WASHINGTON - No início da pandemia de covid-19, as prescriçõespara o medicamento hidroxicloroquina nos Estados Unidos aumentaram 86% em um mês, depois de ter sido promovida por comentaristas conservadores e pelo presidente Donald Trump como um possível "presente do céu", segundo um estudo publicado nesta segunda-feira, 6, pela revista Jama.
O medicamento, utilizado contra a malária e doenças como lúpus e artrite reumatoide, foi o mais politizado durante a pandemia. Quando começou a crise, foi fortemente defendido pelo médico francês Didier Raoult e nos Estados Unidos por partidários de Trump e os apresentadores da Fox News.
Essa droga foi a primeira a receber, no fim de março, uma aprovação de emergência da Administração de Drogas e Alimentos dos Estados Unidos (FDA). Porém, perdeu sua aprovação após seguidas advertências sobre seus efeitos colaterais e depois de importantes estudos revelarem que o remédio era ineficaz contra a covid-19. No fim de maio, a França proibiu o seu uso para os pacientes com coronavírus.
Antes de ser autorizado nos hospitais dos Estados Unidos especificamente, os médicos nas cidades do país tinham a liberdade para prescrever esse medicamento para qualquer situação, como ocorre com os medicamentos aprovados pelo órgão regulador. Muitos teriam feito isso a pedido de seus pacientes, provavelmente como uma forma de se prevenir erroneamente contra o coronavírus.
O número de americanos receitados com a hidroxicloroquina aumentou em 86% entre fevereiro e março de 2020, passando de 367 mil para 684 mil, segundo os dados de faturamento de 48,9 mil farmácias dos Estados Unidos que cobrem quase todo o mercado.
No caso da cloroquina, o aumento foi de 159%, mas esse afetou a poucos pacientes, apenas 6 mil.
Os dados mostram que o "coquetel" promovido por Raoult, a saber, a hidroxicloroquina e o antibiótico azitromicina, gerou uma demanda extraordinária: de 8 mil pacientes em fevereiro que tomaram os medicamentos juntos, passaram para mais de 100 mil em um mês, um aumento de 1.044%.
Esse duplo tratamento foi muito defendido por Trump em um tuíte de 21 de março em que citava um estudo muito pequeno de Raoult, muito criticado por sua metodologia. / AFP