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Em meio à guerra na Ucrânia, dois militares ucranianos tiram uma folga para dizer ‘sim’ no altar

O casamento foi organizado por uma entidade de caridade que fornece uniformes, botas e outros itens básicos para soldadas, mas que em razão da demanda começou a celebrar matrimônios

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Por Cassandra Vinograd

THE NEW YORK TIMES - O noivo não parava de beijar a noiva. Ele a beijou quando ela caminhava para o altar e durante a cerimônia, a beijou após pronunciar seus votos e quando ambos finalmente disseram “sim”.

O noivo, Maksim Merezhko, de 43 anos, e a noiva, Yuliia Dluzhinska, de 39, servem ao Exército ucraniano e viajaram de Donetsk, no leste da Ucrânia, para Kiev na véspera da cerimônia. O casal não tinha tempo a perder.

Depois de uma lua de mel de três dias nos Cárpatos, Dluzhinska afirmou: “Agora nós vamos para a guerra”.

Yuliya Dluzhynska e Maksym Merezhko em sua cerimônia de casamento em Kiev  Foto: Laura Boushnak / NYT

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A celebração foi oferecida gratuitamente ao casal pela entidade de caridade Zemliachki, termo que significa “Mulheres Compatriotas” em língua ucraniana, que fornece uniformes, botas e outros itens básicos para militares mulheres, mas que, em razão da demanda, começou a organizar celebrações matrimoniais. Os noivos tinham se casado no papel dias antes, assinando uma licença de matrimônio num salão lotado em Sloviansk; mas queriam celebrar de verdade.

“Organizar um casamento demanda muito tempo, e quando você está na linha de frente, não consegue arrumar esse tempo”, afirmou Kseniia Drahaniuk, cofundadora da Zemliachki.

Tudo vem de doações — o vestido, o salão da cerimônia, as fotos, as flores, o cabelo e a maquiagem da noiva, as alianças, o bolo e, também, a lua de mel — o que poupa os casais de gastos significativos e do estresse do planejamento.

No dia do casamento, Dluzhinska colheu peônias brancas para seu buquê antes de rumar para o salão cintilantemente iluminado.

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Usando uma jaqueta camuflada e bebendo um energético “NonStop Military Edition”, ela emanava serenidade enquanto duas mulheres faziam um penteado em seu cabelo loiro. “Ele nunca me viu arrumada desse jeito”, afirmou Dluzhinska sobre o noivo. “O sonho dele é me ver de vestido e maquiada.”

Yuliya Dluzhynska, médica de combate ucraniana, é arrumada antes de seu casamento com um colega soldado em Kiev, em 11 de julho de 2023.  Foto: Laura Boushnak / NYT

Mas quando foi questionada a respeito do que mais amava em seu futuro marido, ela se derreteu: “Amo tudo nele”, respondeu Dluzhinska, sem conseguir conter as lágrimas, fazendo suas esteticistas se apressarem para retocar a maquiagem borrada.

O casal se conheceu três anos atrás, por meio de um aplicativo de namoro, e logo começou a planejar a vida junto. Mas quando a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro de 2022, Merezhko, que era reservista, se apresentou ao Exército para lutar. Cerca de um mês depois, Dluzhinska se alistou, como paramédica, para estar perto do então namorado.”Ela deixou tudo para trás e foi para a guerra comigo”, afirmou ele.

Na cerimônia do casamento, organizada em um salão de eventos com rooftop com vistas para Kiev, azaleias de pano formavam um arco branco. Treze cadeiras brancas foram dispostas em fileiras, apesar dos únicos convidados serem uns poucos voluntários da Zemliachki.

Música ucraniana tocou até a noiva despontar na entrada do salão, trajando um vestido branco que deixava seus ombros à mostra. Então começou a tocar “All of Me”, interpretada por John Legend - e vieram os beijos.

Em seus votos, Merezhko arrancou risadas dos convidados ao contar que usou cuecas sujas no primeiro encontro com a noiva. Os votos dela, pronunciados em tom quase inaudível, duraram menos de um minuto.

Yuliya Dluzhynska veste-se antes de seu casamento com um colega soldado em Kiev Foto: Laura Boushnak / NYT

“Quando você disse, ‘Eu quero envelhecer com você’, eu me dei conta do tamanho desse grande amor, percebi que você era o homem que eu tinha pedido a Deus”, sussurrou ela em lágrimas.

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Mesmo em seu dia especial, a guerra não esteve longe das mentes do casal.

A cerimônia terminou com um grito de “Slava Ukraini” - Glória à Ucrânia! O bolo era decorado com uma bandeira ucraniana. A champanhe vinha de uma safra vintage, de 2021, produzida na cidade devastada de Bakhmut.

“Nós sobreviveremos”, disse Merezhko, radiante, após a cerimônia. “Nós teremos nossos filhos e netos. E nós seremos babás dos nossos netos. Eu vou ensinar meus netos a pescar e plantar batatas.”

Depois da lua de mel, o casal retornaria para a linha de frente em Donetsk. Dluzhinska expressou um desejo mais simples para seu futuro. “O principal é sobreviver”, afirmou ela. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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