EUA dizem que assessores enganam Putin sobre reveses russos na guerra da Ucrânia

Relatórios de inteligência apontam que o presidente russo parece não ter informações precisas sobre o desempenho de seus militares e o impacto das sanções ao país

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Por Redação
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WASHINGTON - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, tem sido mal informado por seus assessores sobre os resultados militares russos na Ucrânia, de acordo com um relatório da inteligência dos Estados Unidos revelado nesta quarta-feira, 30. Por medo de represálias, os conselheiros estariam sendo otimistas nos relatórios sobre o conflito.

A inteligência, citando várias autoridades americanas, mostra o que parece ser uma tensão crescente entre Putin e o Ministério da Defesa, inclusive com o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, que já foi um dos membros mais confiáveis do Kremlin.

Falando em Argel, o secretário de Estado americano Antony Blinken reconheceu que Putin recebeu informações pouco verdadeiras de seus assessores. “Um dos calcanhares de Aquiles das autocracias é que você não tem pessoas nesses sistemas que falam a verdade ao poder ou que têm a capacidade de falar a verdade ao poder”, disse Blinken. “E acho que isso é algo que estamos vendo na Rússia.”

Outras autoridades americanas disseram que o rígido isolamento de Putin durante a pandemia e a disposição de repreender publicamente os conselheiros que não compartilham suas opiniões criaram um grau de cautela, ou mesmo medo, nos altos escalões das forças armadas russas. Autoridades acreditam que Putin tem recebido relatórios incompletos ou excessivamente otimistas sobre o progresso das forças russas, criando desconfiança em seus assessores militares.

Presidente russo, Vladimir Putin, em evento por videoconferência de um gabinete no Kremlin Foto: Mikhail Klimentyev

Putin parecia genuinamente inconsciente de que os militares russos estavam usando recrutas na Ucrânia e que soldados recrutados estavam entre os mortos em ação, de acordo com autoridades americanas. A ignorância de Putin mostrou “uma clara interrupção no fluxo de informações precisas para o presidente russo”, segundo uma autoridade dos EUA, que falou sob condição de anonimato. Há “agora uma tensão persistente” entre Putin e o Ministério da Defesa, disse a autoridade.

A avaliação da inteligência americana também sugere que Putin tinha um entendimento incompleto sobre como as sanções ocidentais foram prejudiciais à economia russa, disseram autoridades.

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O governo americano espera que a divulgação da descoberta possa ajudar Putin a reconsiderar suas opções na Ucrânia, de acordo com uma autoridade dos EUA. O funcionário não estava autorizado a comentar e falou sob condição de anonimato.

A guerra continua indo mal para as forças russas. As forças armadas da Ucrânia não apenas se mantiveram firmes, mas também começaram a contra-atacar. Algumas autoridades americanas acreditam que altos funcionários russos são cautelosos em fornecer avaliações verdadeiras – potencialmente com medo de que os mensageiros de más notícias sejam responsabilizados pelas falhas no campo de batalha.

Os tropeços dos militares russos erodiram a confiança entre Putin e seu Ministério da Defesa. Embora Shoigu tenha sido considerado um dos poucos conselheiros em quem Putin confiava, o prosseguimento da guerra na Ucrânia prejudicou o relacionamento.

Putin decretou prisão domiciliar para dois altos funcionários da inteligência por fornecer informações de baixa qualidade antes da invasão, algo que pode ter contribuído ainda mais para o clima de medo.

Com as evidências da frustração de Putin crescendo, os Estados Unidos vêm desenvolvendo nas últimas semanas um caso de inteligência de que ele não estava recebendo avaliações precisas do Ministério da Defesa e de outros altos funcionários. As autoridades americanas acreditam que Putin continua sendo enganado e que os principais conselheiros não estão dispostos a dizer a verdade.

Quais são as fontes da inteligência americana no Kremlin é um segredo bem guardado. Mas desde que a Rússia começou a aumentar suas tropas ao longo das fronteiras da Ucrânia no ano passado, as autoridades de inteligência dos EUA previram com precisão os movimentos de Putin.

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Tropas pró-Rússia em Mariupol, Ucrânia Foto: Alexander Ermochenko/Reuters

As forças russas anunciaram uma mudança de postura em torno de Kiev na terça-feira, 29, embora autoridades americanas tenham manifestado ceticismo a possibilidade de a Rússia estar interrompendo seus ataques como um gesto de paz.

Em vez disso, alguns acreditam que os movimentos são mais um sinal de que a Rússia está ajustando sua estratégia fracassada. Também é possível que a mudança de estratégia seja um sinal de disfunção e falta de comunicação nos escalões superiores do Ministério da Defesa russo.

Nesta quarta-feira, forças russas atacaram áreas ao redor da capital ucraniana e outra cidade durante a noite, disseram líderes regionais. Segundo o Pentágono, nas últimas 24 horas, algumas tropas russas nas áreas ao redor de Kiev se moveram para o norte em direção à Belarus.

O secretário de imprensa do Pentágono, John Kirby, disse em entrevistas à CNN e à Fox Business que os EUA não veem isso como uma retirada, mas como uma tentativa da Rússia de reabastecer e reposicionar as tropas./AP e NYT