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Editora FTD Educação anuncia compra de startup e procura um unicórnio ‘para chamar de seu’

Aquisição mais recente foi a edtech Pontue, que usa inteligência artificial para correção de redação, chegando à quinta parceria da editora com startups

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Por Maria Isabel Miqueletto
Atualização:

O sufixo “tech” ganhou espaço em todas as áreas – e na educação não tem sido diferente — até mesmo para empresas tradicionais com décadas de mercado. Com atuação no setor de edtechs desde 2020, a editora FTD Educação anunciou nesta terça-feira, 9, a compra da Pontue, startup que utiliza inteligência artificial (IA) para correção de redação, e mira em adicionar outras camadas de inovação no portfólio.

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Ao todo, cinco startups já foram adquiridas ou se tornaram parceiras da editora, que lançou um programa de inovação para captar startups com soluções voltadas para a comunidade escolar: o Órbita. No orçamento 2023/2024 preveem o lançamento da segunda edição do programa. Uma das expectativas é, quem sabe, encontrar o próximo unicórnio (startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão) brasileiro.

“Queremos enxergar oportunidades de novos negócios e de novos produtos, e quem sabe até ter um unicórnio que surja deste programa todo”, afirmou Ricardo Tavares, diretor-geral da FTD Educação.

A empresa de mais de um século, reconhecida por sua atuação no desenvolvimento de materiais didáticos e de literatura, agora almeja ampliar sua presença na oferta de soluções educacionais tecnológicas. Em 2020, a FTD deu o pontapé inicial na área e adquiriu participação na startup Estuda.com, que usa IA para oferecer um plano de estudos customizada para cada aluno em que mostra suas necessidades acadêmicas específicas.

A iniciativa surgiu para sanar a demanda digital crescente do setor. Entre 2020 e 2022, o número de edtechs no País cresceu 40%, segundo o “Mapeamento Edtech 2022: Investigação sobre as tecnologias educacionais no Brasil”, elaborado pela Deloitte e pela Associação Brasileira de Startups (ABStartups).

No orçamento do próximo ano (que é contado de julho de 2023 a junho de 2024, devido ao período de volta às aulas), a empresa tem investimento aprovado para a segunda edição do Órbita, feito em parceria com a aceleradora Hotmilk, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Ambas fazem parte do Grupo Marista, gigante do setor educacional.

Na edição do ano passado do Órbita, a FTD priorizou startups com soluções para alguns desafios vividos pelo dia a dia nas instituições de ensino, como gestão escolar, experiência do usuário, acessibilidade, internacionalização e ambiente de aprendizagem. Foram mais de 150 edtechs e 118 selecionadas na primeira fase de captação, representando 17 estados brasileiros.

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Além da aquisição da Pontue, a companhia investiu no Diário Escola, um aplicativo de gestão escolar. “A nossa função também é profissionalizar startups na Hotmilk. O nosso ativo principal é educar bem”, ressaltou Tavares.

Agora, a editora reúne cinco parcerias com edtechs. A Zoom Education for Life oferece soluções que integram pensamento computacional; cultura maker, relacionada à criação de soluções materiais; robótica e STEAM, metodologia interdisciplinar que une ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática. Pensando na formação de alunos bilíngues, a empresa também incluiu no portfólio de soluções os serviços da Geppetto, uma plataforma gamificada de ensino bilíngue. E contam também com o Instituto Ayrton Senna (IAS), que desenvolve ferramentas para monitoramento das competências socioemocionais dos estudantes.

“Percebemos que a escola precisava de outras soluções além dos materiais didáticos”, conta Tavares. A FTD tem mapeado quais são os principais empecilhos para alavancar a aprendizagem e, a partir disso, buscam no mercado quais empresas podem solucionar esses problemas. “Para a educação melhorar, nós precisamos ajudar os professores com novos métodos e novas tecnologias para que isso evolua dentro e fora da sala de aula. Os alunos já estão transformados – agora temos que ajudar os professores nesse processo”, explicou.

Negócios

Para o coordenador do curso de Sistemas de Informação da ESPM, Flávio Marques Azevedo, o investimento em inovação parte, também, da necessidade das instituições de automatizar processos – e a melhor opção para isso são as edtechs. “Essa parte da tecnologia que é trazida pela edtech dá todo o suporte e respaldo tecnológico para as instituições. Elas vão ficar muito mais preocupadas na questão do conteúdo, que elas sabem e dominam produzir, e vão ter suporte na parte técnica”, analisou. “Você pode ter a melhor instituição e ela não vai conseguir resolver todos os problemas sozinha.”

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A coordenadora do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação (CEPI) da Fundação Getúlio Vargas Direito de São Paulo, Marina Feferbaum, defende que esse movimento reforça a importância de olhar para ferramentas que possam auxiliar a aprendizagem. Dentre as tendências nessa área, está o desenvolvimento do protagonismo do estudante. “Hoje temos essa relação muito tradicional do professor falando e o aluno só recebendo. Isso já não cabe mais”, afirmou Marina.

Para mudar isso, entram as novas soluções, que incluem gamificação, potencial lúdico e design de facilitação, entre outras. “O docente passa a ser esse designer de experiências”, explicou a coordenadora.

Nos novos horizontes

Tavares observa os primeiros frutos gerados pelos investimentos recentes. Um deles é a mudança da visão de mercado acerca da empresa, que passou a ser citada quando o assunto é soluções inovadoras e tecnológicas. “A FTD é reconhecida como uma empresa parceira, flexível e humana. Esse movimento do Órbita trouxe para nós um reconhecimento como uma empresa inovadora, também”, afirmou.

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Em 2022, a FTD faturou R$ 1 bilhão, atingindo número recorde, de acordo com informações da empresa. Para este ano, a projeção é que esse número chegue a R$ 1,2 bilhões. “Faltam 60 dias para fechar, mas os dados apontam para um crescimento de receita de 20%, e já estamos trabalhando num orçamento 2023/2023 com o desafio de crescer mais 20% novamente”, contou Tavares.

A tecnologia traz consigo, além das novas possibilidades, novas reflexões sobre os papéis e limites de seu uso no desenvolvimento dos alunos, dos professores e até mesmo da instituição de ensino. Para Azevedo, estamos na fase ética. “[A discussão] não é mais a IA, é o uso da IA de forma ética”, ressaltou.

A implementação de novas tecnologias implica, também, na ampliação de uma educação tecnológica. “[É preciso] educar tanto para mexer [na tecnologia], quanto para ter uma visão crítica sobre ela”, defende Marina. Para ela, esse é o caminho para criar uma cidadania digital. “Vai ser um letramento digital e educacional que a gente vai ter, já que a nossa geração não tem referência”, acrescentou.

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