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Serviços de streaming deixam o futuro da TV cada vez mais confuso

Com parcerias e produções específicas, aplicativos criam lógica fragmentada de programação – e podem fazer consumidor nem conseguir 'economizar' com fim de assinatura de TV paga

Por Kevin Rose
Atualização:
Empresa anunciou que vai investir US$ 8 bilhões em conteúdo em 2018 Foto: Reuters/Mike Blake

Se você for como eu e os milhões de americanos que cancelaram as assinaturas de TV a cabo nos últimos anos, provavelmente está familiarizado com o fenômeno que eu comecei a chamar de “a caçada”.

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É assim: primeiro você decide assistir um de seus programas favoritos – no meu caso, Fixer Upper da HGTV. Você mergulha no seu sofá, liga a TV e conecta seu serviço sob demanda (streaming). Depois você passeia de aplicativo em aplicativo, tentando lembrar qual, entre a meia dúzia de serviços que assina, tem o programa. Era o Netflix? Hum, não. HBO GO? Nada. Hulu Plus? Esse tem as três primeiras temporadas, que você já viu, mas não a quarta.

Finalmente você encontra a quarta temporada na Amazon, mas não está incluída entre os programas gratuitos Prime Video. Custa US$ 2,99 por episódio. A caçada termina com um lamento. Você suspira, resigna-se (aquelas cozinhas não vão se reformar sozinhas) e paga de má vontade US$ 19,99 pela temporada toda.

O que aconteceu com o glorioso futuro da TV, amiga do consumidor? Disseram-nos que a internet nos conduziria a uma era dourada de vídeo por demanda, e que programas e filmes incríveis estariam a um clique de distância, por intermédio de serviços de baixo custo e fáceis de usar. Os pacotes de cabo da Time Warner de US$ 100 por mês que exigiam navegação por meio de um menu bizantino de canais de terceira categoria acabaria sendo um pesadelo distante.

,Em vez disso, nos jogamos de cabeça em uma bela confusão ultrafragmentada, com uma miscelânea de serviços sob demanda que, somados, custam mais e em geral oferecem menos que o antigo pacote por cabo. Existem muitos programas ótimos e filmes sendo feitos, mas encontrá-los está ficando cada dia mais difícil.

Senti outra pontada de nostalgia por TV a cabo na semana passada, quando tanto a Disney quanto o Facebook – empresas bastante diferentes, mas unidas no seu desejo pela nossa atenção – anunciaram grandes medidas para sua próxima geração de estratégias de vídeo. A Disney, que controla algumas das mais valiosas franquias de filmes e programas de TV, abalou Hollywood na semana passada ao anunciar que estava encerrando seu acordo de distribuição com o Netflix e iniciando dois novos serviços sob demanda, sozinha. Um deles, um serviço com conteúdo esportivo sob a marca ESPN, estará disponível no início do próximo ano, enquanto o outro, focado nos filmes e programas da Disney, vai ao ar em 2019.

Um dia depois, o Facebook anunciou o Watch, uma aba dentro do principal aplicativo do Facebook que em breve abrigará uma série de vídeos produzidos profissionalmente. A empresa diz que as pessoas poderão usufruir, por tarifas especiais, programas como Returning the Favor, estrelado pelo apresentador de Trabalho Sujo, Mike Rowe; um reality show sobre casas pequenas; e Bae or Bail que o Facebook descreve assim: “casais desavisados colocam seus relacionamentos e engenhosidade em teste ao serem colocados em cenários apavorantes”.

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A Disney, que montou um negócio imensamente lucrativo que inclui vendas de ingressos de cinema e receita de cabo da ESPN, aposta que um número significativo de clientes pagarão US$ 10 ou US$ 20 por mês para assistir Frozen e acompanhar seus times na NBA, além de já estarem pagando por assinaturas de Netflix, Hulu e Amazon Prime.

Além disso, o Facebook – que ganha o seu dinheiro com publicidade – fornece seus programas de graça. Sua teoria é que quanto mais tempo os usuários do Facebook passarem assistindo os vídeos, mais anúncios verão. O Facebook não tem uma imensa biblioteca de conteúdo popular como a Disney, mas tem preciosidades em dados a respeito dos gostos pessoais e preferências de seus mais de dois milhões de usuários registrados, e supostamente planeja usar esses dados para exibir anúncios exatamente para as pessoas que as companhias querem alcançar.

Mais de US$ 70 milhões por ano são gastos em anúncios na televisão tradicional e no momento em que esse imenso volume de dinheiro se desloca para o vídeo digital, o Facebook quer garantir que uma gorda porção acabe em seus próprios bolsos. É bem provável também que queira substituir o YouTube como o lar dos criadores amadores que podem não produzir programas com qualidade profissional, mais ainda têm grandes e fieis públicos.

Para navegar em meio a tudo isso, um novo serviço surgiu para substituir os TV Guides de antigamente – como Can I Stream It, um mecanismo de busca que dirá a você qual plataforma abriga seu programa favorito – mas não á uma solução para o setor inteiro e não há qualquer simplificação à vista. O Facebook diz que Watch será personalizado para exibir vídeos baseados, em parte, no que os seus amigos estão assistindo, mas encontrar os vídeos certos ainda pode exigir garimpagem.

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“No momento, uma das barreiras para a entrada do consumidor é simplesmente perplexidade”, disse Paul Verna, principal analista de vídeo na eMarketer, uma empresa de pesquisa dos meios de comunicação. “Quanto mais serviços desse tipo existem, mais difícil será conseguir que as pessoas tomem decisões racionais, bem informadas, sobre o que escolher para assinar”.

Uma das razões para esse caos é que o cancelamento de assinaturas está-se acelerando de forma mais rápida que o esperado pelos executivos de mídia. No último trimestre, quase um milhão de americanos desistiram de suas inscrições em serviços de TV paga, segundo uma estimativa de Craig Moffett, analista de meios de meios de comunicação na MoffettNathanson. (O Netflix acrescentou quase a mesma quantidade de assinantes nos Estados Unidos ao mesmo tempo). Jovens, grupo particularmente cobiçado pelos anunciantes, estão-se afastando da TV de forma especialmente rápida. A quantidade de pessoas com menos de 35 anos que assistem TV tradicional caiu pela metade desde 2010, diz Matthew Ball, diretor de estratégia nos Estúdios Amazon.

Números como esses geraram pânico em todo o setor e deram início a dezenas de iniciativas para substituir a receita que vaza para fora do antigo modelo de TV a cabo. O serviço sob demanda da Disney não será o último desse tipo: muito em breve, você será forçado a escolher entre um menu impressionante de aplicativos de streaming e serviços, cada um dos quais com seus próprios preços, interfaces e livrarias em constante mudança de programas e filmes. / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

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