“Eu vi os terroristas estuprando-a e, depois, passando-a para outros. Ela estava viva quando foi violentada. Estava no chão e sangrando muito. Eles a puxaram pelo cabelo e atiraram na cabeça dela enquanto abusavam dela. Depois cortaram seus seios e ficaram brincando com eles.” Esse relato parece cena de filme de terror? Quase, mas a diferença é que isso aconteceu na vida real. Trata-se de uma das histórias relatadas por uma testemunha à polícia de Israel, que presenciou as atrocidades cometidas por integrantes do grupo terrorista Hamas contra uma jovem durante o massacre do dia 7 de outubro em Israel, quando mais de 1.200 pessoas foram mortas e 240 foram sequestradas e levadas como reféns para a Faixa de Gaza.
Cada um dos muitos testemunhos como este – que são, como mínimo, de embrulhar o estômago – é também comprovado por investigação da polícia científica. A perícia chegou a encontrar 51 tipos de DNA numa única mulher morta pelo Hamas. As muitas pélvis quebradas evidenciam de forma clara a violência de gênero praticada pelo grupo, feita de forma premeditada e com requintes de crueldade, e confirmam que os terroristas usaram o estupro como arma de guerra.
Naquela manhã, as redes sociais e a mídia foram inundadas por cenas violentas do atentado. A imagem daquela menina nua jogada numa caçamba – que, posteriormente, descobriu-se estar morta – se converteu no ícone desta violência contra meninas e mulheres, enquanto a grande maioria das organizações feministas, ativistas e celebridades permanecem em silêncio.
Estamos diante de um dos maiores ataques terroristas da história do moderno Estado de Israel, com proporções em número de mortos e feridos comparável aos atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos. A principal diferença entre os dois eventos reside no claro planejamento e execução da violência de gênero durante todo aquele sábado sangrento.
Foi necessária uma tremenda pressão feita por organizações feministas de Israel para que a ONU se manifestasse – uma resposta tímida que tardou 50 dias para chegar. Entre os cerca de 140 reféns que ainda estão sob o poder do Hamas na Faixa de Gaza, há dezenas de mulheres cujo choro está sendo ignorado pelo mundo. Não sabemos o que está acontecendo com elas.
O silêncio seletivo de vozes importantes na luta pelos direitos destas mulheres e meninas representa uma violência proporcional à sofrida nos ataques por seus agressores. E vou além: as mulheres que revelam em seus relatos o que viveram estão sendo julgadas como responsáveis por terem sido violadas, com o mundo querendo provas do que elas viram e sofreram. As imagens, os corpos e almas profundamente feridos falam mais do que mil palavras!
Unidas, mulheres judias, israelenses e da diáspora, se viram obrigadas a criar movimentos próprios na tentativa de cobrar uma reação da sociedade mundial, como o #MeToo_Unless_Ur_A_Jew e o #BelieveIsraeliWomen.
Como mulher, brasileira, judia e ativista, reitero meu repúdio e conclamo os movimentos feministas para nos unirmos, pressionando governos e ONGs para a liberação das irmãs israelenses que continuam em cativeiro.
Independentemente de sua origem ou de sua crença, vamos manifestar em voz alta um basta à violência, à misoginia e à cultura do estupro. Mostrar sua indignação deixou de ser uma opção. Este é um imperativo moral.
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VICE-PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO ISRAELITA DO ESTADO DE SÃO PAULO (FISESP), MILITANTE PELOS DIREITOS DAS MULHERES, É FUNDADORA DO GRUPO DE EMPODERAMENTO E LIDERANÇA FEMININA (ELF), UMA REDE FORMADA POR MAIS DE 300 VOLUNTÁRIAS QUE, ENTRE OUTRAS INICIATIVAS, ACOLHE MULHERES JUDIAS DE DIFERENTES LINHAS RELIGIOSAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO