‘Penso que teremos melhores alternativas em 2024′, diz Mike Pence após Trump lançar candidatura

Ex-vice presidente dos EUA afirmou que eleitores deram sinal de que buscam mudança durante as midterms e especulou sobre caminhos do Partido Republicano

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Por Jill Colvin

NOVA YORK - O ex-vice-presidente dos EUA Mike Pence disse na quarta-feira, 16, que os eleitores estão “procurando uma nova liderança” após as decepcionantes eleições de meio de mandato para os republicanos, que agora estão debatendo abertamente se seu ex-chefe, Donald Trump, deve manter um papel de liderança no partido.

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Em entrevista à Associated Press poucas horas depois de Trump anunciar outra candidatura à Casa Branca, Pence se recusou a dizer se acha que o ex-presidente está apto a retornar ao antigo cargo. Mas se posicionou implicitamente como uma alternativa potencial para os republicanos que buscam uma liderança conservadora sem o caos da era Trump.

“Eu penso que teremos melhores alternativas em 2024″, disse Pence. “Estou muito confiante de que os eleitores das primárias republicanas escolherão sabiamente.” Ele disse que ele e sua família se reunirão durante os feriados de fim de ano “e consideraremos sinceramente qual pode ser nosso papel nos próximos dias”.

Ex-vice de Trump, Mike Pence afirmou que partido deve ter opções melhores em 2024. Foto: John Minchillo/ AP

Questionado se culpava Trump pelas derrotas republicanas desta semana, ele disse: “Certamente os esforços contínuos do presidente para relitigar a última eleição desempenharam um papel, mas... cada candidato é responsável individualmente por sua própria campanha”.

Pence, enquanto considera uma campanha presidencial própria, tem aumentado sua visibilidade ao promover seu novo livro de memórias, “So Help Me God” (sem edição em português), que foi lançado no mesmo dia em que Trump oficializou sua candidatura à Casa Branca. Se Pence decidir seguir em frente, ele estará em competição direta com Trump, uma colisão particularmente embaraçosa para o ex-vice-presidente, que passou seus quatro anos no cargo defendendo Trump, recusando-se a criticá-lo publicamente - até depois de 6 de janeiro de 2021.

Foi quando uma multidão de apoiadores de Trump - impulsionada pela mentira de Trump de que Pence poderia de alguma forma rejeitar os resultados da eleição - invadiu o prédio do Capitólio enquanto ele presidia a certificação da vitória do democrata Joe Biden. O vice-presidente foi levado para um local seguro com sua equipe e família enquanto alguns na multidão gritavam: “Enforquem Mike Pence!”

Ainda assim, Pence permaneceu bastante reticente em criticar Trump além da insurreição. Essa hesitação reflete a realidade de que o ex-presidente continua extremamente popular com a base do Partido Republicano, que Pence precisaria conquistar para ser competitivo nas primárias.

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“Não era exatamente o estilo de Presidência que eu teria promovido se fosse o primeiro nome na votação”, disse Pence sobre sua improvável parceria com Trump. “Mas era a Presidência dele e eu estava lá para apoiá-lo e ajudá-lo. E, até aquele fatídico dia de janeiro de 2021, eu buscava fazer exatamente isso.”

Apesar das pressões de Donald Trump e da invasão do Capitólio, Mike Pence certificou a vitória eleitoral de Joe Biden em 6 de janeiro de 2021. Foto: Erin Schaff via Reuters

Pence disse que não assistiu ao discurso de anúncio completo de Trump na terça-feira, mas argumentou que os eleitores estão procurando uma direção nova e menos controversa.

“Você sabe, o presidente tem todo o direito de se candidatar novamente”, disse ele. Mas, depois de viajar pelo país em campanha com candidatos de meio de mandato, “Tenho a sensação genuína de que o povo americano está procurando uma nova liderança que possa unir nosso país em torno de nossos ideais mais elevados e que reflita o respeito e a civilidade que o povo americano mostra uns aos outros todos os dias, enquanto continua avançando as políticas que nós avançamos durante esses anos de serviço”, disse ele.

O lançamento da campanha de Trump ocorre em um momento em que os republicanos lidam com as consequências das eleições nas quais não conseguiram obter o controle do Senado e estão a caminho de obter apenas a maioria estreita na Câmara. Esses resultados ocorreram apesar das profundas preocupações dos eleitores com a inflação e a direção do país sob o democrata Biden.

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Trump endossou uma longa lista de candidatos em Estados competitivos, incluindo Pensilvânia e Arizona, que perderam suas disputas nas eleições gerais. Embora Pence tenha dito estar satisfeito pelos republicanos estarem ganhando a Câmara, ele reconheceu que a eleição “não foi exatamente a onda vermelha que todos esperávamos”.

