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‘Menina do Napalm’ trata últimas queimaduras 50 anos após foto-símbolo da Guerra do Vietnã

Kim Phuc Phan Thi foi fotografada nua e em desespero aos 9 anos depois de ser atingida por napalm; foto se tornou mundialmente conhecida como símbolo dos horrores da guerra

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Por Redação
Atualização:

Kim Phuc Phan Thi foi transformada em um símbolo dos horrores da guerra aos 9 anos, quando um carregamento de napalm a atingiu e o fotógrafo Nick Ut, da Associated Press, capturou o momento em que ela, criança, corria desesperada e nua nas ruas do Vietnã. Junto com a foto, que se tornou uma das mais conhecidas do mundo, as queimaduras causadas pelo napalm a acompanharam durante 50 anos, mas chegaram ao fim nesta semana: aos 59 anos, Kim Phuc concluiu o tratamento de regeneração de pele.

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A vietnamita foi salva pelo próprio Nick Ut, que largou a câmera após a foto, envolveu-a em um coberto e a levou para o hospital. Phuc passou mais de um ano se recuperando dos ferimentos e cresceu com dor crônica e movimentos limitados.

Sobre as consequências psicológicas das queimaduras, ela descreveu em um artigo para o New York Times, publicado em junho: “Tentei esconder minhas cicatrizes sob minhas roupas. Tive ansiedade e depressão horríveis. As crianças na escola fugiam de mim. Eu era uma criança que despertava pena para os vizinhos e, até certo ponto, para meus próprios pais. À medida que envelhecia, temia que ninguém jamais me amasse.”

Imagem mostra Kim Phuc durante o tratamento a laser em uma clínica em Miami, na Flórida, na terça-feira, 28. Após 50 anos, as sequelas das queimaduras causadas pela Guerra do Vietnã foram curadas Foto: Lynne Sladky/AP

Foram necessárias 12 sessões de tratamento a laser para que a pele dela se regenerasse por completo, eliminando as cicatrizes e as dores restantes. O procedimento foi feito em uma clínica especializada no Miami Dermatology and Laser Institute, na Flórida, segundo a NBC 6 South Florida.

Em Miami, ela também se encontrou com Nick Ut, que recebeu o prêmio Pulitzer pela foto e a salvou. Ele tinha 21 anos quando se deparou com Kim Phuc e outras crianças fugindo da fumaça e do fogo, logo após um ataque aéreo. “Posso dizer, 50 anos depois, que estou feliz por Nick ter capturado aquele momento, mesmo com todas as dificuldades que aquela imagem criou para mim”, escreveu a vietnamita no mesmo artigo do NYT citado anteriormente.

“A ideia de compartilhar as imagens da carnificina, especialmente de crianças, pode parecer insuportável - mas devemos enfrentá-las. É mais fácil se esconder das realidades da guerra se não vemos as consequências”, acrescenta.

Kim Phuc minutos antes da última sessão para queimaduras na terça-feira, 28, na Flórida Foto: Lynne Sladky/AP

Apesar de ter se tornado um dos maiores símbolos dos horrores da guerra, a fotografia de Nick Up quase não foi publicada pela Associated Press. Segundo o próprio fotógrafo conta, Carl Robinson, um dos editores da Associated Press, disse que não poderia utilizá-la por causa do nu frontal de uma criança, que fere o código de ética da empresa. Os chefes voltaram atrás antes que a foto fosse arquivada e no dia seguinte a imagem estampou os jornais do mundo inteiro.

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Diversos protestos pacifistas se intensificaram após a imagem: em Londres, Paris, Tóquio, Washington. Talvez não tenha mudado de fato os rumos da guerra – desde 1968, a maioria dos americanos já estava insatisfeita com o conflito –, mas tem uma importância inestimável nos significados que as guerras ganharam.

Nick Ut ganhou o Prêmio Pulitzer pela foto aos 22 anos. Na manhã que fotografou Kim Phuc, viu as costas descamadas da garota - o napalm adere à pele, queima os músculos e funde os ossos - e chorou. Correu na direção da menina, pegou-a nos braços e levou-a até o carro da Associated Press. Duvidou que ela chegasse viva ao hospital de Cu Chi.

Imagem mostra Kim Phuc Phan Thi, nua, no centro da foto, ao lado de outras crianças vítimas da Guera do Vietnã. Foto de Nick Ut, tirada em 08 de junho de 1972, virou ícone antiguerra  Foto: Nick Ut/AP

Durante o trajeto, a menina de 9 anos, balbuciava: “Estou morrendo. Estou morrendo”. Mas Kim sobreviveu. Meio século depois ela agora vive no Canadá, onde estabeleceu a Kim Foundation International, que oferece assistência médica a crianças vítimas da guerra. Constantemente ela viaja a países devastados pela guerra.

Em entrevista à CBC no mês passado, ela disse: “Não sou mais vítima da guerra. Eu sou um sobrevivente. Sinto que há 50 anos, fui vítima da guerra, mas 50 anos depois, era uma amiga, uma ajudante, uma mãe, uma avó e uma sobrevivente clamando pela paz.”

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