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Opinião|Aporte de capital em negócios de impacto com alto risco é estratégia de combate à pobreza

Organização Acumen tem objetivo de investir capital paciente (que não tem expectativa de retorno em curto prazo) em iniciativas sociais

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Fazer com que o capital trabalhe para os seres humanos, não que os controle. Ouvir vozes que denunciam as falhas dos mercados e que nos alertam para o fato de que as ajudas filantrópicas não foram suficientes. Contribuir para que a imaginação moral prospere, alimentando a audácia e a ambição de projetar o mundo como ele deveria ser: um lugar com reais oportunidades sociais e econômicas para todos. Fomentar o surgimento de um modelo de liderança, que rejeita a complacência com a desigualdade, rompe a burocracia e desafia a corrupção. Fazer o que é certo, não o que é fácil. Adotar a ideia radical de criar esperança em um mundo cínico, mudando a forma como se enfrenta a pobreza e construir sociedades baseadas na dignidade humana. Essas são algumas das ideias que permeiam o agir da Acumen – uma organização que tem gerado transformações positivas em várias partes do globo ao investir em negócios de impacto social e ambiental que combatem a pobreza.

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Fundada por Jacqueline Novogratz em 2001 – que, na década de 1980, deixou um emprego em Wall Street para apoiar a abertura da primeira instituição de microfinanciamento de Ruanda (África) –, a Acumen usa o poder do empreendedorismo para construir um mundo onde todos tenham a oportunidade de viver com dignidade.

O objetivo é investir capital paciente (que não tem expectativa de retorno em curto prazo) para suprir a lacuna que existe entre a missão de tornar eficiente a escala das abordagens baseadas no mercado e o impacto social da filantropia convencional. Ao longo da jornada, foram investidos US$ 146 milhões em inovações disruptivas e incrementais; 155 empresas receberam aporte em 13 países na África, Ásia, América Latina e nos Estados Unidos, impactando 263 milhões de vidas.

Jacqueline Novogratz, fundadora da Acumen, organização que investe capital em iniciativas sociais Foto: Divulgação/Agência Acumen

No cerne da atuação da Acumen – que acompanho de perto há vários anos – está a visão de que nem os mercados, tampouco o apoio filantrópico, darão conta de resolver os problemas da pobreza no mundo. Hoje, mais de dois milhões de pessoas não têm acesso a bens e serviços básicos como água potável, eletricidade, educação, liberdade de participar da economia. Diante desse panorama, a organização aporta um olhar baseado na dignidade, no qual todos os seres humanos tenham acesso às mesmas oportunidades. A partir desse entendimento, investem em empresas e agentes de mudança social e econômica.

“A Acumen foi fundada para mudar a forma como o mundo enfrenta a pobreza. Realizamos investimentos de longo prazo em empreendedores intrépidos, dispostos a ir aonde os mercados e os governos falharam com os pobres. Permitimos que as empresas experimentem e fracassem, nunca vacilando no compromisso de apoiar os vulneráveis e compreendendo que a rentabilidade é necessária para soluções sustentáveis. Investimos mais de 110 milhões de dólares no sul da Ásia, na África, na América Latina e nos Estados Unidos. O trabalho ensinou, também, que era fundamental investir em talentos de diferentes raças, classes, etnias, religiões e ideologias. Eles formam um grupo lindo, cheio de visão e coragem, e uma determinação de fazer o que é certo. Medimos o que importa, em vez de apenas o que podemos contar. Junte tudo isso e você verá nossa missão de fazer o que for preciso para construir um mundo no qual todos nós tenhamos a chance de sonhar e florescer, não a partir de um sentimentalismo fácil, mas pela via do compromisso de usar as ferramentas do capitalismo e os atributos da liderança moral para se concentrar em fazer o que é preciso, e nada menos”, conta Jacqueline, fundadora e CEO da Acumen.

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A organização tem por foco três pilares táticos. Em Investimentos pioneiros, aporta capital paciente em empresas em fase inicial, cujos produtos e serviços permitem aos mais vulneráveis transformar suas vidas. Também apoia com ferramentas, redes, assistência técnica e orientação estratégica necessária para o sucesso e a escala das soluções de longo prazo para combater a pobreza.