“Minha conclusão”, disse ele, “é que os candidatos estavam focados no futuro, focados nos desafios que o povo americano está enfrentando hoje e as soluções para esses desafios se saíram muito bem”. Mas aqueles que ainda questionam os resultados de 2020 - como exigiu Trump - “não se saíram tão bem”.

Em seu novo livro, Pence escreve em detalhes sobre sua experiência em 6 de janeiro e expôs na quarta-feira.

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“Nunca esquecerei a indignação latente que senti naquele dia, vendo aquelas imagens nos celulares enquanto nos reunimos na doca de carregamento abaixo da câmara do Senado. Não pude deixar de pensar nisso, não aqui, não na América”, disse ele.

Na entrevista, ele relembrou sua reação aos tuítes de Trump “que me criticaram diretamente em um momento em que um motim estava acontecendo nos corredores do Capitólio”.

“As palavras do presidente foram imprudentes e colocaram em perigo minha família e todos no prédio do Capitólio”, disse ele. “O presidente decidiu fazer parte do problema. Eu estava determinado a fazer parte da solução.”

Questionado sobre quais consequências Trump deveria enfrentar por suas ações, no entanto, Pence respondeu.

“Isso depende do povo americano”, ele disse acreditar. “Eu realmente acho. E veja, sempre terei orgulho do histórico do governo Trump por quatro anos e meio. O presidente Trump não era apenas meu presidente. Ele era meu amigo. E trabalhamos juntos para promover as políticas para as quais fomos eleitos.”

“Não acabou bem”, reconheceu, em um eufemismo. “E aquele trágico dia de janeiro sempre será um dia de grande tristeza para mim, uma tristeza pelo que aconteceu com nosso relacionamento, pelo mau conselho que o presidente estava aceitando de um grupo de advogados que, como escrevo em meu livro, nunca deveria ter sido permitido no terreno da Casa Branca, muito menos no Salão Oval”.

Mike Pence e Donald em comício no Michigan, em 2020; ex-vice disse ter permanecido fiel ao presidente por acreditar que foi eleito para um projeto, mesmo com discordâncias. Foto: Doug Mills/The New York Time

Pence e Trump sempre foram uma dupla estranha - uma celebridade rude e pugilistica de Nova York e um evangélico sério do meio-oeste que uma vez escreveu um ensaio sobre os males da campanha negativa e que, via de regra, diz que não jantará sozinho com uma mulher que é não sua esposa. Questionado sobre por que ele raramente falava quando Trump lançava insultos profundamente pessoais contra figuras como o falecido senador John McCain, Pence disse, na verdade, que era para isso que ele havia se inscrito.

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“Como seu vice-presidente, acreditava que era meu papel ser leal ao presidente”, disse ele. “E assim, a cada passo do caminho, do jeito que eu entendi, acredito que fui eleito vice-presidente para apoiar a Presidência que Donald Trump foi eleito para promover.”

De fato, Pence escreve no livro que, mesmo depois de 6 de janeiro, os dois homens “se separaram amigavelmente quando nosso serviço à nação chegou ao fim”.

“E nas semanas que se seguiram, de tempos em tempos, ele me ligava para falar e checar”, disse Pence na entrevista. “Mas quando ele voltou a criticar a mim e a outros que defenderam a Constituição naquele dia, decidi que seria melhor seguir caminhos separados. E [é o que] nós temos [feito].”

Questionado sobre por que ele se separaria “amigavelmente” de Trump, dadas as ações do presidente - incluindo sua decisão de não ligar para Pence para verificar sua segurança enquanto o motim estava em andamento - Pence disse acreditar que o presidente estava genuinamente arrependido quando se encontraram pela primeira vez. vez após o dia 6.

“No restante de cerca de 90 minutos, sentamos, conversamos. Fui muito direto com o presidente. Deixei claro para ele que acredito ter cumprido meu dever naquele dia e senti um remorso genuíno da parte dele”, lembrou Pence. “O presidente e eu construímos não apenas uma boa relação de trabalho, mas também uma amizade ao longo de quatro anos e meio. Trabalhamos juntos literalmente todos os dias. Mas ele era diferente naquela época. Eu o encorajei a levar o assunto seriamente.”

Quanto aos seus planos para o futuro, enquanto todos perguntam se ele planeja concorrer, ele e sua família se reunirão durante as férias “e consideraremos sinceramente qual pode ser nosso papel nos próximos dias”./ AP

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