Entenda os motivos que levaram Mark Zuckerberg a demitir 11 mil pessoas

Ano é desafiador para aplicativos Facebook, Instagram e WhatsApp, que sofreram com a concorrência do TikTok, a guerra na Ucrânia e as novas regras da Apple

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Por Guilherme Guerra

As demissões promovidas por Mark Zuckerberg na Meta fizeram da empresa (dona do Facebook, Instagram e WhatsApp) a responsável pelo maior corte de pessoas entre as grandes empresas de tecnologia, totalizando 11 mil pessoas (ou 13% da força de trabalho global da firma).

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Além disso, a companhia deixou o escritório no Infinity Power, no bairro Itaim, em São Paulo, em esforço para reduzir custos também no Brasil. O prédio abriga as sedes de nomes como Apple, Credit Suisse, Goldman Sachs e Bloomberg.

O mau tempo, no entanto, não é de agora. Nos últimos meses, a companhia de Zuckerberg perdeu cerca de US$ 760 bilhões em avaliação de mercado, queda imensa para uma empresa que chegou a fazer parte do “clube do trilhão”, do qual fazem parte a Apple, Microsoft, Google e Amazon.

Abaixo, entenda os motivos que fazem a Meta ter chegado a demitir 11 mil pessoas.

Instabilidade nos mercados

O setor de publicidade é sensível a choques no mercado. A guerra da Ucrânia e a perspectiva de recessão econômica nos Estados Unidos são dois freios ao crescimento de empresas que dependem desse modelo de negócio, como a Meta e o Google.

Além disso, com o fim do isolamento de covid-19, as marcas voltaram a destinar verbas de anúncios para mídia física e eventos, o que enfraquece a fatia de publicidade digital. Inclusive, o rival TikTok, em ascensão nos últimos anos, teve de refazer a operação nos Estados Unidos devido à queda nos anúncios, informou o jornal Financial Times na terça-feira, 8.

Como efeito desse cenário, a Meta registrou queda de 4% na receita dos apps da empresa,

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Muitas contratações durante a pandemia

A Meta cresceu muito nos últimos anos, principalmente na pandemia de covid-19. Segundo documentos regulatórios vistos pelo jornal americano Washington Post, a força de trabalho da empresa cresceu 28% na comparação ano a ano até setembro de 2022, chegando a 87,3 mil pessoas até esta quarta-feira, 9.

Por isso, em qualquer oscilação no mercado, a primeira saída é enxugar o número de funcionários, um dos maiores custos em qualquer empresa.

“Estamos tomando várias medidas adicionais para nos tornarmos uma empresa mais enxuta e eficiente, cortando gastos e estendendo a pausa nas contratações até o primeiro trimestre de 2023″, declarou Zuckerberg em carta aos funcionários.

Pressão da Apple

Em 2021, a Apple implementou uma mudança brusca no iOS 15, o sistema operacional do iPhone lançado no ano passado. Desde então, todos os usuários com um dispositivo da marca deveriam sinalizar em cada aplicativo se gostariam de ser “rastreados” — isto é, que esses apps monitorassem os “passos digitais” (como navegação e outros dados pessoais) em sites terceiros.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Ao optar por não ser rastreado, o usuário impede que o aplicativo use as “pegadas digitais” para segmentar melhor anúncios. Esse formato desafia o modelo de negócio de plataformas como Facebook e Instagram, que, desde o novo iOS, têm de contornar o novo obstáculo para não sofrer impacto na receita gerada a partir de publicidade.

Em fevereiro do passado, a então chefe de operações da Meta, Sheryl Sandberg, sinalizou as dificuldades enfrentadas pelos apps da companhia. “Como outras empresas em nosso setor, enfrentamos ventos contrários como resultado das mudanças no iOS da Apple. A Apple criou dois desafios para os anunciantes: um é que a precisão de nossa segmentação de anúncios diminuiu, o que aumentou o custo de gerar resultados. O outro é que medir esses os resultados se tornaram mais difíceis”, disse.

Ainda na conversa com investidores, o diretor financeiro da empresa, David Wehner, afirmou que a manobra da Apple pode gerar uma perda de, pelo menos, US$ 10 bilhões em receita no ano de 2022 do Facebook.

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TikTok é o principal rival do Facebook e Instagram Foto: Michael Dwyer/AP - 14/10/2022

Concorrência com TikTok

A ascensão do TikTok não é exatamente uma novidade em 2022, mas neste ano o aplicativo não mostra sinais de desaceleração — uma dor de cabeça para Mark Zuckerberg, que vem implementando mudanças principalmente no Instagram para tentar tornar a rede social de fotos em uma plataforma de vídeos, similar ao aplicativo chinês.

Em julho passado, o chefe do Instagram, Adam Mosseri, anunciou diversas mudanças no app que impactam diretamente a usabilidade da plataforma pelos usuários. A decisão pegou mal: hashtags foram subidas nas redes e muitos prometeram abandonar o aplicativo.

Pouco depois, Mosseri voltou à cena e reverteu as mudanças, com a promessa de que o Instagram voltaria com soluções melhores. O movimento acendeu um alerta entre os executivos da Meta, que não querem ver os três aplicativos da empresa perdendo relevância entre usuários.

Isso porque, no primeiro semestre deste ano, os aplicativos da Meta encolheram em número de usuários pela primeira vez na história da empresa — o que ajudou a tombar com as ações da empresa em 3 de fevereiro. Na ocasião, a companhia perdeu US$ 252 bilhões de avaliação de mercado em um único dia, feito inédito para qualquer empresa listada na Bolsa americana.

Avatar de Mark Zuckerberg no metaverso Foto: Reprodução/Meta

Aposta no metaverso

Principal aposta de Mark Zuckerberg, o metaverso ainda não deu frutos. Segundo o último balanço da companhia, referente ao trimestre encerrado em setembro, a divisão Reality Labs apresentou prejuízo de US$ 12 bilhões nos últimos 12 meses, com os custos de operação subindo, conforme a companhia investe mais no setor.

“Esperamos que as perdas em operação dos Reality Labs cresçam significativamente no ano que vem. Depois de 2023, esperamos que os investimentos realizados possam atingir nossa meta de crescimento no longo prazo”, declarou a Meta em nota a investidores.

Os investidores, no entanto, não gostaram das estimativas. Os bancos de investimentos Morgan Stanley, Cowen e KeyBanc criticaram os altos investimentos no metaverso, baixando a recomendação do preço da ação.

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