SEUL - O primeiro-ministro da Coreia do Sul, Han Duck-soo, e altos funcionários do gabinete da presidência ofereceram-se para renunciar após o partido governista ter sido derrotado pela oposição nas eleições parlamentares. Os números também levaram o líder do partido, Han Dong-hoon, a deixar o cargo.
Frente à derrota, o presidente Yoon Suk Yeol, que começa a ser chamado de “pato manco”, expressão usada para líderes com pouco ou nenhum poder de fato, prometeu reformas para os próximos três anos de mandato.
“O primeiro-ministro Han expressou sua intenção de renunciar”, disse um alto funcionário presidencial aos repórteres citado pela agência Yonhap.
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De acordo com o gabinete da presidência, citado pela Associated Press, além de Han, conselheiros presidenciais sênior, com exceção dos responsáveis por assuntos de segurança, também apresentaram sua renúncia. Ainda não foi divulgado se o presidente aceitou as demissões.
O líder do partido, por sua vez, pediu desculpa ao povo coreano por “falhar em ser escolhido”. Ex-ministro da Justiça e confidente de Yoon, Han liderava a campanha eleitoral do Partido do Poder Popular (PPP) desde o fim de dezembro. “Assumo total responsabilidade pelos resultados das eleições e deixo meu cargo”, disse nesta quinta.
A oposição manteve o controle da Assembleia Nacional, conquistando 187 das 300 cadeiras: o Partido Democrático (centrista) viu seu número aumentar de 156 para 175 assentos, enquanto o recém-fundado Partido da Nova Reforma (reformista), comandado pelo controverso (e condenado por vários processos) ex-ministro da Justiça Cho Kuk, aproveitou o descontentamento com os dois principais partidos para abocanhar 12 assentos. Já o PPP e seus satélites passaram de 114 cadeiras para apenas 108.
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‘Dura advertência’
Apesar da vitória esmagadora, a oposição ficou aquém da “supermaioria” de 200 cadeiras — que daria poderes para derrubar vetos presidenciais, fazer emendas à Constituição e abrir um processo de impeachment. Por outro lado, os números consagraram Yoon como o primeiro presidente sul-coreano cujo partido não controlou o legislativo em nenhum momento de seu mandato. A derrota representou a “maior crise política” do presidente desde que assumiu, disse o jornal diário conservador Chosun Ilbo.
Yoon esperava que o PPP obtivesse a maioria no Parlamento e levasse adiante sua agenda conservadora, bloqueada por sua fraqueza na Assembleia, que inclui reformas planejadas para o sistema de saúde — apoiadas pelos eleitores, mas que provocaram uma greve incapacitante dos médicos — e a promessa de abolir o Ministério da Igualdade de Gênero.
“A eleição é uma dura advertência do público que forçará Yoon a mudar de rumo e a cooperar com a oposição se não quiser ser um líder sem peso durante o resto do seu mandato”, explicou Chae Jin-won, da Faculdade Humanitas da Universidade Kyung Hee, à AFP.
O analista destacou que a posição do presidente é precária e que, caso não consiga encontrar uma maneira de trabalhar com a oposição, há uma “probabilidade de impeachment, que algumas frações do partido governista podem acatar em nome de seu próprio futuro político”.
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Promessa de reformas
Yoon, de 63 anos, adotou uma linha dura com o Norte, que possui armas nucleares, ao mesmo tempo em que melhorou os laços com Washington e com o Japão, antigo ocupante colonial. Apesar disso, não é amado pelos eleitores, muitos deles irritados com a desigualdade, uma economia oscilante, os altos preços das moradias e o desemprego entre os jovens do país.
Ataques também foram lançados pela oposição após o presidente ter descrito o preço da cebolinha, alimento básico da culinária coreana, como “razoável”, e a divulgação de um vídeo no qual a primeira-dama, Kim Keon-hee, aparece aceitando uma bolsa de grife no valor de US$ 2.200. Frente à advertência emitida através dos votos, Yoon prometeu reformas ao povo sul-coreano:
“Honrarei humildemente a vontade do povo expressa nas eleições gerais, reformarei os assuntos de Estado e farei o máximo para estabilizar a economia e a vida das pessoas” disse o presidente, de acordo com o seu chefe de gabinete, Lee Kwan-sup.
Revanche de Lee
As eleições também ofereceram uma revanche tardia para o líder da oposição Lee Jae-myung, de 60 anos, que perdeu por pouco as eleições presidenciais de 2022 para Yoon e foi esfaqueado no pescoço durante a campanha.
“Esta não é a vitória do Partido Democrático, mas uma grande vitória para o povo”, disse o ex-operário de fábrica nesta quinta aos jornalistas, acrescentando. “Os políticos de ambos os lados devem unir forças para enfrentar a atual crise econômica. O Partido Democrático liderará o caminho para resolver a crise”.
Lee conquistou apoio para políticas que incluem doações em dinheiro para jovens adultos, uniformes escolares gratuitos e assistência à maternidade, e a vitória pode significar outra chance para tentar um cargo mais alto. Seus críticos, porém, o chamam de populista e alertam para uma série de alegações de corrupção que pairam sobre ele, as quais descartou como sendo de motivação política.
“Os desafios que Lee e o DP enfrentam atualmente se escondem mais no longo prazo do que no curto prazo. O apoio popular que o partido está obtendo atualmente se baseia no descontentamento geral com Yoon. Resta saber se o apoio popular poderá ser mantido”, observou Byunghwan Son, professor da George Mason University. /AFP e AP