avery desaparecer, Witherspoon recebeu informações de que uma pessoa que vivia na casa identificada por Machamer estava por trás do sequestro do cachorro. Ela retransmitiu tudo o que ouviu para um policial. Dois dias de espera agonizante se seguiram.

Finalmente, Witherspoon recebeu um telefonema de um detetive do Departamento de Polícia do Condado de Príncipe George que lhe disse: “Estou com Avery”. “Estou a caminho”, respondeu Witherspoon.

A polícia local afirmou que o cachorro foi localizado em Landover, na residência que Machamer identificou, e que uma adolescente de 16 anos foi acusada pelo roubo. Segundo a polícia, a jovem admitiu envolvimento no roubo e na tentativa de extorquir dinheiro de Witherspoon — e admitiu ser culpada anteriormente ao julgamento. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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