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Funcionários do Facebook procuram ideias para criar o ‘próximo Twitter’

Aquisição por Elon Musk em outubro passado abriu espaço para que novos rivais surgissem em meio a mudanças no microblog

Por Kalley Huang

THE NEW YORK TIMES / SAN FRANCISCO – No mês passado, funcionários da Meta, a proprietária do Facebook e do Instagram, participaram de uma sessão virtual de brainstorming para discutir como criar o próximo Twitter.

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Entre as ideias mencionadas pelos profissionais da Meta estava um maior uso de um recurso chamado Instagram Notes, onde as pessoas podem compartilhar mensagens curtas no site de compartilhamento de imagens com seus seguidores e amigos, de acordo com os comentários aos quais o New York Times teve acesso. Outros disseram que a Meta deveria criar um aplicativo focado em texto usando a tecnologia do Instagram ou adicionar outro feed a rede. Eles sugeriram nomes para os recursos, como “Realtime”, “Real Reels” e “Instant”.

“O Twitter está em crise e a Meta precisa recuperar seu encanto”, escreveu um funcionário da Meta em um post. “VAMOS TENTAR CONQUISTAR O GANHA-PÃO DELES.”

Há uma disputa para destronar o Twitter e capitalizar em cima do caos provocado pelo novo dono da plataforma, Elon Musk, o magnata da tecnologia que comprou a rede social por US$ 44 bilhões no final de outubro. Desde então, surgiram dúvidas em relação a sobrevivência do Twitter, já que Musk demitiu milhares de funcionários, começou a mudar as regras de conteúdo da plataforma e declarou que a empresa está em uma situação financeira tão terrível que a falência é uma possibilidade.

De olho na oportunidade, todos os tipos de pessoas e empresas têm se jogado para preencher uma possível lacuna. Além dos funcionários da Meta, ex-funcionários do Twitter deram início a projetos que, segundo eles, poderiam levar ao próximo Twitter. Startups como a Post e serviços de nicho como as redes Mastodon e Hive Social também entraram na briga, assim como a plataforma Tumblr.

Alguns desses serviços estão se vendendo como versões menos tóxicas do Twitter, que revogou as suspensões de alguns usuários e reativou contas banidas anteriormente, entre elas a do ex-presidente Donald Trump. Outros estão se posicionando como embaixadores de uma era totalmente nova nas redes sociais.

“A toxicidade em torno do Twitter e parte do comportamento do novo proprietário dele me levam a crer que há uma enorme oportunidade para uma plataforma de microblog com um modelo de negócios diferente”, disse Scott Galloway, um investidor da Post e professor de marketing da Universidade de Nova York. “Há muitas oportunidades neste momento para tirar partido das plataformas de mídia social e as pessoas percebem isso.”

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Debandada

Desde que Musk assumiu o Twitter, alguns usuários famosos disseram que deixariam o serviço, entre eles a apresentadora de talk show Whoopi Goldberg, a produtora Shonda Rhimes e a cantora Sara Bareilles. Outros manifestaram interesse em migrar para serviços alternativos. Não se sabe ao certo quantos usuários o Twitter tem desde que Musk tornou a plataforma uma empresa de capital fechado, mas, segundo ele, o número está crescendo.

“Um número recorde de usuários está logando para ver se o Twitter está morto, o que, ironicamente, está tornando-o mais vivo do que nunca!”, ele tuitou no mês passado.

Musk não respondeu aos pedidos de comentários e a Meta não quis se pronunciar.

Depois da compra do Twitter por Musk, uma alternativa de serviço que ganhou atenção imediatamente foi o Mastodon, conhecido por ser uma rede social federada e funcionar como uma reunião das redes sociais. Criado em 2016 por Eugen Rochko, desenvolvedor de software que hoje tem 29 anos, o Mastodon, por definição, não pode impor políticas em toda a plataforma em relação a quais publicações manter ou remover. E como o código-fonte original do Mastodon está disponível ao público, qualquer pessoa pode criar sua própria versão do serviço.

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Desde o início do mês passado, as contas do Mastodon aumentaram quase 33%, chegando a 6 milhões, de acordo com o Fediverse.party, o guia da plataforma federada. O Mastodon não tem anúncios e continua se mantendo em grande parte por meio de crowdfunding. O serviço contratou mais funcionários e incentivou as pessoas a criarem suas próprias versões dele.

O Mastodon não respondeu aos pedidos de comentários.

No mês passado, a Hive Social, uma rede social fundada em 2019, também mais do que duplicou seu número de usuários, alcançando 1,8 milhão deles. A criadora da plataforma, Raluca Pop, 24 anos, atribuiu parte do crescimento às comunidades de fãs, como os de K-pop e de “Star Wars”, abandonando o Twitter e encontrando um novo lar na Hive Social.

