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Opinião|Educar para paz

Universidades que constituíam trincheiras ante o extremismo tornaram-se plataformas propagadoras de preconceito, violência e projetos políticos excludentes

Universidades são espaços privilegiados para o debate qualificado de ideias, tendo por premissa o respeito e a pluralidade. São, na sua essência, ambientes de troca e aprendizado, onde se trilham caminhos criativos e inovadores. Lugares nos quais velhos problemas encontraram novas e melhores soluções.

A rebeldia e o rompimento com os caminhos já percorridos fazem parte desse processo. Inclusive, extravasando as salas de aula, em protestos e manifestações em prol de um mundo mais justo. Historicamente, estudantes e professores universitários tiveram um papel decisivo na ampliação dos direitos civis, contra ditaduras e guerras e em favor da democracia e da paz.

Por isso, é com preocupação e tristeza que observamos as movimentações em algumas das melhores universidades do mundo, onde o ativismo deu lugar a discursos de ódio. As mesmas universidades que, num passado recente, constituíam trincheiras ante o extremismo e em defesa dos direitos humanos tornaram-se plataformas propagadoras de preconceito, da violência e de projetos políticos excludentes.

Desde 7 de outubro de 2023, quando o Hamas assassinou cerca de 1.200 israelenses, a maioria deles civis, há alunos e professores de Columbia e de outras universidades norte-americanas manifestando-se com discursos que vão desde a justificativa até a celebração da ação do grupo palestino. Essas manifestações cresceram e se intensificaram após a incursão do exército israelense na Faixa de Gaza, e passaram a ter como alvo não apenas os israelenses, mas também os judeus – qualificados como “sionistas”.

Nas últimas semanas, alunos foram impedidos de entrar na universidade ou circular por ela. Cartazes e palavras de ordem incluíam a exaltação do braço armado do Hamas, desejos de “Palestina livre do rio ao mar” – slogan que significa a expulsão dos judeus da região –, chamamentos pela “globalização da Intifada” – revolta palestina que, no início dos anos 2000, incluía atentados contra civis –, e apelos para que judeus norte-americanos “voltassem para a Polônia”.

O anseio legítimo pelo fim da guerra em Gaza e pela garantia dos direitos dos palestinos mistura-se ao ignorar das responsabilidades do Hamas, que declara abertamente a intenção de destruir o Estado de Israel e mantém 133 reféns presos há mais de seis meses. Ignora também que a maioria dos judeus israelenses não são “colonizadores europeus”, mas refugiados oriundos principalmente de países do Oriente Médio.

Chega a ser estarrecedor ver pessoas supostamente progressistas defendendo o Hamas, uma organização que se vale do terrorismo contra civis, defende a criação de um califado fundamentalista islâmico no lugar do Estado de Israel, sem liberdade de expressão, sem liberdade de gênero e com restrições ao direito das mulheres.

O pensamento crítico parece ter sido erradicado. A preguiça intelectual e o fanatismo predominam. O TikTok virou a fonte de informação. E o ativismo é formatado para viralizar nas redes.

O mais triste de tudo isso é que a situação é trágica para israelenses e palestinos. Inocentes estão sendo mortos ou seguem presos, como reféns. Mas protestos como os que estamos presenciando em nada contribuem para a paz.

Como escreveu recentemente o jornalista norte-americano Thomas Friedman: “Há uma peculiaridade nessa vizinhança: se a gente olha somente para um ou outro grupo através de um microscópio, dá vontade de chorar. Mas se olhamos para essas histórias através de um caleidoscópio, observando a complexidade de suas interações, é possível ver a esperança. Se você quiser noticiar de maneira correta a realidade de israelenses e palestinos, sempre leve um caleidoscópio no bolso”.

Universidades poderiam ser centros de excelência para encontrar saídas para o impasse vivido por israelenses e palestinos. Porém, muitas tornaram-se palco para expressões de antissemitismo e, com isso, têm acirrado ainda mais o conflito. É preciso que retornem a seu propósito original: educar para o pensamento crítico e para a coexistência pacífica.

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COFUNDADOR DO INSTITUTO BRASIL-ISRAEL

Opinião por David Diesendruck

Cofundador do Instituto Brasil-Israel