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Um dia com 'Nicolasito', o filho de Maduro que quer ser deputado

Candidato promete dialogar com opositor Juan Guaidó, parlamentar pelo mesmo Estado

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Por Redação
Atualização:

VENEZUELA - Centenas de pessoas desafiam a quarentena e ocupam uma rua estreita no centro de La Guaira, um Estado costeiro perto de Caracas para o qual ‘Nicolasito’, filho do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, quer ser eleito deputado nas eleições de 6 de dezembro.

No final da rua, entre empurrões e o calor sufocante do domingo à tarde, simpatizantes do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) - grupo fundado pelo presidente Hugo Chávez em 2007 para reunir forças de esquerda, e nas quais ‘Nicolasito’ atua, - ouvem o jovem lançar grandes promessas.

Nicolás Maduro Guerra, fiho do presidente venezuelano Nicolás Maduro. Foto: Miguel Gutiérrez/EFE

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Nicolasito pretende defender, no Parlamento, uma lei para transformar a região, que abriga um dos portos mais importantes do país e vários dos resorts favoritos de Caracas, em um pólo de desenvolvimento econômico.

Mas eles também o ouvem conter o aparente êxtase do presente, que o vê como o melhor intermediário entre eles e as obras públicas que o governo de seu pai poderia aprovar para a região que não escapa da crise venezuelana.

"Não vou te dizer que um dia após a eleição vamos puxar uma varinha mágica e resolver os problemas da Venezuela”, destaca, antes de esclarecer que o chavismo tem "um plano" para tirar o país da grave crise econômica em que entrou há mais de cinco anos.

No domingo, ‘Nicolasito’, ou Nicolás Maduro Guerra, chamado assim por quase ninguém, não só faz discursos na frente dos apoiadores, mas também visita bairros pobres e assiste à missa.

Em Ciudad Chávez, uma comunidade em que quase 4 mil famílias lutam para sobreviver em meio a uma grave crise econômica que o país atravessa,‘Nicolasito’ observa a noite chegar, enquanto dezenas de pessoas se aproximam para entregar cartas com solicitações, conhecidas como "papelitos" na política cotidiana na Venezuela.

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Nicolasito em ato de campanha em La Guaira, Venezuela. Foto: Miguel Gutiérrez/EFE

“Quem recebe os pedidos?”, pergunta uma mulher desesperada apoiadora de Maduro que desaparece antes que alguém possa responder. 

Perto dela, outra mulher olha com satisfação para a comoção que é formada pela visita de "Nicolasito" a Ciudad Chávez, um projeto urbano criado sob a égide de um programa habitacional do governo de baixo custo, em alguns casos, e gratuito em outros.

“Estou 100% com ‘Madurito’ (como também chamam o filho do presidente)", disse a aposentada Odalys Morales à Efe.

A mulher de 58 anos lembra que, há não muito tempo, morava em uma favela no topo de um morro de La Guaira e que ia dormir temendo que o telhado de sua casa precária caísse sobre si.

“Eu orei a Deus, pedi ajuda a ele para descer daquela colina viva, e aqui estou. Esta é uma benção ainda que com falhas", diz ela em referência ao péssimo desempenho dos serviços públicos na área.

Colado ao meu pai

Depois da visita a Ciudad Chávez, Maduro Guerra conversa com a Efe e diz que não incomoda que o chamem de ‘Nicolasito’ ou ‘Madurito’ e que ele nunca pensou que acabaria virando um político.

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“A política se interessou por mim, a vida me levou a fazer política porque eu sempre fui apegado ao meu pai. Onde ele ia, eu o acompanhava", afirma.

Antes de entrar na arena política, Nicolasito formou-se como um "economista social", uma carreira cujo currículo era desenhado pelo próprio Hugo Chávez na tentativa de colocar pessoas e não os números do centro de estudos.

Com esta visão, ‘Nicolasito’ estima que o Governo de seu pai teve "uma gestão extraordinária da economia", se você considerar a conta da pandemia e sanções dos EUA contra empresas e funcionários venezuelanos.

“Toda a estrutura do Estado ficou quase intacta, as universidades continuam a funcionar, os hospitais, com todos os problemas que a gente pode ter, continuam a funcionar e vemos a estrutura social intacta no quadro de uma guerra econômica brutal contra o país”, acrescenta.

Mas os números macroeconômicos pintam um quadro pouco esperançoso para a Venezuela. Segundo dados do Parlamento, o país sai de novembro com 36 meses de hiperinflação.

Enquanto no final de setembro passado, o próprio presidente Maduro reconheceu que o país perdeu 99% de sua receita no últimos seis anos, uma queda que pode ser atribuída ao regime rentista da economia venezuelana e a queda da produção petroleira estatal PDVSA.

"Você pode ver os números macroeconômicos, ver a recessão, mas também vamos ver como o aparato estatal é mantido, como são mantidas as Forças Armadas, forças policiais, educação universitária, educação básica. Isso também faz parte da economia real, da economia de rua”, insiste.

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Da indignação ao diálogo

Há a lembrança que, em 2017, ‘Nicolasito’ ameaçou Estados Unidos com a tomada da Casa Branca se a Venezuela fosse invadida pela administração do presidente Donald Trump.

“Naquele dia fiquei muito indignado e disse o que disse”, aponta. "Talvez um pouco tonto no momento, talvez com a falta de imaturidade do momento, na época, eu tinha apenas 24 para 25 anos. Amadurecido, vejo as coisas de forma diferente ", acrescenta, antes de afirmar que o diálogo é a sua aposta atual.

Diálogo até com o líder da oposição Juan Guaidó, deputado por La Guaira, que 50 países reconhecem como presidente interino da Venezuela.

"Por que não? Por que não poderíamos falar com Guaidó? É ele que nega o diálogo, aqui estamos esperando um bom sinal dessa oposição radical", diz ele sobre o adversário, que rejeita as eleições e pediu para boicotá-las. /EFE

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