Ele fez chocolate com farinha de mandioca para deixar crocante, vendeu tudo e tem fila de espera

Leandro Brasil, do Acre, investiu na Além do Cacau depois de perceber lacuna no mercado de chocolates nobres; empresa prevê abrir franquias no próximo ano

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Foto do author Geovanna  Hora

Misturar farinha de mandioca com chocolate pode parecer estranho à primeira vista, mas é o segredo por trás de um chocolate regional do Acre. O chocolate se chama O Acre Existe e é feito pela empresa Além do Cacau, uma loja multimarca de chocolates especiais, com unidades em Rio Branco (AC) e Foz do Iguaçu (PR).

O negócio foi fundado em 2021 pelo fisioterapeuta Leandro Brasil, de 37 anos. Ainda neste ano, ele pretende negociar as primeiras franquias da empresa.

Um chocolate do Acre que vai além do cacau

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Dono de uma clínica de reabilitação física, Brasil queria investir em um novo negócio em Rio Branco e chegou a participar de reuniões para abrir uma franquia da Cacau Show, mas não teve afinidade com os produtos.

Ele decidiu estudar o segmento de chocolates e percebeu que havia uma dificuldade para encontrar itens com mais qualidade, já que não existiam empresas que reunissem diferentes opções em um único lugar.

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O empreendedor conta que fez uma busca na internet, montou uma lista com as melhores alternativas e foi até São Paulo para conversar pessoalmente com fornecedores. Ele experimentou mais de 70 marcas e escolheu 18 para comercializar.

Todas as selecionadas são premiadas e reconhecidas por serem bean-to-bar (do grão à barra, com controle de toda a produção feito pela mesma empresa). Esse modelo de fabricação exige um alto controle de qualidade desde a seleção do grão do cacau até a finalização do chocolate.

Os itens também precisam ter uma origem sustentável e valorizar todos os envolvidos no processo de produção. “Esse propósito já está no nosso nome, a gente precisa se preocupar com tudo que está além do cacau. Somos responsáveis por todo produtor de cacau, por todo funcionário e por garantir a preservação do meio ambiente.”

Educando o paladar: o desafio de vender chocolate especial

Brasil afirma que o maior desafio no início foi justificar para os clientes o motivo de o preço dos produtos ser mais alto em comparação com chocolates comuns no mercado.

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“As pessoas estranharam, porque eram marcas pouco conhecidas e com um valor elevado. A nossa missão é educar o consumidor sobre o que é um chocolate especial”, diz o empreendedor.

Quem entra em uma das unidades é apresentado ao processo de produção, pode comparar o cheiro de amêndoas de origem controlada com as produzidas em larga escala e experimentar os produtos. A loja também comercializa bebidas para serem consumidas no local.

Leandro Brasil, criador da marca Além do Cacau. Foto: Divulgação/Além do Cacau

“O atendimento precisa ser fenomenal, não existe outra opção, porque a gente não vende só o chocolate, na verdade, a gente vende um conceito”, explica. O ticket médio da loja é de R$ 68.

A receita do sucesso: farinha de mandioca e chocolate

Em 2024, a Além do Cacau decidiu que era o momento de investir em um chocolate de fabricação própria. A ideia de apostar na farinha de mandioca para dar crocância ao chocolate foi inspirada na tradição acreana de comer farinha com leite condensado.

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Brasil conta que a farinha utilizada é sempre de Cruzeiro do Sul, cidade a 90 km de Rio Branco. A farinha de Cruzeiro do Sul é considerada patrimônio cultural do Acre e foi o primeiro produto do Estado a receber o selo de indicação geográfica (IG), concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) para agregar valor a itens tradicionais de determinadas regiões.

“Pedi ajuda para um fornecedor e uma ‘chocolate maker’ de São Paulo e eles acharam estranho no início, mas depois de provarem, entenderam que daria certo. A parte mais difícil foi achar o ponto certo da torra da farinha para garantir que ela não perdesse a crocância”.

O nome do chocolate (O Acre Existe) foi uma brincadeira com a pergunta que ele sempre ouvia quando falava da sua origem para pessoas de outras localidades.

Brasil afirma que o primeiro lote do chocolate, com cerca de 400 unidades, foi planejado para atender a demanda de um mês, mas se esgotou no dia do lançamento. Cada barra de O Acre Existe tem 40 gramas e custa R$ 20,45.

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Produção em pequena escala é estratégia do negócio

Com o produto esgotado, Brasil abriu uma lista de espera. Após a venda do segundo lote, a fila ainda conta com cem pessoas, que não têm previsão exata para serem atendidas. “A nossa ideia é não ter o chocolate sempre à disposição. Os lotes pequenos ajudam a valorizar a cadeia produtiva e mostram que, às vezes, a gente tem que esperar para conseguir o que quer.”


O sucesso de O Acre Existe já atraiu o interesse de importadores de Estados Unidos e Dubai. A embalagem do produto será adaptada para a nova fase e contará a história do Acre e da farinha Cruzeiro do Sul em inglês e português.

A segunda linha autoral da Além do Cacau está em desenvolvimento. Com o nome Nossa Amazônia, ela deve trazer chocolates com frutos populares da região norte, como cupuaçu e açaí.

A expansão da Além do Cacau: de Rio Branco a Foz do Iguaçu

A segunda unidade foi inaugurada em abril em Foz do Iguaçu. A mais de 3.000 quilômetros de distância da terra natal de Brasil, a região foi escolhida por ser a terceira mais procurada por turistas estrangeiros no País. A cidade fica atrás apenas do Rio de Janeiro e de Gramado (RS), de acordo com dados da plataforma TripAdvisor.

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“Foz do Iguaçu é uma cidade com menos de 300 mil habitantes, mas com demanda de cidade grande, já que chegou a receber 2 milhões de turistas em um ano. A gente percebeu que era um ponto que ajudaria a lançar a marca para o Brasil e o mundo.”

Além das duas lojas, a Além do Cacau também tem parcerias com resorts de Foz do Iguaçu que fazem uma degustação guiada e vendem produtos da marca.

Nos primeiros quatro meses de funcionamento, o faturamento da segunda unidade chegou a R$ 176 mil. No mesmo período, a arrecadação na matriz de Rio Branco foi de R$ 105 mil. Brasil afirma que a expectativa é dobrar o faturamento nos próximos meses, especialmente na loja mais nova.

Franquias: o próximo passo para a Além do Cacau

O negócio foi desenvolvido desde o início para se tornar uma franquia, mas o processo foi mais desafiador do que o empreendedor imaginava. “Já faz um ano e meio que trabalhamos nisso, com ajuda de uma consultoria, mas a parte mais difícil é que não vendemos um produto, mas sim um conceito, o que exige mais atenção até na escolha do franqueado”, explica.

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A previsão da empresa é negociar as operações ainda em 2024 para conseguir inaugurar seis franquias no próximo ano, com expectativa de faturamento na casa de R$ 1 milhão em cada unidade.

Avaliação de clientes

A Além do Cacau recebeu uma classificação de 5 de 5 estrelas no Google, com 32 avaliações até a publicação desta matéria. Todos os comentários são positivos e destacam a qualidade dos produtos e do atendimento.

Os autores das notas concedidas não podem ser verificados. Eventualmente, comentários positivos ou negativos podem ser uma ação a favor ou contra a empresa.

A loja não tem um perfil verificado no Reclame Aqui.

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Especialista dá dicas para investir em chocolates

A produção de chocolate no Brasil cresceu 6% em 2023 em relação a 2022 e chegou a 805 mil toneladas, de acordo com um levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab).

O consumo por pessoa passou de 2,8 kg em 2015 para 3,9 kg em 2023. O Brasil ainda ocupa a quinta posição entre os países que mais vendem o doce no varejo, atrás de Estados Unidos, Alemanha, Rússia e Reino Unido.

O consultor de negócios do Sebrae-SP Ruy Barros explica que, apesar de serem alimentos, os chocolates nobres concorrem com o setor de presentes, o que torna essencial o investimento em embalagens que atendam a função.

“Quando a pessoa compra um chocolate especial, ela não quer apenas realizar um desejo, ela quer se sentir presenteada ou fazer com que alguém se sinta assim. Os concorrentes não vão ser lojas de doces comuns, vão ser joalherias e perfumarias, por exemplo”.

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Barros sugere que o ponto físico da empresa esteja em um endereço de grande fluxo, como os shoppings, já que as pessoas, na maior parte das vezes, compram chocolates por impulso.

Ele também recomenda que o empreendedor busque se especializar e participe de capacitações para conseguir cuidar da parte operacional do negócio, já que a inexperiência pode levar ao fechamento precoce.

Cuidados com as franquias

Para quem quer transformar seu negócio em uma franquia, o especialista afirma que isso pode ser uma boa opção para alcançar um público maior com menos investimento, uma vez que os gastos com a aquisição e montagem ficam com o franqueado.

Outro ponto positivo é que o empreendedor tem a chance de dedicar mais tempo ao desenvolvimento de novos produtos, porque as funções operacionais passam para o franqueado.

Apesar de popular, o modelo também tem um lado negativo. Barros explica que, se a pessoa que adquirir a franquia não cumprir com todos os requisitos propostos pela marca, o impacto pode ser prejudicial para toda a rede de lojas.

“É essencial que a empresa tenha mais de 12 meses em operação, para garantir que ela já foi testada e funciona no mercado brasileiro. Esse período também ajuda a definir e padronizar os processos. Antes desse tempo, o empreendimento não tem a consolidação necessária para se tornar uma franquia”, avalia.

A primeira dica de Barros para quem quer se tornar franqueador é construir o perfil que procura em um franqueado. Ele explica que é impossível encontrar alguém que seja exatamente igual ao fundador da empresa, mas que o ideal é buscar por pessoas que sejam semelhantes e entendam a filosofia da marca.

Depois, é importante estabelecer as taxas que serão cobradas, o que inclui o investimento inicial, os royalties e os gastos com propaganda.

Um passo essencial é projetar cenários, desde o mais otimista até o mais pessimista, para que o franqueado possa ter uma boa referência do potencial do negócio.

Barros também destaca a importância de ter atenção ao local escolhido para o ponto físico, já que o ideal é optar por um endereço que seja frequentado pelo público-alvo da marca.

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