Egípcios votam nova Constituição, mas foco está no chefe do Exército

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Por TOM PERRY E ASMA ALSHARIF
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Os egípcios votaram nesta terça-feira, pela primeira vez desde que os militares depuseram o presidente Mohamed Mursi, em um referendo sobre o projeto da nova Constituição que pode abrir caminho para a candidatura presidencial do chefe do Exército, general Abdel Fattah al-Sisi. Pelo menos nove pessoas foram mortas em confrontos entre partidários da Irmandade Muçulmana e a polícia, disseram fontes do governo. Duas pequenas bombas explodiram, uma no Cairo e outra na cidade de Mahalla, no delta do Nilo, sem causar vítimas. A Irmandade ainda apoia Mursi, que está na prisão, e pediu que a população boicotasse a votação e protestasse contra o esboço da Constituição, o qual elimina características islamitas que constavam na Carta aprovada um ano atrás, quando o grupo ainda estava no poder. O texto também fortalece os órgãos do Estado que desafiaram o governo de Mursi: o Exército, a polícia e o Judiciário. Embora a repressão militar tenha eliminado muitas das liberdades conquistadas com o levante de 2011 contra o presidente Hosni Mubarak, a previsão de um governo mais estável levou nesta terça-feira o mercado de ações a seu nível mais elevado desde sua derrocada. O referendo é um marco no plano de transição política que o governo apoiado pelos militares elaborou como um caminho de retorno à democracia, mesmo considerando que ainda continua com uma feroz repressão à Irmandade Muçulmana, que até o ano passado era o partido egípcio mais bem organizado. Uma eleição presidencial pode ser realizada já em abril. Em um comentário que repercute uma posição muito difundida no Egito, um destacado diplomata europeu disse que Sisi vai provavelmente anunciar sua candidatura nos próximos dias - uma perspectiva que vai encantar seus partidários, mas poderá desencadear mais conflitos com seus oponentes islamitas. Com pouco ou nenhum sinal de campanha contra o texto da Constituição - um partido islamita moderado disse que seus ativistas foram presos enquanto faziam campanha pelo "não"-, a previsão é de que seja aprovado com facilidade, já que é apoiado por boa parte dos egípcios que participaram dos protestos de 30 de junho contra Mursi e a Irmandade, posteriormente destituídos do poder. "Nós estamos aqui por duas razões: para erradicar a Irmandade e ter nossos direitos na Constituição", disse Gamal Zeinhom, de 54 anos, na fila de uma seção eleitoral no Cairo. Outros citaram o desejo de estabilidade no Egito, depois de três anos de turbulência. Sisi depôs Mursi, o primeiro chefe de Estado egípcio eleito livremente, em julho. Seus opositores islamitas dizem que ele planejou um golpe que provocou o pior conflito interno na história moderna do Egito e revigorou a opressiva polícia do Estado. Mas, depois de uma fracassada experiência com a democracia, muitos estão cansados da agitação que tomou conta desta nação de 85 milhões de habitantes e despedaçou sua economia. Eles veem Sisi, de 59 anos, como alguém que pode estabilizar e proteger o Egito do que a mídia local qualifica como conspirações internas e estrangeiras para dividir a nação. (Reportagem adicional de Shadia Nasralla, Mohamed Abdellah, Michael Georgy, Sameh Bardisi e Maggie Fick, no Cairo; e de Paul Taylor, em Bruxelas)

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