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Super Mario Run é caro, mas faz jus ao legado da Nintendo

Primeiro jogo do encanador bigodudo para smartphones tem preço salgado (US$ 10), mas consegue ao mesmo tempo inovar e aproveitar nostalgia, em exercício que pode mostrar futuro para a japonesa

Por Bruno Capelas
Atualização:
Game será gratuito, mas quem quiser jogar seu conteúdo completo terá de pagar. Foto: Divulgação

Há algo de diferente no Reino do Cogumelo – e desta vez, o encanador bigodudo Mario tem pressa para salvar a princesa. Primeiro jogo para dispositivos móveis de um dos maiores personagens da história dos videogames, Super Mario Run é também a maior revolução desde os anos 1980 na história dos jogos da franquia em duas dimensões – ou seja, excluindo títulos como Super Mario 64 ou Super Mario Galaxy, que são ambientados em universo 3D. No entanto, ao mesmo tempo em que traz várias novidades, Super Mario Run – lançado apenas para o iOS, ainda sem data para Android – é uma grande homenagem aos mais de 30 anos do encanador e mostra um futuro promissor para a empresa japonesa. 

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Duas são as grandes novidades do game: a tela é exibida sempre na vertical (e não mais em um formato paisagem, como na dobradinha entre TVs e consoles). Além disso, para facilitar a jogabilidade com uma mão só, Mario corre automaticamente pela tela: cabe ao jogador apenas apertar o celular quando quiser que o bigodudo pule pelo cenário. Se por um lado a ideia é bem vinda para acomodar o jeito de jogar em um celular – é até razoável jogá-lo durante uma viagem pelo metrô, de pé, desde que o trem não esteja muito cheio –, por outra, ela traz uma alteração na essência do personagem. 

Nos últimos 30 anos, os jogos da série Super Mario em 2D foram muito mais baseados na precisão do que exatamente na rapidez dos movimentos do bigodudo – a velocidade, por sinal, era o maior trunfo do porco-espinho Sonic, seu grande rival durante a década de 1990. É engraçado, de uma hora para outra, ver Mario correndo para lá e para cá como se tivesse trocado de cores. No entanto, a mudança é bem vinda – em prol da jogabilidade, a Nintendo escolhe (em uma rara atitude) olhar para o futuro. Para os jogadores veteranos do encanador, a adaptação pode levar algum tempo, mas não é difícil de se acostumar: talvez a parte mais complexa seja aprender a lidar com os saltos para trás e as piruetas que agora o personagem pode fazer. Ah, importante: se Mario for atingido por um inimigo ou cair de um obstáculo, ele tem duas chances (em formato de simpáticas bolhas) para revivê-lo. 

O mote de Super Mario Run é o mesmo de sempre: o vilão Bowser sequestra a princesa Peach, que deve ser resgatada pelo protagonista. Para isso, Mario tem de saltar por diversas fases, enfrentando inimigos como bombas que explodem (Bob-ombs), tartarugas que soltam cascos (os Koopas) e balas de canhão voadoras (Bullet Bill). Como sempre, um cogumelo é capaz de deixá-lo maior, enquanto uma estrela pode fazê-lo invencível. 

Moedas. No entanto, as moedas não servem mais para ganhar vidas e garantir que o jogador não entre no “game over”: agora, elas são dinheiro para comprar melhorias para o reino da princesa e seus habitantes – os simpáticos cogumelos Toads. Além disso, há moedas diferentes, coloridas – elas podem ser rosas, roxas ou verde-musgo, e são usadas para avaliar o desempenho do jogador durante a fase. 

É aí talvez um dos pontos onde Super Mario Run peque: na loja de aplicativos da Apple (App Store), o game pode ser baixado gratuitamente, mas tem apenas três fases para testes. Depois disso, só pagando US$ 10 (cerca de R$ 35) para ter acesso ao restante. Ao todo, porém, são 24 fases, curtas, que podem ser devoradas em duas horas – o tempo, claro, pode variar de acordo com a perícia do jogador. 

Para aumentar o tempo de jogo e o valor de seu produto, a Nintendo apostou nas cores das moedas especiais: as roxas, por exemplo, são liberadas depois que o jogador conseguiu pegar as cinco moedas rosas ao longo da fase. Para variar as fases, cada cor de moeda costuma aparecer em um lugar diferente, incentivando o jogador a repetir várias e várias vezes o mesmo percurso – às vezes, é melhor fazer o jogo do sacrifício e morrer em uma bolha para voltar atrás e pegar aquela moeda que falta. 