Para colocar de pé o segundo pilar, Jacqueline e equipe criaram a Acumen Capital Partners – responsável por estruturar e administrar fundos que preenchem uma lacuna crítica das empresas sociais; os fundos criados apoiam empresas estabelecidas e de alto potencial para catalisar soluções escaláveis que proporcionem retornos sociais e financeiros. O terceiro eixo é a Academia Acumen, que atende uma comunidade de inovadores e construtores sociais com ferramentas, práticas e recursos necessários para dar suporte às soluções criadas.

Oito princípios de investimento servem como compromisso da Acumen de usar o capital onde é mais necessário para libertar inovações nascentes – que, embora promissoras não recebem suporte de investidores.

Entre esses princípios, usar o poder dos investimentos para mudar sistemas e catalisar mercados; investir na compreensão dos problemas complexos da pobreza e estruturar, a partir desse conhecimento, os investimentos; utilizar o capital paciente para preencher lacunas de financiamento nos mercados capitais (investir em modelos de negócios com alto risco na fase inicial); acompanhar as empresas investidas com apoio estratégico; medir e gerir o impacto das empresas investidas; definir o sucesso com base nos interesses de todos os stakeholders (não somente acionistas) e a sustentabilidade financeira em longo prazo; construir parcerias que catalisam as mudanças sistêmicas; e partilhar ideias e lições para acelerar a expansão ou replicação de soluções empresariais para combater a pobreza.

Combate à pobreza na ponta

Para tornar tangível essa forma de atuar, cito um dos negócios apoiados: Cacau da Colômbia, primeira empresa colombiana a adquirir e produzir localmente um chocolate premium na região. Ao fornecer assistência técnica e formação ambiental – estruturando uma cadeia de abastecimento mais confiável e competitiva –, a iniciativa permite aos produtores de cacau melhorar a qualidade e a produtividade, além de aumentar os seus rendimentos.

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Atuando como ponte entre os produtores locais de grãos e a indústria internacional de chocolate de qualidade, o negócio tem ajudado a transformar a cadeia de valor a partir de uma atividade econômica competitiva e, ao mesmo tempo, introduz alternativas viáveis à indústria de culturas ilícitas da Colômbia, que alimentam um ciclo de violência e pobreza.

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Como impacto social do apoio de US$ 1,15 milhão à empresa Cacau da Colômbia, via Fondo Pionero, a Acumen aponta que a iniciativa combate um problema bastante sério: 50% dos agricultores colombianos das regiões produtoras de cacau estão empobrecidos.

Com o suporte iniciado em 2015, a operação impacta de 1.000 a 1.300 pequenos agricultores, aumentando os seus rendimentos entre 56% e 82%. Além disso, o negócio atua com agricultores que integram cooperativas, portanto, o apoio tem ajudado a reconstruir o tecido social nas comunidades, restabelecendo a confiança e proporcionando uma alternativa viável ao comércio ilegal de drogas.

A Acumen adota a política de o produtor se tornar acionista minoritário da empresa, pois isso permite que ele ocupe uma posição no conselho diretivo e participe das decisões estratégicas. No caso da Cacau da Colômbia, empregou o mecanismo híbrido que inclui capital em ações e notas conversíveis em ações.

Com o passar dos anos, foi possível aprofundar e fortalecer a tese inicial do modelo de negócio, empregar a maior parte do investimento na construção de uma fábrica – a planta de produção, inclusive, permitiu a fabricação de barras de chocolate próprias, aumentando o volume de compras e preços mais estáveis para os produtores. Na prática, a compra de cacau subiu para oito regiões (inicialmente eram cinco).

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Na análise da Latimpacto, que estuda cases de investimento social e tendências na América Latina “[...] o modelo de investimento de capital paciente, e sobretudo financiado por capital filantrópico como o do Fondo Pionero, representa uma importante oportunidade para o investimento social em contextos complexos, como áreas rurais e de pós-conflito na Colômbia, que requerem uma abordagem de longo prazo para alcançar resultados plausíveis.

A essência filantrópica desse capital permite, por sua vez, dar foco na geração de impacto social e ambiental positivo, em comunidades historicamente isoladas da dinâmica do mercado formal. E embora a demanda por cacau de alta qualidade continue sendo limitada, existem oportunidades para a realização de intervenções complementares em produtividade, redução dos preços de transporte, acesso a financiamento, assistência técnica e insumos, entre outras, que poderiam promover uma distribuição mais disseminada dos lucros do cacau e ajudar mais produtores, bem como criar um ambiente mais favorável para um setor produtor de cacau mais competitivo e inclusivo.”

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