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Startups de educação apostam no ensino básico digital

Empresas começaram a explorar inicialmente mercado de escolas privadas, mas vão agora devem focar também o setor público

Por Bianca Zanatta

A experiência do ensino remoto durante a pandemia revelou uma grande oportunidade de negócio no setor de educação, mas também trouxe à tona as dificuldades enfrentadas por escolas, professores e alunos. Nesse cenário, algumas startups decidiram unir forças e criar metodologias adequadas para o ambiente virtual no ensino básico.

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Em 2021, cerca de 800 líderes educacionais se reuniram no Congresso Brasileiro de Gestão Educacional para debater questões como a falta de estrutura, desigualdade social e políticas públicas educacionais insuficientes para que a educação brasileira conseguisse expandir a digitalização dos processos de ensino.

Outro conceito explorado pelos especialistas foi a transição de um mundo VUCA (sigla em inglês para “volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade”) para um mundo BANI (termo usado para definir uma realidade frágil, ansiosa, não linear e incompreensível). Essas seriam as características da geração de alunos que está chegando agora à educação básica.

Eline Cavalcanti, da D2L, diz que empresa tomou cuidado na construção do produto, principalmente para que o conteúdo saísse um pouco do padrão tradicional. Foto: Davi Mourão

Para sanar a falta de familiaridade de professores e alunos com o ensino a distância (EAD), pouca motivação para o aprendizado digital e adoção de uma metodologia pedagógica adequada ao meio tecnológico, cinco empresas digitais se uniram recentemente em uma solução integrada inédita no Brasil. A canadense D2L, que atua no mercado global de LMS (sistema de gestão de aprendizado) há 23 anos, juntou-se às parceiras Amazon Web Services (AWS), Raíz Educação, Layers e Dreamshaper no novo projeto Coeducar, um ecossistema completo para escolas de ensino básico.

A D2L entra com a plataforma, a Raíz Educação com o conteúdo, a AWS com a infraestrutura, a Layers com a comunicação e a Dreamshaper com a regulamentação e transição para o Novo Ensino Médio, que começa a ser introduzido ainda este ano.

Com 20 mil alunos já plugados de maio para cá, o grupo focou primeiro no ensino privado, mas o objetivo é chegar ao ensino público em 2023. “Tivemos muito cuidado na construção do produto, principalmente para que o conteúdo saísse um pouco do padrão tradicional, com referências mais frescas, trazendo o que está acontecendo na atualidade”, diz a diretora de canais e novas parcerias da D2L, Eline Cavalcanti.

Ela destaca que a ideia foi desenvolver uma solução economicamente acessível, customizada de acordo com o tamanho da escola para atender a todos os players do mercado. “Mas o grande valor é ser um único ponto de contato que resolve o problema de precisar de um servidor próprio, infraestrutura, equipe de TI”, sublinha.

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Outra preocupação foi a acessibilidade, já que a grande parte dos lares brasileiros ainda não tem internet de qualidade. “O aplicativo é super leve, roda tranquilamente em um 3G”, diz Eline. “Em relação à tecnologia, houve muito cuidado com acessibilidade em todos os sentidos. Educação inclusiva para todos é a bandeira da empresa.” A projeção, de acordo com ela, é crescer três vezes até o ano que vem, tornando a solução cada vez mais barata e, portanto, democrática.

Da educação financeira à básica

Outra que saiu à frente na entrega de uma educação digital funcional é a plataforma Tindin, fundada em 2018 pelos sócios Eduardo Schroeder e Fábio Rogério, de Maringá (PR). Originalmente uma edtech (startup de educação) financeira, a empresa nasceu no modelo B2C (Business to Consumer) e mudou em 2020 para o B2B (Business to Business).

“Nosso propósito era – e continua sendo – educar toda criança para a vida, porque já acreditávamos que os modelos tradicionais de ensino eram muito conteudistas e pouco focados na vivência e aplicação prática do conhecimento”, diz Schroeder, especialista em negócios e CEO da empresa. O pacote da Tindin inclui um metaverso com gamificação imersiva com conteúdos de educação financeira, educação para o consumo e pensamento computacional.

Segundo ele, a semente da ideia brotou de uma situação doméstica. “Aos três anos e meio de idade, meu filho sucumbiu ao consumismo infantil. Foi quando descobri que nenhuma idade era precoce demais para aprender sobre finanças”, conta. “Na ocasião, apliquei o conceito de mesada educativa e observei uma transformação quase mágica no comportamento dele.”

Eduardo Schroeder e Fábio Rogério são sócios da Tindin. Foto: Beatriz Nascimento Brito

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O executivo explica que mais tarde descobriu que não era o único com aquele problema em casa. “A ausência de educação financeira na infância já era considerado um problema geracional que, segundo a OCDE, é capaz de afetar todas as sociedades, gerando cidadãos inaptos a gerenciar riscos, propensos ao endividamento descontrolado e incapazes de prover cuidados satisfatórios com a própria saúde e a velhice.”

Foi com a chegada da pandemia, no entanto, que o negócio cresceu para abraçar a educação básica como um todo. “Apesar de não fazer tanto tempo, na época não se falava em ensino remoto para a educação básica. Aliás, boa parte dos modelos educacionais tradicionais tinham repulsa quanto ao uso da tecnologia na educação de crianças e adolescentes”, afirma o empreendedor.

“Isso de certa forma mudou ‘via fórceps’ com a chegada da covid-19. O problema é que só tecnologia sem método não funciona na educação, por isso assistimos o déficit educacional durante a pandemia.” Para ele, não basta só adaptar ferramentas corporativas ao mesmo modelo de aula que acontecia em sala. “Foi quando descobrimos nossa vocação para engajar alunos e melhorar a retenção do aprendizado na educação básica no modelo de ensino híbrido e remoto multidisciplinar.”

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Hoje a Tindin é um ecossistema de aprendizagem com foco naquilo que o aluno de fato aprende, e não no que é ensinado, segundo Schroeder. Tracionada por investidores como FEA Angels, Gávea Angels, Urca Angels e UniAngels, a plataforma já atende mais de 2,6 mil instituições de ensino, predominantemente privadas.

O objetivo agora é ampliar o acesso. Depois de realizar diversas iniciativas que tiveram impacto na vida de milhares de alunos em situação de vulnerabilidade através de projetos ESG patrocinados por prêmios e empresas privadas, a edtech começou a construir um modelo B2G (Business to Government) para atender também a rede de escolas públicas de ensino básico.

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