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Captar moedas é a chave do sucesso para comprar itens dentro do jogo – que não tem microtransações 

É uma estratégia válida, mas que diverte apenas um nicho de jogadores: pense em quantos jogos você jogou até o fim e, para se desafiar, resolveu começar de novo em uma dificuldade mais difícil. Seja como for, as 24 fases são um grande “greatest hits” do bigodudo – quem é fã da série vai reconhecer criaturas como os Goombas (o cogumelo marrom que ataca Mario) e o Lakitu (a tartaruga-câmera que aparece numa nuvem) e as célebres fases “das nuvens”, “da água”, “das cavernas” ou “da masmorra”, só para citar alguns exemplos muito divertidos, em que a nostalgia anda lado a lado com o espírito fresco do game. 

O velho chefão Bowser também se faz presente, mas aqui reside um calcanhar de aquiles de Super Mario Run: as batalhas com ele (e com um de seus asseclas) são bastante repetitivas – e nada diferentes do que já se viu nos jogos da série, seja em sequências de três ataques ou na estratégia de enganar o vilão e usar o machado. Em um jogo preocupado com o design de fases, faltou capricho nessa hora final. 

Corridas. Nem tudo acaba, porém, ao final das 24 fases e o beijo da princesa (vai dizer que você não sabia?!). Como é típico de um jogo dos anos 2010, Super Mario Run também tem um modo multiplayer: nele, chamado de Corridas (ou Rally, se você estiver jogando em inglês), é possível disputar contra um amigo (ou uma pessoa desconhecida que esteja mais ou menos no seu nível) para ver quem se sai melhor ao longo de uma fase. 

Nesse modo de jogo, é preciso pegar quanto mais moedas possível, ser o mais rápido, e como se não bastasse, também fazer acrobacias para atrair a atenção dos Toads. Em disputa, além da diversão, está uma pequena população de Toads – se você vencer a batalha, pode levar os cogumelos para o seu reino e povoá-lo cada vez mais. Se a premissa de ter um reino feliz não te seduz, no entanto, é preciso dizer: as corridas são bem divertidas, e, ao jogar com amigos, podem ser o ponto de resistência para que Super Mario Run seja jogado por bastante tempo. 

Fases do game homenageiam níveis clássicos do encanador bigodudo Foto:

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O que ainda não deu para entender, porém, é que para cada corrida é preciso “pagar” um ingresso – que pode ser recebido pelo bom desempenho durante a história, ganho em uma fase bônus disponível de vez em quando no reino, ou ainda trocado por “pontos Mario”, quando o jogador vincula seu perfil a uma conta da Nintendo. Neste segundo caso, os pontos podem ser acumulados por missões (como jogar uma corrida diariamente, ou vencer três corridas por semana), e depois trocados por ingressos. É um ponto de interrogação no meio de Super Mario Run – que desde seu anúncio prometeu que não seria um jogo sem microtransações (aquelas compras chatas de valores pequenos para itens que podem melhorar seu desempenho no jogo). Lançado há pouco mais de uma semana, ainda é cedo para dizer se a Nintendo mudou de ideia – esperamos que não mude. 

Vale a pena? Desde seu início, Super Mario Run é um marco na história dos videogames – é uma das primeiras vezes que um personagem tão importante é tratado com dignidade nos dispositivos móveis. As inovações de jogabilidade podem soar estranhas num primeiro momento, mas são bem vindas em uma plataforma tão específica como celulares e tablets. O modo multiplayer das Corridas é outra boa inovação – em uma funcionalidade pouco presente em jogos para smartphones, normalmente restritos a partidas de um jogador. O design de fases é ótimo (salvo as batalhas com chefões) e os cuidados com a identidade da franquia também. 

O único fator que pesa, porém, é o bolso: pelo equivalente ou pouco mais de R$ 35, é possível comprar alguns dos melhores jogos do ano para consoles – como Firewatch ou Inside, para ficar em dois exemplos. Seduzida pelo fator “grife” de Mario e mirando apenas o público um pouco mais abastado que usa os aparelhos da Apple, a Nintendo acabou colocando uma barreira de preço alta demais para seu mercado. Se você é um fã do encanador e sabe todos os nomes dos inimigos do Mario, pode comprar sem medo. Caso não seja esse o seu caso, fica uma sugestão: baixe o jogo gratuitamente e jogue as fases disponíveis. Se a vontade de continuar jogando for irresistível, talvez valha a pena abrir a carteira e se autoconceder um presente de Natal. 

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Mais do que isso, porém, Super Mario Run mostra o que a Nintendo pode ganhar se souber usar os jogos móveis ao seu favor: sem crescer o olho no bolso dos jogadores, ela pode faturar alto (e claro, cometer grandes jogos) ao recriar seus universos nos smartphones. Zelda, Donkey Kong, Kirby, Metroid, Super Smash Bros, Mario Kart, Duck Hunt… a lista é quase infinita. Que venham os próximos. 

Super Mario RunProdutora: NintendoPublisher: NintendoPlataformas: apenas para iOS, em breve no AndroidPreço: US$ 10 (as três primeiras fases são gratuitas)Já disponível no Brasil

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