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Deputados votam na terça criação da CPI das Milícias no Rio

Deputado Jorge Picciani, que tirou proposta da gaveta, disse que investigação será feita 'doa a quem doer'

Por Marcelo Auler e Pedro Dantas
Atualização:

Debaixo de fortes acusações por ter 33 dos seus 70 deputados respondendo a processos na Justiça e nos Tribunais de Contas - inclusive por crimes de homicídio, participação em milícias e, agora, no caso do deputado Álvaro Lins (PMDB), corrupção e formação de quadrilha armada - a Assembléia Legislativa do Rio (Alerj) decidiu, nesta quinta-feira, 5, criar uma CPI para investigar as milícias. A proposta será votada na terça-feira. Veja também: Preso o número 2 da milícia da Favela do Batan, no Rio Moradores confirmam prática de tortura em favela do Rio A proposta desta CPI hibernava na casa desde fevereiro de 2007, mas foi sacada da gaveta pelo presidente da Alerj, Jorge Picciani (PMDB) no momento em que a casa é acusada de ter sido corporativista ao soltar Lins. Picciani prometeu: "os fatos ligados às milícias ou com relações a elas, doa a quem doer, serão investigados. Pode bater na porta de qualquer um, quem estiver envolvido com milícia que responda por isto". Nas negociações com o autor da proposta, o deputado Marcelo Freixo (PSOL), Picciani o indicou para a presidência da Comissão e colocou dois deputados ligados à liderança como membros: o segundo vice-presidente, Gilberto Palmares (PT) será o relator e o presidente do Conselho de Ética e líder do governo, Paulo Mello (PMDB) participará como membro. Restaram duas vagas a serem preenchidas pelas lideranças, mas já houve o compromisso com Freixo de que não será aceito nome de político suspeito de envolvimento com a criminalidade. Entre os deputados, Natalino José Guimarães (DEM) é processado junto ao órgão especial do Tribunal de Justiça por comandar a maior e mais ativa milícia da zona oeste do Rio, a "Liga da Justiça!". Também o deputado Lins é acusado de se beneficiar das milícias nas últimas eleições. No recente caso do seqüestro da equipe de jornalistas de O Dia na favela do Batan, em Realengo, na zona oeste do Rio, fato apontado por Picciani como motivador de o pedido da CPI sair da gaveta, surgiu também a possibilidade do envolvimento direto de um assessor do deputado estadual Coronel Jairo (PSC). Picciani inocentou o parlamentar que também é oficial da Polícia Militar. "Do deputado não tem nada provado e eu não acredito. Conheço o coronel Jairo, convivo com ele e não acredito. Não vai ficar provado. Passei a emitir um juízo de valor que não queria", desabafou. Freixo entende que uma das contribuições da comissão será "a própria definição do que hoje significa a ação destas milícias. Se sabe muito pouco no Rio de Janeiro sobre isto". Mello previu que a CPI terá um trabalho "árduo, dificil e perigoso, porque lá não tem ninguém que vá para reunião no céu, a maior parte faz pacto com o diabo. Todos prometeram que as investigações sobre milícias não se restringirão às comunidades carentes, mas também os segurança de condomínios de luxo se ficar entendido "que estão à margem da lei, que são forças não legais, não constitucionais", explicou Picciani. Número 1 Policiais da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas (Draco) continuaram nesta quinta-feira à procura do inspetor da Polícia Civil Odinei Fernando da Silva acusado de chefiar os milicianos na favela do Batan. O grupo é apontado como os autores da sessão de tortura do jornal O Dia que durou cerca de sete horas no dia 14 de maio. Na tarde desta sexta, a seção fluminense da Ordem dos Advogados do Brasil promove em sua sede, no Centro do Rio um ato contra as milícias. Em carta endereçada aos jornalistas de O Dia, Bruno Quintella, de 25 anos, filho do jornalista Tim Lopes - assassinado há seis anos quando investigava o tráfico de drogas no Complexo do Alemão - confessou-se "em estado de choque" ao tomar conhecimento das torturas praticadas à equipe do jornal. Na carta ele questiona: "ainda me pergunto se a maior afronta foi o espancamento, o cala-boca, a intimidação, a covardia, ou se foi deixá-los vivos, mesmo depois de se identificarem como policiais. A impressão que fica é quem morre vive menos, mas quem vive morre mais".

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