Brics amplia bloco e convida seis países; Argentina e Irã farão parte do grupo

Irã, Arábia Saudita, Egito, Argentina, Etiópia e Emirados Árabes foram aprovados para ingressar no grupo a partir de 1º de janeiro de 2024

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Por Felipe Frazão
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ENVIADO ESPECIAL A JOHANNESBURGO - A Cúpula do Brics oficializou nesta quinta-feira, 24, que vai ampliar o bloco. O grupo decidiu convidar formalmente seis países para se tornarem novos membros, disse o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa: Arábia Saudita, Argentina, Emirados Árabes Unidos, Egito, Irã e Etiópia.

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A Indonésia, antes na lista, pediu de última hora para que o processo fosse adiado. A quantidade é menor do que os 23 países que haviam pedido adesão.

A expansão é o principal resultado da 15ª Cúpula do Brics. O debate sobre a expansão do Brics, que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, esteve no topo da agenda durante as reuniões em Johannesburgo. A cúpula termina nesta quinta.

A escolha dos países se deu por meio de lista, atendendo a critérios políticos e de representatividade populacional, econômica e regional. A surpresa foi a inclusão de um sexto país, a Etiópia, que não constava na lista de prioridades apresentada por Rússia, China, Índia e África do Sul. O Brasil não fez uma lista, mas trabalhava a favor da Argentina.

Da esquerda para a direita: O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o chinês Xi Jinping, o sul-africano Cyril Ramaphosa, o premiê indiano Narenda Modi e o chanceler russo Serguei Lavrov no encontro do Brics Foto: Gianluigi Guercia/AP

Os países convidados terão de cumprir com algumas condições para participar do grupo a partir de 1º de janeiro de 2024. Com isso, o Brics passará a reunir 46% da população mundial e um PIB equivalente a 36% em paridade de poder de compra.

Impulsionada pela China, a decisão é histórica e marca a primeira vez que o bloco é expandido em grupo. A única expansão anterior ocorreu 12 anos atrás, com o ingresso da África do Sul.

Embaixadores interpretaram que a China quis patrocinar a nova expansão - de 23 países candidatos, seis entraram - por causa das disputas geopolíticas com os Estados Unidos e como forma de tornar o Brics economicamente mais representativo que o G7, que ganhou coesão política e novo protagonismo com a guerra na Ucrânia.

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“A filiação desses países é um marco histórico, mostra a determinação de união e cooperação com outros países em desenvolvimento. Essa expansão é um novo ponto de partida para cooperação entre o Brics pois nos dará mais vigor e fortalecerá a paz e o desenvolvimento mundial. O futuro é muito positivo para os países do Brics”, disse o presidente chinês Xi Jinping.

O anfitrião Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul, negociou para a inclusão de um país da região subsaariana, de onde vinham diversos convidados. Ramaphosa voltou a insistir no tema durante um jantar de líderes, na noite de quarta-feira, 23.

Embaixadores avaliam que seria um problema diplomático para a África do Sul o fato de nenhum país da região ter sido incluído, já que todos os líderes africanos foram convidados e boa parte deles compareceu. O tema da 15ª Cúpula do Brics é justamente a parceria com os países africanos.

A inclusão da Etiópia se justifica, segundo diplomatas, pelo fato de o país ser a segunda maior população da África. O país é sede ainda da União Africana.

A edição de 2024 da cúpula deve incluir os antigos membros (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e os novos (Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã).

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Resistência do Brasil

Ficou para a próxima cúpula, na Rússia, a discussão sobre a possível criação de uma nova categoria de participação no bloco já que, ao todo, 23 países haviam pedido para ingressar.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que era o mais resistente à expansão, disse que o Brics continuará aberto a novos candidatos e, por isso, foi importante aprovar os critérios de adesão. “A presença, aqui, de dezenas de líderes do Sul Global mostra que o mundo é mais complexo do que a mentalidade de Guerra Fria que alguns querem restaurar. Em vez de aderir à lógica da competição, que impõe alinhamentos automáticos e fomenta desconfianças, temos de fortalecer nossa colaboração”, disse Lula.

Principal conselheiro de Lula na política externa, o embaixador Celso Amorim havia dito que primeiro deveriam ser escolhidos os países, em seguida os critérios. Mas a diplomacia brasileira trabalhou para inclusão de gestões ao Brasil nos fóruns multilaterais.

Lula durante sessão plenária da 15ª Cúpula do Brics em Johannesburgo, África do Sul Foto: Gianluigi Guercia/AP

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, disse que o Brics devem trabalhar para que os demais também se tornem membros. “Fico satisfeito que nossas equipes tenham acordado padrões, critérios norteadores e procedimentos a serem tomados na expansão e com base nesses concordamos em abrir o bloco”, disse Modi.

Maior incentivadora da expansão, a China pediu que o processo fosse acelerado. “Gosto de ver o entusiasmo dos países em desenvolvimento com o Brics. Um grande número deles pediu para participar da cooperação com o Brics e precisamos fazer bom uso e acelerar o processo de expansão do bloco para incluir um número maior de países na família do Brics”, disse Xi Jinping.

“Sim, presidente Xi, eu também apoio a expansão plena do Brics. Conforme já articulado por todos os membros do Brics. Estamos no momento onde expandiremos a família porque será por meio dessa expansão que poderemos ter um bloco mais forte para sobreviver aos tempos turbulentos que vivemos”, reagiu o anfitrião, o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa.

A Rússia, por sua vez, buscava ampliar relações internacionais que se fecharam após a invasão do país vizinho no Leste Europeu. Isolado em Moscou, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse que o bloco sofre “O Brics não está competindo com ninguém, nem em oposição a ninguém. A emergência dessa nova ordem mundial ainda tem opositores fortes que vão tentar desacelerar esse processo. Países fazem de tudo para preservar a ordem global existente com a qual estão confortáveis, porque os beneficia, tudo isso para agirem como quiserem, de acordo com o interesse de alguns Estados. É o colonialismo numa embalagem nova”, disse Putin.

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