O empreendedorismo de impacto tem abarcado iniciativas de diferentes espectros. Uma hipótese especulativa é que isso ocorra, justamente, pela ênfase em responder aos principais desafios sociais e ambientais contemporâneos. Em conversa com Judá Nunes – especialista em Educação para a Inclusão da Diversidade e gestora de projetos na TODXS –, uma modalidade que tem endereçado soluções de acesso de grupos minorizados ao mundo do trabalho é o empreendedorismo inclusivo.
Esse conceito diz respeito a negócios e iniciativas de empreendedorismo dentro de organizações sociais, cuja intenção estratégica é a inclusão de pessoas que não têm oportunidades reais de ocupar vagas oferecidas pelo mercado de trabalho formal – seja pelas práticas culturais de recrutamento e seleção, seja pela ausência de programas consistentes de diversidade nas empresas. Em primeira instância, os empreendimentos inclusivos podem ser entendidos como articulações que lutam contra a exclusão social, as desigualdades socioeconômicas e a pobreza extrema.
Judá ressalta que muitas empresas de diferentes portes, embora entendam a importância da diversidade como estratégia de negócio, seguem com o apartheid social. Ou seja, conduzem programas de inclusão de funcionários diversos, mas criam espaços exclusivos para eles em vez de realmente inclui-los no core da organização. Esse formato convencional e sem apoio especializado resulta em programas pouco ou nada eficientes, já que carecem de informação qualificada, orientação e suporte de quem realmente entende. Essa prática, aliás, não é exclusiva do mercado de trabalho, como está presente em toda a estrutura social que afasta ou impede que pessoas diversas acessem espaços.

Em uma leitura mais acurada, as pessoas transgêneros, travestis, negros e negras, população LGBTQIAPN+, PcD e 50+ enfrentam um processo de exclusão social tão brutal que pode se tornar um motor que os empurra em direção a marcadores sociais de escassez de oportunidades e recursos financeiros. Transformar a realidade de segregação demanda um apoio real à construção, ao lançamento e à manutenção de novas organizações e de modelos de negócios inclusivos – principalmente os que ajudam outras ONGs a cumprirem um papel fundamental na inclusão.
Felizmente, já temos exemplos de negócios de impacto e organizações que estão na vanguarda desse empreendedorismo inclusivo. Essa lista criada por Judá Nunes reúne 10 iniciativas que apoiam empresas e pessoas diversas na luta pela Inclusão Produtiva.
EDUCATRANSFORMA | Projeto formado por trilhas de aprendizagem, voltado a capacitar, gratuitamente, as pessoas trans a atuarem no mercado de tecnologia, gestão e inovação.
BLEND EDU | Startup especialista em inovação para a diversidade que, com o programa Diversidade SA, criou uma comunidade de aprendizagem que reúne as organizações comprometidas a aprender a colocar a diversidade em prática.
TRANSCENDEMOS | Empresa de consultoria que apoia organizações a se tornarem mais inclusivas.
VALE PCD | Organização que mapeia espaços acessíveis (Vale Maps) e cria conteúdos anticapacitistas associados à acessibilidade de espaços e eventos; saúde; e mercado de trabalho.
MATURI | Startup que apoia estratégias de diversidade etária e geracional, capacitando as empresas e organizações sobre as mudanças demográficas e o impacto delas no mercado de trabalho.
TRANSEMPREGOS | Maior e mais antigo projeto de empregabilidade de pessoas trans no Brasil. Gratuitamente, os usuários podem se inscrever em cursos de formação; as empresas podem anunciar vagas.
EMPREGUEAFRO | Consultoria em Recursos Humanos focada em diversidade étnico-racial.
TODXS | Criada em 2017, desenvolve projetos de impacto e consultoria que apoiam empresas nos desafios da inclusão e diversidade, assim como conduz iniciativas de empreendedorismo e inclusão produtiva de grupos LGBTQIAPN+.
ALICERCE EDUCAÇÃO | Empresa de impacto social focada em desenvolver a base educacional de pessoas de qualquer idade e contexto social. São integrantes do Pacto Global da ONU no Brasil.
CONSULADO DA MULHER | Organização que visa à autonomia das mulheres por meio do empreendedorismo; apoia as empreendedoras com assessoria na gestão de micronegócios e capacitação para adquirir autonomia financeira e sair da informalidade.