Startups adaptam escritórios e abraçam ‘modelo híbrido’ para funcionários

Tecnologias de conferências, salas privativas e mesas de colaboração estão nas prioridades das reformas dos espaços corporativos

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Foto do author Guilherme Guerra
Por Guilherme Guerra

Até a pandemia, os escritórios das empresas ficavam lotados de segunda a sexta-feira, com funcionários marcando presença em todos os dias úteis da semana. Essa era uma realidade inclusive nas startups, companhias de tecnologia conhecidas por testarem novos métodos de trabalho, como o “home office”. Passados dois anos de covid, esses espaços deixaram de se tornar tão essenciais quanto antes, é verdade, mas tampouco estão longe de ser acessórios para a cultura corporativa.

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“O espaço físico corporativo se torna ainda mais relevante no mundo pós-pandemia”, diz Carolina Foley, diretora de real estate e soluções corporativas do Nubank. Se até 2020 era banal ir ao escritório diariamente, o ato ganha hoje ares especiais: “Ir trabalhar presencialmente se torna algo muito mais proposital quando é uma ou duas vezes por semana”, completa ela, frisando que esse espaço deve ser acolhedor e, sobretudo, funcional.

Com prédio próprio em Pinheiros, bairro nobre da capital paulista, o “roxinho” voltou às atividades presenciais em junho de 2022 com algumas novidades, como uma reforma na cafeteria do prédio, aberta ao público. Além disso, para os colaboradores, foram criadas mais salas de reunião individuais (especialmente para videochamadas) e adicionadas mesas colaborativas. Atualmente, os funcionários e suas respectivas equipes podem decidir quais dias da semana o trabalho deve ser presencial.

Além disso, o Nubank inaugurou no início deste mês de novembro um espaço de 10 mil metros quadrados na Vila Leopoldina, bairro fora do eixo da Av. Faria Lima (onde se costuma atribuir o mundo “startupeiro” em São Paulo). O local permite reuniões com equipes de mais de 200 pessoas, além da realização de grandes eventos e encontros com pessoas de fora.

O movimento vai na contramão daqueles que pregavam o fim dos espaços físicos há dois anos, auge da pandemia e do isolamento, por conta dos altos custos de se manter um escritório: “Na ponta do lápis, alugar um escritório é um gasto alto. Mas, como sabemos que vamos crescer muito, buscamos um espaço diferente e totalmente eficiente para fazer outros usos além da nossa torre corporativa”, conta Carolina.

O Nubank não é um caso isolado. Recentemente, outras companhias do setor de tecnologia também inauguraram escritórios na capital paulista, como a startup 180º Seguros e a Alice, de planos de saúde.

Na healthtech, o escritório de 4 mil metros quadrados abriga até 40% dos 700 colaboradores da startup, ao contrário da capacidade de 100% que seria esperada há uns anos: “Fizemos pesquisas com os nossos times sobre o interesse deles em ir ao escritório antes de estabelecermos essa dinâmica presencial”, disse ao Estadão, à época, a responsável pela área de departamento pessoal da Alice, Sarita Vollnhofer.

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Novo escritório da startup de saúde Alice Foto: Divulgação/Alice

Questão de tecnologia

Os escritórios do pós-pandemia estão mais equipados do que nunca: a infraestrutura precisa ser flexível para atender não só os funcionários que trabalham presencialmente, mas também aqueles que estão em casa.

Na prática, isso significa que é praticamente obrigatório que a conexão de internet seja de boa qualidade para as videochamadas, que viraram o “novo normal” corporativo desde 2020. Além disso, salas colaborativas vêm equipadas com televisores e monitores para a transmissão de reuniões, já que parte das pessoas está presente fisicamente e outras permanecem em casa — é o tal do “modelo híbrido”.

“Não podemos ter uma barreira de comunicação entre quem está dentro e fora da empresa”, diz Renata Feijó, diretora de Recursos Humanos da Loft, uma das maiores startups do Brasil e que adota o regime híbrido de trabalho desde novembro de 2021, quando reabriu as portas.

Não podemos ter uma barreira de comunicação entre quem está dentro e fora da empresa

Renata Feijó, diretora de Recursos Humanos da Loft

Com um escritório próprio na capital paulista, a companhia do ramo imobiliário investiu em uma lousa digital cujo conteúdo é automaticamente transmitido para uma plataforma online, de modo que outros usuários possam acompanhar o que é escrito.

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A Loft também fornece uma ferramenta online de gestão de espaços para reservar salas remotamente, de modo a evitar a superlotação de pessoas. “Essa é uma adaptação que sentimos necessária, porque houve dias em que o espaço estava lotado. Dessa forma, conseguimos fazer a previsão de oferta e demanda com a ajuda dessa ferramenta”, diz Renata.

Outra “bugiganga” comum aos escritórios dessas startups é o sistema de conferência de chamadas, que inclui câmeras e microfones que podem ser ligados a televisores e monitores. A startup Gympass, de benefícios corporativos de bem-estar, adotou esses aparelhos em suas salas de reunião em Nova York e São Paulo.

A Gympass implementou em 2022 uma política de “trabalhe de qualquer lugar”, que permite que funcionários escolham se deslocar para outras cidades ou até países uma vez a cada trimestre do ano, com a aprovação dos respectivos gestores. Ainda assim, a startup incentiva encontros presenciais: “As trocas construtivas em pessoa continuam sendo muito mais produtivas”, diz Renato Basso, vice-presidente de pessoas da Gympass no Brasil. “Estamos reforçando a flexibilidade das pessoas, ao mesmo tempo em que provemos um ambiente em que todos possam construir laços mais próximos.”

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Metaverso é uma das principais apostas de Mark Zuckeberg para o futuro da internet Foto: Meta

Nada de metaverso

O metaverso é uma das grandes apostas como o futuro da internet, motivo que fez Mark Zuckerberg redirecionar os investimentos do Facebook, Instagram e WhatsApp para transformar a Meta. As interações digitais em realidades paralelas prometem aproximação em diversas áreas, incluindo o dia a dia no trabalho — mas é difícil encontrar startups que estejam investindo no tema.

Para a Gympass, é uma questão de prioridades de recursos. “No curto prazo, não é o melhor momento para se investir nesse tipo de solução”, diz Basso, citando adversidades como retorno ao presencial, queda nos investimentos em startups e cenário macroecônomico adverso. “Existe muito pouca informação sobre retorno desse tipo de solução no mercado ainda”, diz Basso.

Renata Feijó, da Loft, concorda. “Não sabemos se temos dados para tomar uma conclusão da efetividade. O que temos visto é que funcionam os investimentos em infraestrutura, de mais telas no escritório a plataformas de teleconferência”, diz a diretora.

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