O debate sobre apropriação musical não é novo mas o que parece ser questionado aqui é o limite ético da apropriação e a falta de crédito próprio, no rarefeito mundo da música erudita americana em que instituições sem fins lucrativos premiam um pequeno número de compositores com comissões de música supostamente original.
(Alex Ross Foto: Divulgação)
O crítico Alex Ross, autor de O Resto é Ruído (Companhia das Letras R$ 72,00) e Escuta Só (Companhia das Letras, R$ 49,50), foi um dos primeiros a escrever sobre a obra de Osvaldo Golijov, neste ensaio de 2001. Aqui uma observação em nome da transparência: Depois de ler o ensaio, procurei Ross e o convidei a a participar de um especial de TV sobre Golijov, que estava produzindo em 2002 ele concordou mas, como decidimos que Golijov seria entrevistado em seu espanhol nativo, Ross ficou fora do programa no GNT. Dez anos depois, procurei o crítico da New Yorker para ouvir sua opinião sobre o compositor que ele apresentou para um público maior. Alex Ross diz ao Estado:
"Como alguém que foi um profundo admirador da Obra de Golijov no passado, considero estes últimos acontecimentos perturbadores. Sabíamos que ele incorporava outras vozes e colaboradores em sua música, mas fazia isto de maneira mais aberta. Eu tenho um problema com a possibilidade de algo ter sido escondido dos ouvintes. Além do debate sobre o quanto Golijov é o autor de uma peça, o resultado não tem sido particularmente bom ou à altura de seu trabalho anterior. Houve cancelamentos de premières por composições não concluídas a tempo. Ou composições, como é o caso de Sidereus, muito mais curtas do que se espera de uma comissão. Eu espero sinceramente que, este compositor que admiro, recupere sua energia criativa e nos dê peças da escala de sua obra anterior, como La Pasión Según San Marcos.
A história da música clássica é cheia de "empréstimos" mas os fins justificam os meios quando o resultado é uma grande obra que emerge do processo. Ao mesmo, tempo, nós vivemos num mundo de leis de copyright que existem para que se respeite a propriedade intelectual. Então não acho correto comparar nosso mundo ao mundo de Beethoven ou de compositores que incorporavam elementos de outros em suas obras. O importante hoje, é deixar bem claro para o público a origem de um trabalho."