Oposição iemenita duvida da promessa de Saleh de deixar poder

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Por ERIKA SOLOMON E MOHAMMED GHOBARI
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Autoridades iemenitas recuaram da declaração do presidente Ali Abdullah Saleh de que deixaria o cargo nos "próximos dias", e a oposição duvidou da declaração no domingo, dizendo que era mais uma manobra para tentar ficar no poder. Saleh, de 69 anos, tem desafiado os protestos durante todo esse ano contra o seu governo de três décadas, descumprindo repetidamente suas promessas de deixar o poder. Os EUA e a Arábia Saudita temem que a revolta acabe levando a nação empobrecida a uma guerra civil e ao colapso econômico. Em um discurso feito sábado à noite, Saleh disse: "Rejeito o poder e continuarei a rejeitá-lo e pretendo deixá-lo nos próximos dias". Mas o vice-ministro da Informação, Abdu al-Janadi, disse à Reuters que a saída de Saleh ainda depende de um acordo, que ainda não foi assinado. "Ele disse isso para mostrar seu compromisso com esse plano, mas ainda não há nenhum plano de uma renúncia ou transferência de poder, antes que tenhamos chegado a um acordo e que ele seja assinado. Isso apenas deixaria o país no caos ou até mesmo em guerra", disse. "Ele está pronto para deixar o poder em alguns dias, sim, mas se isso vai acontecer nos próximos dias ou meses, vai depender do sucesso das negociações para um acordo." Protestos contra o governo de Saleh paralisaram o Iêmen, enfraquecendo o controle do governo em parte do país e espalhando o medo que o braço regional da Al Qaeda possa usar a revolta para expandir a sua presença perto da rota marítima de transporte de petróleo. O discurso de Saleh pode ter tido a intenção de rechaçar as críticas do Conselho de Segurança da ONU, que deve ser informado sobre a situação do Iêmen nos próximos dias e pode aprovar uma resolução pedindo que Saleh estabeleça um acordo de transferência de poder. A oposição chamou o discurso de um estratagema. "Saleh é um mentiroso, nada mudou desde o seu discurso", disse Mohammed al-Asl, organizador dos protestos feitos por manifestantes da oposição acampados numa praça no centro da capital Sanaa. "Já estamos acostumados a esse tipo de coisa. Ele diz qualquer coisa para enganar o seu próprio povo, o mundo e todos. Não estamos prestando atenção a isso." NOBEL DA PAZ Os manifestantes, acampados em tendas na região de Sanaa conhecida agora como Praça da Mudança, estavam levando sua vida normalmente, comprando comida, cozinhando e mascando khat -- uma erva leve e estimulante, que é muito comum no Iêmen. Uma nova pressão surgiu de uma fonte inesperada, depois que o Prêmio Nobel da Paz foi concedido, na sexta-feira, à Tawakul Karman, uma das principais ativistas que tem acampado nas ruas da Praça da Mudança do lado de fora da Universidade de Sanaa, desde fevereiro. O reconhecimento de uma ativista da democracia iemenita poderia fazer com o mundo voltasse sua atenção para o conflito no Iêmen, um país com 23 milhões de habitantes, com recurso hídricos em declínio, uma economia implodindo, conflitos separatistas e sectários e com um aumento do crescimento da presença da Al Qaeda. O líder astuto Saleh, que chegou ao poder em 1978, está sendo pressionado por seus aliados internacionais, manifestantes na rua, opositores armados e pelos partidos de oposição para cumprir suas promessas de entregar o poder. EUA e Arábia Saudita temem que o Iêmen possa se tornar um país fracassado e seja invadido pela Al Qaeda.

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