Humor faz Mario + Rabbids: Kingdom Battle ser um grande jogo – e acessível

Encontro entre mascotes de Nintendo e Ubisoft em game de estratégia consegue romper barreira do gênero com graça e boa jogabilidade; jogo é item interessante na biblioteca do Switch

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Por Bruno Capelas
Atualização:
Mario + Rabbids é um jogo obrigatório em qualquer coleção do Switch que se preze Foto: Nintendo

Que fique bem claro desde o início: Mario + Rabbids: Kingdom Battle é um dos jogos mais improváveis desde 2017 – no bom sentido. Desde que foi anunciado, durante a conferência da Ubisoft na feira de games E3 por um empolgado Shigeru Miyamoto (o pai de Mario), o jogo chamou a atenção por uma série de fatores. O primeiro é ver Mario e sua turma com os coelhos malucos da Ubisoft, em um encontro não só de personagens, mas de gerações bastante diferentes nos games. 

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O segundo é a escolha por este ser um game de combate e estratégia por turnos, normalmente restrito a um nicho específico de jogadores – que o digam jogos ótimos, mas restritos, como XCOM ou Final Fantasy Tactics. Para encerrar, é ver a centenária Nintendo se despindo do peso de sua tradição sem perder a elegância – uma lição que a japonesa aprendeu ser necessária em 2017 para fazer seu novo videogame, o Switch, um sucesso. 

Houve quem acreditasse que a ideia não fosse dar certo – afinal, havia incógnitas demais dentro de uma equação que poderia ser mais simples. Na tela do Nintendo Switch desde o final de agosto, porém, o que se vê foi outra coisa: um game muito bem humorado e azeitado, capaz não só de agradar os fãs de Mario e de jogos de estratégia, mas também de ser acessível para quase qualquer jogador. 

A premissa do jogo é simples (e até certo ponto, bem boba, o que não é uma novidade para a Nintendo): um acidente com o SupaMerge, um poderoso dispositivo tecnológico capaz de unir dois objetos em um só, vai parar na mão dos atrapalhados Rabbids, que, invadem o Reino do Cogumelo (o tradicional Mushroom Kingdom, comandado pela Princesa Peach) e transformam tudo num caos. 

A situação maluca é aproveitada por Bowser Jr., o filho do tradicional vilão da Nintendo, para atrapalhar a vida de Mario – que vai precisar entrar em batalhas contra tipos diferentes de Rabbids gerados pelo SupaMerge para restaurar a paz e a ordem. Ao lado de Mario nos combates, estarão o Rabbid Luigi e a Rabbid Peach – dois coelhos que foram fundidos com bonequinhos dos personagens tradicionais da Nintendo. 

Mario + Rabbids se divide entre duas dinâmicas: no começo, Mario e seus amigos (dois Rabbids fantasiados de Luigi e Peach) andam pelo mapa, como em um jogo de plataforma 3D, coletando moedas e itens colecionáveis, vendo o caos causado pelo acidente com o SupaMerge. Em determinado ponto, porém, o trio precisa parar de andar para enfrentar seus inimigos. A partir daí, o que se vê na tela são combates em turnos, na qual Mario e seus companheiros podem realizar três tipos de ação: um ataque, um movimento e um golpe especial (que só pode ser carregado a cada número determinado de rodadas). 

Saber como lidar com cada inimigo é vital para ter sucesso nas batalhas Foto: Nintendo

Cada inimigo age de uma forma específica: Rabbids gigantes podem esmagar seus personagens, enquanto há outros que podem curar os companheiros, arremessar granadas ou dar tiros de longa distância. Saber como lidar com cada inimigo é vital para ter sucesso nas batalhas. Felizmente, a Ubisoft criou uma curva de aprendizado no jogo que explica – pelo texto ou por tentativa e erro – qual é a melhor forma de derrotar os inimigos. 

