Trump chega como favorito a New Hampshire e pode liquidar primárias republicanas antes do esperado

Estado de tradição mais moderada será ‘tudo ou nada’ para Nikki Haley no primeiro enfrentamento direto com o ex-presidente após a desistência de Ron DeSantis

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Por Jéssica Petrovna
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As pesquisas para as primárias republicanas em New Hampshire nesta terça-feira, 23, apontam para a mesma direção: Donald Trump tem ampliado a vantagem sobre Nikki Haley, a única rival que ainda pode desafiá-lo, e parece caminhar para mais uma vitória. Se confirmadas as previsões, ele deve ser escolhido para representar o partido Republicano na corrida à Casa Branca pela terceira vez consecutiva - e mais cedo que o esperado, ainda que enfrente uma série de problemas na Justiça criminal e contestações legais à sua candidatura.

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Segundo a média do agregador de pesquisas FiveThirtyEight, o ex-presidente tem 50,8% das intenções de voto enquanto a ex-governadora da Carolina do Sul aparece com 36,6% na véspera do que será o primeiro embate direto entre Haley e Trump. E, para ela, New Hampshire é tudo ou nada.

O Estado tem tradição política mais moderada e uma particularidade na legislação eleitoral que permite a participação de independentes nas primárias, público no qual Haley tem vantagem. Esse é considerado um terreno favorável para ela, que tenta capturar o eleitor receoso com a volta de Donald Trump ao poder e, justamente por ser considerada a sua melhor oportunidade, a eventual derrota tem tanto potencial para abalar a campanha.

Pré-candidata à presidência pelo partido Republicano Nikki Haley fala com apoiadores em New Hampshire, 22 de janeiro de 2024.  Foto: JOSEPH PREZIOSO / AFP

“Para Nikki Haley, New Hampshire é decisivo”, afirma o professor do departamento de ciência política do Berea College Carlos Gustavo Poggio. “Esse é o primeiro e um dos poucos Estados em que ela tem alguma chance de ir bem. Porque tem eleitores com perfil mais independente o que, teoricamente, favorece Haley. Se nesse eleitorado favorável ela não conseguir ter uma boa performance, será uma pá de cal na candidatura”, explica.

Haley, que chegou a reduzir a distância de Trump para um dígito em New Hampshire, busca com a votação de hoje um impulso antes da primária do seu Estado, a Carolina do Sul, onde já foi governadora. A votação está marcada para 24 de fevereiro.

Na tentativa de mostrar a rival isolada, Donald Trump consolidou em torno de si o apoio dos republicanos que representam a Carolina do Sul no Congresso nacional. Os dois senadores e cinco dos seis deputados escolheram ele em detrimento da conterrânea. O governador do Estado, o republicano Henry McMaster, também.

No esforço para conter Donald Trump, ela subiu o tom e questionou a aptidão mental do ex-presidente. “A preocupação que tenho, e não estou dizendo nada depreciativo, é a de que quando estamos lidando com as pressões de uma presidência, não podemos ter outra pessoa da qual duvidamos que seja mentalmente capaz de fazê-lo”, disse em New Hampshire no fim de semana.

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Trump, por sua vez, chegou a promover uma teoria racista contra rival e aludir à falsa alegação de que Haley, nascida nos EUA, seria inelegível para presidência porque os seus pais imigrantes indianos não eram cidadãos americanos quando ela nasceu.

Desistência de Ron DeSantis e impacto na disputa

No primeiro grande teste, em Iowa, o ex-presidente conquistou uma vitória recorde com 51% dos votos e 30 pontos percentuais à frente do segundo colocado, o governador da Flórida Ron DeSantis (21%). Haley, por sua vez, amargou o terceiro lugar com 19%. Às vésperas da votação em New Hampshire, no entanto, DeSantis suspendeu a campanha e declarou apoio a Trump - padrinho político com quem passou a rivalizar depois de ganhar projeção nacional.

Para Carlos Gustavo Poggio, a desistência de Ron DeSantis surpreende por ter ocorrido tão cedo. Ele disputou apenas a primeira das prévias antes de largar a toalha, o que pode indicar a pressão dos seus financiadores de campanha depois da vitória expressiva de Donald Trump. E a imprensa americana alerta que o mesmo pode ocorrer com Nikki Haley, se as pesquisas se confirmarem.

Donald Trump discursa durante campanha em New Hampshire, 21 de janeiro de 2024.  Foto: AP / Charles Krupa

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Antes mesmo de desistir, DeSantis aparecia como um distante terceiro colocado em New Hampshire e havia decidido focar esforços na Carolina do Sul. Esse eleitorado que o apoiava, no entanto, é mais propício a votar em Donald Trump, e pode garantir a vantagem que ele precisa para liquidar as prévias antes do esperado.

“A segunda escolha dos eleitores de DeSantis é Donald Trump”, aponta Poggio. Embora o ex-presidente tenha, em média, 50% dos votos em New Hampshire, algumas pesquisas dão para ele vantagem ainda maior, na casa dos 60%. “Se isso acontecer, me parece que vamos ter o fim desse processo de primárias muito antes do esperado, com Trump simplesmente passando o rolo compressor”, acrescenta. “Vamos descobrir se, de fato, Donald Trump se confirma como o dono do partido”, conclui.

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