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A pequena empresa está tentando aproveitar o novo interesse para angariar fundos e contratar mais funcionários. O Hive Social é financiada por meio de empréstimos contratados por Raluca Pop, assim como pelos US$ 25 mil de um investidor privado e outros US$ 300 mil de uma campanha de crowdfunding. Ela tem quatro funcionários e espera contratar moderadores de conteúdo e mais engenheiros, disse Raluca.

O timing das mudanças no Twitter é quase perfeito

Raluca Pop, fundadora do Hive

Mas, conforme os novos usuários chegam, também surgem mais dificuldades para a plataforma, entre elas contas com o mesmo nome de usuário e pessoas que não sinalizam conteúdo impróprio para o ambiente de trabalho. Na quinta-feira, o Hive Social interrompeu temporariamente seus servidores para resolver problemas de segurança, disse Raluca.

“O Twitter está passando por muitas mudanças com a nova direção”, disse Raluca. “O timing disso é quase perfeito. Tudo a nosso favor.”

Outras empresas de mídia social mais estabelecidas também começaram a mirar na conquista daqueles saindo do Twitter.

O Tumblr fez uma publicação com “razões para usar o Tumblr” mais ou menos uma semana depois da aquisição do Twitter por Musk. E compartilhou memes e posts da rede sobre pessoas que deixaram o Twitter e foram para o Tumblr. Em seguida, começou a vender “selos de verificação azuis importantes na internet” por US$ 7,99 – o mesmo preço de uma assinatura mensal do Twitter Blue, um serviço promovido por Musk no qual as pessoas pagam por recursos premium, incluindo um selo de verificação.

O número de downloads do Tumblr na App Store, da Apple, aumentou 62% na semana seguinte à aquisição do Twitter por Musk, disse um porta-voz da Automattic, proprietária do Tumblr. A Automattic também publicou vagas de empregos direcionadas a ex-funcionários do Twitter, com as descrições de cargos dizendo que a empresa estava “ciente de que algumas pessoas incríveis foram dispensadas ou não conseguiram continuar trabalhando no Twitter devido às novas exigências de ir para o escritório”.

Rede social Mastodon registrou crescimento no número de usuários após a aquisição do Twitter por Elon Musk Foto: Dado Ruvic/Reuters - 7/11/2022

Lançamentos no mercado

Alguns empresários criaram startups para substituir o Twitter nas últimas semanas. Noam Bardin, ex-CEO da empresa do software de navegação Waze, lançou no mês passado a Post, uma plataforma social focada no compartilhamento de conteúdo jornalístico. A rede tem 350 mil pessoas na lista de espera para poder usá-la e 67 mil contas ativas, de acordo com um e-mail enviado para aqueles que gostariam de participar dela na terça-feira.

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“Queremos permitir que você leia notícias premium de vários veículos”, escreveu Bardin, que não quis se pronunciar, em um post no domingo. Ele disse que financiou pessoalmente a empresa, em conjunto com a Galloway e a empresa de capital de risco Andreessen Horowitz. (A Andreessen Horowitz investiu individualmente na aquisição do Twitter por Musk.)

Gabor Cselle, gerente de produto do Twitter de 2014 a 2016, disse que a compra da empresa por Musk o motivou a desenvolver uma nova versão do serviço com tecnologia moderna. Ele criou um protótipo, o qual está sendo chamado de T2 até o momento, contratou três pessoas e iniciou uma lista de espera.

Por ora, o projeto é autofinanciado. Cselle calcula que seriam necessárias 14 pessoas e US$ 7,5 milhões para criar uma alternativa mais simples ao Twitter.

Muitos ex-funcionários da rede do passarinho estão cheios de vontade de ajudar, disse Cselle. Centenas deles passaram a integrar um grupo no Slack onde discutem as políticas, o modelo de negócio e a tecnologia da T2. Cselle disse que planejava criar uma equipe de confiança e segurança desde o início para definir as regras e normas da plataforma. Além disso, ele pretende mantê-la simples.

“Não vou sair muito do formato conhecido de 280 caracteres”, disse ele. Qualquer coisa diferente disso “pareceria desnecessariamente complicado”.

Musk tem reparado na enorme quantidade de alternativas ao Twitter. No mês passado, ele tuitou pelo menos três comentários grosseiros a respeito do Mastodon antes de excluí-los. Depois que um usuário do Twitter o questionou sobre o crescimento da Hive Social em um tuíte, Musk respondeu: “lmao” (acrônimo para algo como “estou me divertindo horrores”). / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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