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No começo, Mario e seus companheiros tem poucas opções de ataques e enfrentam rivais simples, mas à medida que o jogo evolui, novas possibilidade de movimento, armas mais poderosas e claro, antagonistas “osso duro de roer” aparecem pela frente. Isso para não falar em companheiros que aparecem ao longo do caminho, sendo resgatados durante o jogo – como Yoshi, Luigi ou uma versão Rabbid do próprio Mario. 

Cada um deles pode ser usado e fazer parte do time (de três elementos) dentro do jogo – Rabbid Peach, por exemplo, pode curar os companheiros, enquanto o Luigi é um ótimo atirador de longa distância. Mas lembre: se você ficar confuso e fracassar numa batalha, tudo bem. Sem grande esforço, é possível reiniciar batalhas no meio, ou voltar de onde parou da última vez – afinal, este ainda é um mundo colorido do Reino do Cogumelo. É essa “facilidade” de lidar com as situações que permite que Mario + Rabbids, depois de um pequeno esforço, seja jogado por crianças, jovens, adultos e vovôs. 

Durante o jogo, diversas situações engraçadas vão aparecendo – e é um dos momentos em que a Ubisoft, responsável pelo desenvolvimento do game, mais brilha. Receita improvável, o humor chapliniano da Nintendo, baseado em estereótipos, gestos físicos e reações surpreendentes, se combina com a verve anárquica dos Rabbids. A contemporaneidade dos coelhos da Ubisoft permite que o texto do jogo faça referências a Bob Dylan, tire um sarro do cânone da Nintendo ou coloque um coelho fantasiado de Peach fazendo selfies em plenas batalhas – confesso que estive a ponto de cair da cama de tanto que ri em alguns momentos. 

Receita improvável, o humor chapliniano da Nintendo, baseado em estereótipos, gestos físicos e reações surpreendentes, se combina com a verve anárquica dos Rabbids. Foto: Nintendo

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Ao mesmo tempo, o jogo é reverente às tradições ao usar fases, ícones e relações que quem já gastou muito polegar pulando sobre cascos vai entender bem. É preciso dizer ainda que este é um jogo muito bonito - seja na telinha portátil do Switch ou na telona da TV. A trilha sonora, ponto alto nos games da Nintendo, não foi deixada de lado pela Ubisoft, e é um prazer ouvir o jogo com o volume no talo.

Tanta coisa boa, porém, não poderia passar sem alguns problemas – durante os testes realizados pela equipe do Estado, o desempenho do jogo engasgou em alguns momentos. Além disso, uma questão de roteiro -- Mario é o herói que deve resolver os problemas -- não permite que o jogador retire o encanador de sua equipe, mesmo que ele esteja fraco ou não seja a melhor opção para uma determinada batalha. São aspectos menores, mas que impedem o jogo de ser considerado “perfeito”. 

Vale a pena? Um dos movimentos mais interessantes do mundo dos games em 2017 é observar como a Nintendo tem mudado posturas tradicionais (como convém a uma empresa de mais de 120 anos) para fazer do Nintendo Switch, seu mais recente videogame, um sucesso de mercado. Mario + Rabbids: Kingdom Battle é um ótimo exemplo disso: um jogo sem medo de apostar num gênero específico (estratégia por turnos com elementos de RPG), capaz de transformá-lo em algo acessível e único, com seu próprio estilo de humor. Não é o tipo de jogo que faz alguém comprar um aparelho de mais de R$ 1,5 mil -- a menos que seja o fã nº 1 dos Rabbids --, mas é tão importante quanto: o game de repertório que diverte e faz qualquer jogador se sentir satisfeito com o console que escolheu para ter em casa. Em outras palavras: é um jogo que não vai vender nenhum Switch, mas que é obrigatório em qualquer coleção que se preze do novo videogame. 

Mario + Rabbids: Kingdom BattleProdutora: UbisoftPlataforma: Nintendo SwitchJá disponível na Nintendo eShopPreço: US$ 60 (loja online da Nintendo)

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