Discurso de Aécio mostra que ele está longe de ver a batalha perdida

Para quem acha que o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, não tem mais chances de chegar ao segundo turno, as declarações do presidenciável tucano no fim de semana mostram que ele está longe de considerar a batalha perdida. No dia seguinte à pesquisa que mostrou Marina Silva (PSB) e Dilma Rousseff (PT) empatadas em primeiro lugar com mais do que o dobro de votos de Aécio, o tucano foi direto ao ponto. Considerando que a grande maioria da população deseja mudanças, Aécio disse na propaganda da TV que existem dois "principais caminhos" para isso: ele e Marina, mas é ele quem tem condições de fazer as mudanças acontecerem. "Eu respeito a Marina, ela também é uma pessoa com boas intenções”, disse. "Mas a gente já viu que para mudar tudo que está errado é preciso muito mais que isso. Para governar, para fazer acontecer é preciso ter uma equipe sólida, ideias já testadas e, principalmente, força política para fazer a mudança acontecer de verdade”, acrescentou. “Sem experiência, sem força política o sistema engole as boas intenções da noite para o dia.“ Sem meias palavras, disse que o eleitor quer "uma mudança sem risco", para reforçar ainda mais a falta de um apoio político mais amplo de Marina. Depois, falando a jornalistas no interior de São Paulo, agradeceu a "homenagem" prestada pelo programa de governo de Marina, divulgado na sexta-feira, dizendo que posições econômicas que lá aparecem são as mesmas que ele vem defendendo a vida toda. Ao contrário da candidata do PSB, que combateu várias delas durante o longo tempo no qual foi filiada ao PT. Ou seja, parece que Aécio vai bater na tecla de que ele é a pessoa capaz de realizar as mudanças desejadas e fazer isso "sem risco", ao mesmo tempo em que vai procurar apontar contradições ao longo da vida política da candidata do PSB, ressaltando também sua falta de experiência e de força política. Para sacramentar a estratégia, Aécio disse que a disputa que se coloca é entre ele e Marina, já que na avaliação dele, Dilma já perdeu e não será reeleita. Sem entrar no mérito se Dilma estará num segundo turno ou não, o tucano parece querer dizer: eleitor, você tem que decidir agora, em 5 de outubro, quem quer para presidente, e esta escolha é entre a Marina e eu. Do ponto de vista racional, a estratégia de Aécio parece bem boa. Ele tem muito mais experiência administrativa do que Marina. Ela foi ministra, mas ele foi governador de Minas Gerais, um dos maiores Estados do país, por oito anos. Além disso, foi presidente da Câmara dos Deputados, o que ressalta sua força e capacidade de negociação política. Ao mesmo tempo, ele tem o cuidado de não atacar Marina pessoalmente. Diz que a respeita e elogia diversas posições dela, mas destaca que o eleitor vai acabar escolhendo as posições originais, e não as ideias de convertidos. É difícil dizer, porém, se vai dar certo. Primeiro é preciso aguardar as pesquisas Datafolha e Ibope desta semana para ver se a onda Marina continua a crescer, parou ou deu uma recuada. E, mais importante: se Aécio parou de desidratar. Se os números não ficaram piores para Aécio nesses poucos dias, a estratégia tem potencial de reverter parte de seu prejuízo desde a entrada de Marina no páreo, em substituição a Eduardo Campos. Mas pode não ser o suficiente para colocá-lo num segundo turno, o que era líquido e certo até que o avião de Campos caiu em Santos, em meados de agosto. Em parte porque a escolha do eleitor não é só racional, podendo até ser nada racional. E para quem está muito descontente com o quadro geral das coisas, o chamado "voto do saco cheio", falar em ser a mudança segura ou apontar para falta de força política da adversária pode mais atrapalhar do que ajudar Aécio.

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Por (O AUTOR É EDITOR DE FRONT PAGE DO SERVIÇO BRASILEIRO DA REUTERS. AS O
Atualização:

* Esta coluna foi publicada no terminal financeiro Eikon, da Thomson Reuters, na tarde de segunda-feira, 1 de setembro.

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