Presidente do Zimbábue é reeleito em eleição marcada por denúncias de irregularidades

Com resultado das eleições, partido do atual presidente que foi reeleito, ZANU-P, está no poder desde 1980; oposição diz que vai contestar pleito

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Por Redação

Harare - O presidente do Zimbábue, Emmerson Mnangagwa, foi reeleito para um segundo e último mandato de cinco anos no sábado (26), em um resultado anunciado muito antes do previsto após outra eleição conturbada no país.

Segundo a comissão eleitoral, Mnangagwa obteve 52,6% dos votos, contra 44% do opositor Nelson Chamisa, que fez repetidas denúncias antes e depois da votação, que aconteceu na quarta-feira.

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Emmerson Mnangagwa é do partido ZANU-PF, o mesmo do ex-presidente e ex-primeiro-ministro Robert Mugabe, morto em setembro de 2019 e que comandou o país por quase 40 anos. Por sinal, Mnangagwa assumiu o cargo depois da saída de Mugabe do poder, em 2017.

Apelidado de “crocodilo” por sua paciência e brutalidade, Mnangagwa foi assessor de Mugabe por quase 30 anos, ocupou postos-chave, entre eles o de ministro da Segurança Nacional, e chegou à vice-presidência. Em 2017, quando Mugabe deu sinais de que colocaria sua mulher, Grace, como sucessora, tentou articular um golpe. Foi destituído do cargo em novembro e se exilou. Dias depois, o Exército zimbabuano interveio, derrubou Mugabe e Mnangagwa assumiu.

Durante a campanha, ele foi cobrado por ações para combater a pobreza e a inflação, hoje próxima de 180% ao ano, e agora assume também com a expectativa de obter linhas de crédito do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional.

Emmerson Mnangagwa, atual residente do Zimbábue, é reeleito Foto: Reuters

Além dos discursos, a disputa eleitoral foi marcada por denúncias de uso da máquina do Estado para favorecer Mnangagwa. Lideranças de oposição foram detidas e vários comícios do rival do presidente, Nelson Chamisa, foram vetados com o argumento de que violavam as leis de ordem pública do país. Houve ainda atrasos no dia da votação, e que foram associados a uma tentativa de interferir no processo eleitoral.

Um porta-voz do partido da oposição disse poucos minutos depois de Mnangagwa ter sido declarado vencedor que rejeitaria os resultados como “reunidos às pressas sem a devida verificação”.

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Logo depois do anúncio dos resultados, a oposição disse que não reconheceria a derrota. “Não podemos aceitar os resultados”, disse à AFP Promise Mkwananzi, porta-voz do partido Coalizão de Cidadãos pela Mudança (CCC), de Chamisa.

Nelson Chamisa vota em eleição presidencial; rival de Mnangagwa, ele é representante da Coalizão de Cidadãos pela Mudança (CCC) Foto: Tsvangirayi Mukwazhi / AP

Na terça-feira, o Departamento de Estado dos EUA emitiu um comunicado se dizendo “preocupado” com as alegações de violência política e com as restrições impostas a jornalistas e observadores internacionais. O chefe da missão de observadores da União Europeia, Fabio Massimo Castaldo, disse que a votação aconteceu em meio a um “clima de medo”, e sugeriu que as eleições, que também escolheram os representantes do Legislativo, não foram exatamente limpas e livres.

Além de assegurar a reeleição, Mnangagwa também deve ter maioria no Parlamento: segundo uma projeção da rede estatal ZBC, o ZANU-PF deve ter 101 deputados de um total de 210 cadeiras, enquanto a CCC, principal sigla de oposição, terá 59 cadeiras.

Oposição não aceita resultado

O líder da oposição no Zimbábue, Nelson Chamisa, contestou neste domingo a reeleição do presidente Emmerson Mnangagwa, anunciada oficialmente no sábado, e reivindicou sua própria vitória, após um processo eleitoral marcado por irregularidades.

“Vencemos estas eleições. Somos os líderes. Estamos até surpresos que Mnangagwa tenha se declarado o vencedor. Temos os resultados reais”, anunciou Chamisa, advogado e pastor, candidato da Coalizão de Cidadãos pela Mudança (CCC), em entrevista à imprensa./AP e AFP

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