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Usina nuclear tomada pela Rússia na Ucrânia: Entenda os riscos

Ataque à unidade causa preocupação sobre um possível acidente como em Chernobyl; incêndio atingiu área, mas não foi registrado nenhum dano aos reatores

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Foto do author Levy Teles

O exército russo capturou a usina nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia, a maior da Europa e a nova maior do mundo, nesta sexta-feira, 4. O bombardeio russo causou um incêndio no complexo — o que causou preocupação de um desastre nuclear — que foi contido. O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, acusou a Rússia de "terrorismo nuclear" após o registro do incêndio na área.

Fumaça foi vista em construção na entrada da unisa nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia, a maior da Europa. Foto: State Emergency Services of Ukraine/Handout via REUTERS

Entenda mais sobre:

A usina

A usina nuclear de Zaporizhzhia foi construída entre 1984 e 1995, é a maior da Europa, tem seis reatores e possui a capacidade de produzir aproximadamente 6 mil megawatts em sua capacidade máxima, energia suficiente para abastecer cerca de 4 milhões de casas ucranianas.

Imagem capturada de um vídeo em que um objeto brilhante cai no chão na usina nuclear de Zaporizhzhia. Foto: Zaporizhzhia nuclear power plant via AP

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A usina de Zaporizhzhia fica próxima da cidade de Enerhodar e está a 550 km ao sudeste da capital Kiev e a 525 km ao sul de Chernobyl, local do mais trágico acidente com energia nuclear no mundo, que também foi tomado por forças russas.

O quão dependente a Ucrânia é da energia nuclear?

A Ucrânia é muito dependente de energia nuclear. 15 reatores em quatro usinas fornecem cerca de metade da energia elétrica do país.

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Existe uma ameaça de desastre radioativo?

Tony Irwin, professor associado honorário da Universidade Nacional Australiana, que atuou na operação de usinas nucleares no Reino Unido por três décadas, disse ao The Guardian que as chances de explosão, fusão nuclear ou liberação radioativa são baixas.

Ele disse que os reatores de água pressurizada, como em Zaporizhzhia, são “muito mais seguros” do que os reatores de Chernobyl e não pareciam estar danificados ainda. Os reatores têm grandes contenções de concreto e sistemas de proteção contra incêndio, segundo Irwin.

À Al Jazeera, Henry Sokolski, diretor executivo do Centro de Educação de Políticas de Não Proliferação, disse que essas usinas nucleares “nunca foram projetadas para estar em uma zona de guerra e não são capazes de lidar com vulnerabilidades inerentes a uma zona de incêndio. 

Um perigo em unidades como essa é que as piscinas que refrigeram as varetas de combustível possam ser atingidas em bombardeios, o que poderia expelir material radioativo. 

Najmedin Meshkati, professor de engenharia da Universidade do Sul da Califórnia, que estudou os desastres de Fukushima e Chernobyl, disse à AP que o maior problema é sobre o fornecimento de energia para a própria usina. 

O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, Rafael Grossi, se ofereceu para viajar à usina de Chernobyl e negociar com Ucrânia e Rússia para prover garantias de segurança às unidades nucleares do país invadido. Foto: Lisa Leutner/AP Photo

Em caso de baixa no fornecimento, a usina pode depender de geradores a diesel, que não são confiáveis e podem gerar um apagão, impedindo a circulação de água para o resfriamento do combustível.

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“Essas plantas nunca foram projetadas para estar em uma zona de guerra e não são capazes de lidar com as vulnerabilidades inerentes a uma zona de incêndio”, disse, à Al Jazeera.

Há alguma negociação para cessar-fogo em usinas nucleares? 

Além do posicionamento de lideranças globais como os presidentes de Estados Unidos e Japão, Joe Biden e Fumio Kishida, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, se ofereceu para viajar à usina de Chernobyl e negociar com Ucrânia e Rússia para prover garantias de segurança às unidades nucleares do país invadido.

O que aconteceu?

Um incêndio começou na usina após bombardeio de tropas russas, segundo o que foi informado logo na madrugada de sexta-feira pelas autoridades ucranianas.

Ainda na madrugada ucraniana, o Serviço Emergencial do Estado Ucraniano informou que a radiação da usina estava em níveis normais e que o fogo ainda não apresentava uma ameaça, já que foi registrado que o incêndio era num prédio na área externa da usina.

Às 4 da manhã, o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, publicou um vídeo no Twitter em que afirma que a Europa “precisa acordar”. “Eles sabem onde atirar e estavam se preparando para isso”, disse. Ele ainda afirmou que falou com as principais lideranças europeias e com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) sobre o acidente.

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O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, chamou a ação russa de 'terrorsimo nuclear'. Foto: Ukrainian Presidential Press Service/Handout via REUTERS

Mais tarde, Zelenski falou com o presidente americano, Joe Biden, que condenou o ataque e pediu cessar-fogo para que os bombeiros pudessem conter as chamas. Além disso, o líder da Ucrânia falou com o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, em que, segundo Zelenski, ambos acordaram na gravidade das ameaças à segurança global sobre o "terrorismo nuclear" russo em Zaporizhzhia.

De acordo com a agência ucraniana de emergência, em publicação no Facebook, o incêndio foi apagado às 6h20.

O diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, confirmou a informação de que nenhum reator foi atingido pelos mísseis ou foi atingido de alguma forma e que nenhum material radioativo foi expelido. De todos os seis reatores, disse Grossi, apenas um está funcionando, com 60% da capacidade. Duas pessoas que fazem parte da equipe de segurança da usina foram feridas.

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