A captura de dois soldados norte-coreanos que lutam ao lado dos russos na guerra contra a Ucrânia revelou detalhes importantes de como os homens de Kim Jong-un encaram um confronto armado, como estão usando o conflito para melhorar sua capacidade de combate e as vantagens obtidas por Pyongyang em sua aliança com Moscou.
Envolvida no conflito entre Rússia e Ucrânia, a Coreia do Norte tem se beneficiado da guerra para treinar os seus soldados e receber do governo russo torpedos e tecnologia para a fabricação de drones, informou uma reportagem publicada pelo jornal The Guardian no sábado, 18. A Coreia do Norte também espera receber dados de espionagem de satélites militares russos e mísseis ar-ar, segundo o jornal.
Em 11 de janeiro, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, afirmou que dois soldados da Coreia do Norte foram capturados. Foi a primeira detenção de combatentes norte-coreanos confirmada desde que Kim Jong-un passou a enviar tropas para apoiar Vladimir Putin na guerra.
De acordo com o The Guardian, 12 mil soldados da Coreia do Norte se juntaram à Rússia. Os combatentes recebem uniformes, rifles e documentos militares e nomes falsos. Os norte-coreanos foram registrados como tendo nascido na região de Tuva, que abriga uma população de aparência asiática na Sibéria.

Os dois norte-coreanos encontrados feridos foram levados para Kiev para serem interrogados pela agência de inteligência da Ucrânia e da Coreia do Sul.
Segundo o Guardian, um dos capturados é o sargento Lee Jong-nam, de 25 anos. Ele ingressou no Exército em 2016 de Pyongyang e fez a sua primeira missão de combate no conflito em 8 de janeiro. Foi ferido na mandíbula.
O segundo capturado não foi identificado, mas o presidente da Ucrânia compartilhou imagens do soldado no hospital. Ainda de acordo com o líder ucraniano, o soldado disse que não sabia que estava participando da guerra e pensava que era um exercício de treinamento.
De acordo com a Ucrânia, os soldados norte-coreanos foram criados “em um vácuo de informação”. Um general ucraniano que assistiu ao conteúdo de propaganda de um iPad norte-coreano disse que “quem o assiste pensa que a Coreia do Norte é o melhor país do mundo.”
Zelenski também disse que os soldados da Coreia do Norte estão sendo utilizados para prolongar a guerra.
O líder ucraniano acusou uma suposta aliança de estados autocráticos, que teria entrado na guerra. Eles foram apelidados de Crink: China, Rússia, Irã e Coreia do Norte. Pyongyang envia soldados, mísseis balísticos e obuseiros. Teerã ofereceria drones kamikaze. Pequim venderia componentes microeletrônicos usados em sistemas de armas e é um parceiro político.
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A captura dos dois norte-coreanos também ajuda Zelenski a reformar um discurso de que a guerra não apenas contra a Rússia, mas contra vários estados autoritários, como China, Irã e Coreia do Norte.
O oficial Vitalii Ovcharenko, que luta desde o início do conflito, afirmou que a captura dos norte-coreanos criou um clima de curiosidade entre os combatentes, com pedidos de selfies dos soldados ucranianos, segundo o Guardian.
As tropas norte-coreanas estão ganhando experiência valiosa na guerra do século 21. O major-general Vadim Skibitski, da Ucrânia, disse que eles estavam aprendendo com seus erros.
No início, eles avançavam em grandes grupos por campos nevados, mas não devem fazer mais isso. Eles estão aprendendo novas táticas e como lutar em um ambiente de drones. Aqueles que sobreviverem voltarão para casa como instrutores militares, disse o ucraniano.
Alguns soldados ucranianos classificaram os norte-coreanos como lutadores desesperados enviados pela Rússia em missões suicidas, mas outros militares disseram que alguns são organizados e bons atiradores. Segundo um oficial ucraniano entrevistado pelo Guardian, os russos se escondem quando veem drones, mas os norte-coreanos tentam derrubá-los. Eles entendem a guerra combinada, com infantaria, aviões e tanques.
No conflito com a Ucrânia, o chefe-adjunto do departamento de Inteligência da Ucrânia, Vadim Skibitski, disse que os norte-coreanos são motivados, mesmo com as baixas no conflito, e que preferem se explodir a serem capturados. Segundo a inteligência da Coreia do Sul, já são 300 mortos e 2,7 mil feridos nos combates na Europa.