Oposição toma o poder e dissolve o Parlamento no Quirguistão

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Por MARIA GOLOVNINA E DMITRY SOLOVYOV
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A oposição do Quirguistão anunciou na quinta-feira ter tomado o poder e dissolvido o Parlamento nesse país pobre e estratégico da Ásia Central, após uma sangrenta rebelião que obrigou o presidente Kurmanbek Bakiyev a fugir da capital. Roza Otunbayeva, líder interina do governo, exigiu a renúncia do presidente, que ela havia ajudado a levar ao poder em circunstâncias semelhantes há cinco anos. Ela disse que Bakiyev estava tentando reunir seus seguidores em seu reduto político, no sul do país. "O povo do Quirguistão quer construir a democracia. O que fizemos ontem foi a nossa resposta à repressão e à tirania contra o povo por parte do regime de Bakiyev", disse Otunbayeva, que foi chanceler no governo dele. "Podem chamar isso de revolução. Podem chamar isso de revolta popular. Seja como for, é o nosso jeito de dizer que queremos justiça e democracia", declarou ela. Bíshkek, a capital, despertou na quinta-feira com carros e lojas incendiados, após um dia em que pelo menos 75 pessoas morreram em confrontos entre manifestantes e forças de segurança. Colunas de fumaça se erguiam da sede do governo, e uma multidão invadiu o edifício de sete andares, incendiando várias salas. Há saques generalizados. A rebelião, que começou na terça-feira no interior do país, foi provocada pelo descontentamento contra a corrupção, o nepotismo e o aumento do preço da energia elétrica, num país onde um terço dos 5,3 milhões de habitantes vive abaixo da linha da pobreza. Estados Unidos, Rússia e a vizinha China são importantes fontes de doação para o país. Moscou e Washington mantêm bases militares no território dessa ex-república soviética. No caso dos EUA, a base de Manas é estratégica para o abastecimento de forças da Otan no Afeganistão. Otunbayeva prometeu preservar o acordo que permite a operação militar dos EUA no Quirguistão. "Seu status quo será mantido. Ainda temos algumas questões a respeito. Deem-nos tempo e vamos ouvir todos os lados e resolver tudo", disse ela. Durante uma visita a Moscou no ano passado, Bakiyev ameaçou fechar a base norte-americana, mas depois aceitou mantê-la, mediante um aumento do aluguel. Na mesma viagem, ele conseguiu 2 bilhões de dólares em ajuda emergencial. Um porta-voz russo disse que o primeiro-ministro Vladimir Putin conversou por telefone com Otunbayeva e a considera "a nova chefe de governo". Otunbayeva teria dito a Putin que controla totalmente o país. Antes, Putin havia negado qualquer envolvimento de Moscou na crise. (Reportagem adicional de Olga Dzyubenko em Bíshkek, Khulkar Isamova em Osh, Robin Paxton e Guy Faulconbridge em Moscou; Lucy Hornby em Pequim e Peter Graff em Cabul)

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