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EUA admitem que menores separados dos pais na fronteira sofreram problemas psiquiátricos

Relatório do Departamento de Serviços de Saúde e Humanos do país responsabiliza política de 'tolerância zero' do governo Trump

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - O governo dos Estados Unidos admitiu nesta quarta-feira, 4, que os menores imigrantes separados dos parentes ao cruzar a fronteira do país no ano de 2018 sofreram problemas psiquiátricos, como estresse pós-traumático, durante o período que ficaram afastados.

Menina hondurenha de 2 anos separada da mãe no Texas: foto foi capa dos principais jornais americanos e se tornou ícone da política de Trump Foto: John Moore/Getty Images/AFP

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O Escritório do Inspetor Geral do Departamento de Serviços de Saúde e Humanos (HHS, na sigla em inglês), encarregado de supervisionar o trabalho da agência, revelou em um relatório - datado de terça-feira e divulgado nesta quarta-feira - que os menores sofreram problemas graves de saúde mental.

Diante deste cenário, o comitê supervisor recomendou o governo americano a contratar mais profissionais especializados em cuidados psiquiátricos.

O relatório afirma que as mudanças na política migratória do país em 2018, principalmente as medidas de "tolerância zero" promulgadas pelo presidente americano, Donald Trump, "exacerbaram estas preocupações".

Tais medidas resultaram em períodos mais longos dos menores sob a custódia do Escritório de Reassentamento de Refugiados (ORR, na sigla em inglês) e em um rápido aumento no número de menores, muitos deles separados dos pais.

Os EUA colocaram em prática no ano passado uma política de "tolerância zero" com relação à imigração, que representou o afastamento de milhares de menores dos pais após chegarem à fronteira.

A estratégia incluía "processar" 100% dos imigrantes ilegais detidos ao atravessarem a fronteira ilegalmente e separá-los dos filhos caso viajassem com eles.

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Trump encerrou essa política em junho de 2018, após a decisão de um juiz federal, e ordenou que o governo mantivesse juntos as crianças e os pais ou parentes em centros de detenção.

Como mostrou reportagem do Estado de junho de 2018, uma imigrante brasileira afastada por 9 meses do filho de 14 anos era uma das autoras de uma ação coletiva contra a política de Trump. 

Criança em centro de detenção de imigrantes em Tucson, Arizona Foto: Mandel Ngan/AFP

Após entrevistar 100 médicos especialistas em saúde mental que trabalharam com os menores separados, o comitê entendeu que a grande "quantidade de casos" registrados limitou a efetividade dos médicos para atender as necessidades dos menores. "O Escritório de Reassentamento de Refugiados deve desenvolver estratégias para superar os obstáculos para contratar e reter médicos qualificados em saúde mental e considerar a carga máxima de casos", disse o comitê nas suas conclusões. Além disso, o órgão supervisor afirmou que a ORR "deve proporcionar aos estabelecimentos um guia sobre como abordar o trauma no tratamento a curto prazo" com a meta de diminuir as consequências dos problemas psiquiátricos no futuro.

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Esta análise é o primeiro relatório substancial de uma agência governamental sobre como a separação parental sob a política de "tolerância zero" do governo Trump afetou a saúde mental dos menores.

Os pesquisadores compareceram a 45 instalações de dez estados durante agosto e setembro de 2018 e entrevistaram cerca de 100 médicos de saúde mental que tiveram interações regulares com os menores. No período das entrevistas havia cerca de 9 mil menores nos centros estabelecidos pelo governo. De acordo com dados oficiais, quase 85% tinham entre 13 e 17 anos, 13% de 6 a 12 anos, e 2% tinham até 5 anos. / EFE

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