A polícia invadiu na manhã de ontem o apartamento de vários dos principais ativistas russos, numa aparente tentativa de intimidar a oposição um dia antes do protesto planejado para hoje em Moscou. Os líderes da oposição foram intimados a se apresentar para serem interrogados hoje, o que significa que não poderão participar da demonstração que organizaram. As buscas foram realizadas dois dias depois da entrada em vigor de uma nova lei contra os protestos. A lei, aprovada às pressas a fim de impedir a manifestação, aumenta em 120% as multas para quem a infringir. As incursões desencadearam uma avalanche de comentários na rede Twitter, nas quais elas foram comparadas aos brutais expurgos de Stalin em 1937 - quando agentes do regime chegavam no meio da noite, pessoas desapareciam e os vizinhos fingiam que não viam. A expressão "Alô 1937" rapidamente se espalhou pelo Twitter. Alexei Navalny, que participa da cruzada contra a corrupção, tuitou enquanto sua casa estava sendo invadida. Mandou fotos dos policiais que vasculhavam o quarto de seus filhos e confiscavam uma camiseta com o slogan que ele havia criado. A frase diz que o partido do presidente Vladimir Putin, Rússia Unida, é o Partido dos Pilantras e dos Ladrões. Um grupo de repórteres e de simpatizantes reuniu-se na porta do prédio, onde dois policiais impediam o ingresso e montavam a guarda armados com fuzis semiautomáticos. As autoridades informaram que estavam sendo realizadas dez buscas do gênero, como parte das investigações em consequência de um confronto ocorrido entre policiais e manifestantes em 6 de maio. Membros da oposição comentaram ontem que as buscas só atrairiam a adesão dos indecisos para a marcha de hoje. "Não faz mal", tuitou Ilya Varlamov, fotojornalista e blogueiro. "As buscas serão úteis para os protestos de terça-feira, revelando os indecisos. E de qualquer maneira eles não encontrarão nada". O movimento de protesto nasceu em dezembro com a indignação provocada pelas eleições parlamentares que foram consideradas fraudadas. A elas seguiu-se a eleição presidencial de março, que levou Putin de volta à presidência para um mandato de seis anos. / THE WASHINGTON POST
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.