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Opinião|Carta aberta a Michel Nisenbaum: nós não vamos desistir de você!

Além da falta de notícias suas, vivemos ainda um momento muito desfiador, com o aumento do antissemitismo em vários lugares do mundo

Por Marcos Knobel

Caro Michel. Faz aproximadamente 220 dias que você foi brutalmente retirado de sua família pelo grupo terrorista Hamas, em um dos episódios mais tristes da história recente. Sabemos que seu carro foi interceptado quando você estava indo buscar sua neta de quatro anos, que acabou não recebendo o abraço do avô naquele dia – e até hoje ela ainda espera por isso.

Desde então, o Brasil nunca deixou de pensar em você e não desistiu de trazê-lo de volta para casa. Nossos corações seguem angustiados, almejando por notícias suas. Acredito que onde você está não chegam notícias sobre o mundo, por isso é preciso dividir com você o que anda acontecendo desde o fatídico dia 7 de outubro.

A barbárie segue em curso. No dia do ataque, morreram mais de 1.200 pessoas e foram sequestradas cerca de 240. Uma parte delas foi libertada – algumas pessoas com vida, outras apenas com seus corpos entregues aos familiares, com suas vidas ceifadas de forma brutal.

Quem conseguiu voltar para casa chegou de volta para os braços de suas famílias com alma e corpo violados, feridos e com traumas emocionais que levarão para a vida toda. Há feridas que infelizmente não cicatrizam mais.

No entanto, há ainda muitas famílias de reféns que não têm notícias de seus pais, filhos, tios, tias, sobrinhos, sobrinhas ou cônjuges – como é o caso da sua. Além do sofrimento de não saber como você está – eles estão muito preocupados com sua saúde e sentem muito a sua falta –, ainda são obrigados a lidar com um outro baque, que é a ausência de ações concretas do governo brasileiro em prol da sua libertação.

Em um primeiro momento, o presidente Lula da Silva chegou a dizer que nenhum brasileiro refém do conflito ficaria para trás. Ele chegou a conversar com sua família durante duas ocasiões, prometendo que iria lutar pela sua libertação, mas após cerca de cinco meses nunca mais eles foram procurados por ele e tampouco pela nossa diplomacia, um órgão que sempre teve tradição na busca pela paz.

Essa fala de Lula, que em um primeiro momento não pareceu vazia, vem perdendo cada vez mais a força, com o governo assumindo uma postura mais clara em favor do movimento libertário praticado pelo grupo terrorista. Recentemente, um deputado do PT esteve na África do Sul para um encontro que contou com a participação de um dos líderes do braço armado do Hamas. E, pasme, o representante brasileiro posou em foto ao lado dele.

Nesta semana, eu estive pessoalmente em Israel e tive a oportunidade de me sentar com sua irmã, Mary Shohat, Hen Mahluf, sua filha, e Ayala Harel, sua sobrinha. Apesar de tanta dor, elas não deixaram de lutar por você. A cada visita de representantes do governo, elas buscam uma tentativa de diálogo, de contato, de chance para pedir ajuda para sua libertação.

O que nos deixa em estado constante de apreensão e alerta é a avalanche de notícias desencontradas que temos acesso diariamente, pois a grande realidade é que o Hamas não tem compromisso com a verdade. A cada lista de reféns que é divulgada, todos torcem para que seu nome esteja lá, para que você seja libertado o quanto antes. Tanto tempo já se passou, e fico me perguntando quais tipos de agruras você e nossos outros irmãos devem estar passando nas mãos desses guerrilheiros. Alguns ex-reféns trazem depoimentos que são impossíveis de serem reproduzidos, tamanha atrocidade cometida.

Além da falta de notícias suas, vivemos ainda um momento muito desfiador, com o aumento gigantesco do antissemitismo em vários lugares do mundo. Uma onda gigante de protestos pró-Palestina tomou conta de parte da sociedade em uma reivindicação para a criação de um Estado palestino. No entanto, o movimento não acontece de forma pacífica. Judeus passaram a ser hostilizados em qualquer ambiente, incluindo nas instituições de ensino. O mais triste é que muita gente que faz parte desses grupos está depredando prédios, agredindo pessoas, pregando a morte de outras, sem saber de fato os reais motivos dessa luta, pois não conhecem toda a história que envolve os dois povos a fundo.

Em Israel, estamos chegando ao ponto de que as próprias famílias das vítimas querem sentar-se à mesa para negociar a libertação dos reféns – e não sair de lá sem algum acordo selado.

Como brasileiros, não desistimos de lutar por você, Michel. Espero que você volte vivo, o mais breve possível, para o aconchego da sua família, que está desesperada e aflita por notícias suas. O Brasil também te aguarda de volta para podermos celebrar a sua vida!

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PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO ISRAELITA DO ESTADO DE SÃO PAULO (FISESP)

Opinião por Marcos Knobel

Presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp)