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Papelaria do interior cresce com vídeos de borrachas e canetas no TikTok e fatura R$ 3,8 milhões

Publicações da Papelaria Judá, de Campinas (SP), acumulam milhões de visualizações no TikTok e Instagram e atraem clientes para lojas

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Foto do author Adele Robichez
Por Adele Robichez
Atualização:

A empresária paraense Raissa Specian, 30, faz sucesso nas redes sociais mostrando borrachas, canetas, lápis e apontadores em vídeos. Dona da papelaria Judá, em Campinas (SP), ela acumula mais de 750 mil seguidores no TikTok da marca, que atingiu o faturamento de R$ 3,8 milhões em 2023.

Formada em administração, Specian inaugurou a papelaria em fevereiro de 2014, seguindo o conselho da mãe, que observava a filha vendendo itens desde criança, na escola. “Meu pai viajava e eu pedia para ele voltar com coisas para eu revender. Sempre gostei disso”, afirma.

Fachada da Papelaria Judá, em Campinas Foto: Divulgação/Papel

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As coisas aconteceram de maneira quase “mística”, diz Specian. Certo dia, sua mãe recebeu a ligação de uma colega, dizendo que pressentia três “viradas de chave” na sua vida: o casamento de Raissa; a construção da sua casa; e outra coisa que ela saberia quando visse.

Pouco depois, sem muitos detalhes, levou a filha até uma portinha apagada e disse: “Se gostar, me fala”. O lugar era uma papelaria, que a mãe conheceu quando foi comprar o material escolar dos irmãos de Specian. Apesar de pouco atrativa visualmente, ela gostou da loja.

Specian casou-se em um sábado, 8 de fevereiro de 2014. Na segunda-feira, dia 10, fechou o contrato com a loja, onde investiu R$ 50 mil para inaugurar.

No ano seguinte, a mãe concluiu a reforma da sua casa. Inicialmente, os pais figuravam como proprietários da papelaria, enquanto Specian foi registrada como funcionária. Depois, ela e o marido foram incluídos como sócios.

Nascimento da filha alavancou negócio

Nos primeiros anos, Raissa Specian tocou o negócio sem priorizá-lo. Faturava R$ 12 mil por mês. Gastava R$ 2 mil no aluguel da loja na época, tirava o seu salário e o da funcionária que a apoiava, pagava as contas e fazia reposição dos produtos. “A loja ficava no zero a zero”, revela Specian. Grávida da primeira filha em 2016, resolveu que teria que estruturar melhor o negócio para alavancá-lo.

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Com o nascimento da filha, o negócio passou a faturar R$ 540 mil e chegou a R$ 1,2 milhão em 2019. Nesse ano, um empréstimo de R$ 60 mil ajudou na mudança da loja: saiu de uma papelaria com produtos básicos e vendas em balcão para um espaço aberto com boa iluminação e produtos “fofos”, focado na experiência do cliente. Assim, atingiu R$ 3,8 milhões em 2023.

Itens da Papelaria Judá Foto: Divulgação/Papel

Os itens de maior saída da marca são canetas, hidrocores e lápis. “Tudo que é de escrita”, resume Specian. O ticket médio das vendas está entre R$ 120 e R$ 140. Hoje, a papelaria Judá tem duas lojas em Campinas, uma no Jardim Nova Europa e outra em Botafogo.

Além disso, a marca mantém um terceiro espaço onde são armazenados os produtos disponíveis para a comercialização online, pelo site da marca, e para o clube de assinatura, no qual os assinantes recebem uma caixa mensal com produtos temáticos da papelaria.

Fazer vídeos para redes sociais virou ‘vício’

A primeira conta da marca foi criada em 2017, no Instagram. Naquele ano, a loja tinha menos de 1 mil seguidores, mas já realizava vendas com as suas publicações: “fotos no feed com constância e estética adequada para a época”.

As pessoas logo passaram a ir até a loja, atraídas pelas publicações. “Viu e quis comprar? Aquilo me fascinou. Naquele mesmo instante, fiquei viciada. Decidi que me dedicaria completamente a isso”, relembra.

Hoje com mais de 503 mil seguidores no Instagram e 750 mil no TikTok, a loja acumula milhões de visualizações com vídeos que mostram os produtos de maneira criativa.

De acordo com Specian, eles são escolhidos com base na necessidade e no estoque da loja, mas também são feitos espontaneamente.

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“Fazemos vídeos dos produtos que temos em estoque nos nossos três endereços. Outro critério é o treinamento sobre o produto, as vendedoras têm que saber explicar a importância dele ao serem abordadas nas lojas”, diz a empresária.

Uma vez por semana, a empresa faz uma reunião de “produto-foco”. Nesse encontro, Specian explica para as gerentes das lojas qual é o produto que será trabalhado nas redes sociais e que precisará de uma reposição mais atenta nas prateleiras. Hoje a marca conta com 17 funcionárias.

Empresária se tornou influenciadora digital

O sucesso da Papelaria Judá se voltou também para a vida pessoal de Raissa Specian, hoje influenciadora digital. Em 2021, ela resolveu abrir as suas contas para o público e passou a compartilhar alguns aspectos da sua vida pessoal, além de relatos e dicas profissionais.

“Hoje as pessoas não têm mais interesse somente pela marca. Elas querem saber o motivo de comprar na loja, mas também querem conhecer quem administra o negócio”, afirma.

Ela acha prazerosa a troca com outros empresários e clientes, além de ser beneficiada tanto pela monetização das redes sociais, quanto por contratos com marcas que querem visibilidade.

Assim, os negócios e a vida pessoal se misturam. O tema da caixa recebida pelos participantes do clube de assinatura da marca neste mês, por exemplo, foram as cores do tema do “Chá Revelação” do seu quarto filho: violeta e menta.

No mês que vem, será “Café da Manhã de Hotel”, com itens de papelaria em formato de abacate, torrada e leite.

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Para 2024, Specian não tem planos de crescimento por conta do nascimento do novo filho, mas quer manter o faturamento do negócio.

Reputação

A unidade da Papelaria Judá Jardim Nova Europa tem 487 avaliações no Google, com nota 4,6 de 5. A nota mínima, uma estrela, foi dada por 13 pessoas.

As principais queixas se referem à entrega e troca das compras online e ao atendimento na loja.

O estabelecimento em Botafogo tem 89 avaliações, com nota 4,8. Apenas um cliente concedeu a nota mínima à loja, citando dificuldade com a troca dos produtos. A maioria dos comentários foi respondida pela empresa.

Rede social democratizou comunicação das empresas, diz especialista

Para o consultor de negócios do Sebrae-SP Alexandre Giraldi Moreira, as redes sociais trouxeram a democratização da comunicação para as empresas.

“Antes, somente as grandes empresas tinham a oportunidade de impactar muitas pessoas, usando as grandes mídias, que são caras. Hoje, as redes sociais permitem que pequenas empresas alcancem o mesmo volume de pessoas gratuitamente ou pagando pouco”, explica.

Ele enxerga as redes sociais como uma ferramenta de mídia que tem como foco o entretenimento. É justamente isso que as empresas devem usar ao seu favor ao promover produtos.

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“O ideal é que o produto seja mostrado de maneira espontânea, incentivando a venda subjetivamente. É melhor mostrar o quão interessante e útil é o produto, sem necessariamente empurrar a venda diretamente”, orienta Moreira.

O consultor diz que as pessoas buscam se identificar de alguma forma com as comunicações das lojas nas redes sociais. Para isso, a melhor maneira é conectar a marca às pessoas por trás dela. “Mostrar quem está na linha de frente do negócio é uma das formas mais acertadas de gerar conteúdo hoje”, afirma.

Em redes sociais onde há diferentes opções de formatos de publicação, Moreira recomenda que sejam exploradas entre quatro a cinco possibilidades.

Para cada formato (como story, vídeo, reels, foto no feed, carrossel de fotos ou vídeos, no caso do Instagram), ele orienta que haja uma “linha editorial”, usando diferentes temas e abordagens, para identificar o que é mais interessante para o seu modelo de negócio.

Em relação ao número de publicações, Alexandre Moreira destaca que “quanto mais presente na mente do cliente, melhor”.

Ele diz que, para que a marca seja lembrada pelo, ela precisa aparecer entre cinco a nove vezes por mês.

Mas, considerando que o algoritmo não entrega todos os conteúdos para os seguidores, o ideal é manter uma maior frequência para aumentar as suas chances.

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Além de seguir as normas da comunidade das plataformas e a legislação brasileira, a empresa deve criar os seus próprios conteúdos.

“Tem que ter a construção própria do negócio porque isso vai criar uma relação direta com os clientes e não vai precisar pedir direito de uso para o proprietário de outro conteúdo”, exemplifica.

Para vídeos, ele ressalta a importância de se atentar à qualidade do som, maior fator de abandono por parte de quem assiste.

O empresário também pode usar ferramentas de inteligência artificial. “Para ter ideias de roteiro, o empresário pode pedir para construir um roteiro para uma campanha promocional de 60 segundos para o TikTok, por exemplo”, diz.

Também há editores de vídeo gratuitos disponíveis nas lojas de aplicativos para smartphones que melhoram a qualidade da imagem e do som.

“Não precisa de um ambiente perfeito, nem de equipamentos profissionais, basta ter um pouco de cuidado”, avalia.

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