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Opinião|Educação climática para valer

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convidado
Por José Renato Nalini

O ambientalismo no Brasil nasceu na década de setenta. Eram tempos de Paulo Nogueira Neto, o primeiro Secretário do Meio-Ambiente, eis que o Ministério ainda não fora criado. De Marina Silva, a seringueira que se alfabetizou quase adulta e que passou a ser a “grife verde” do governo. De Aziz Ab Saber, que foi o artífice do tombamento da Serra do Japi, antes que ela fosse engolida pela especulação imobiliária. Era de Chico Mendes, vítima dos algozes anti-natureza, assim como o foi a religiosa Dorothy Stang.

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O constituinte de 1988 foi audaz. Elaborou o mais belo dispositivo fundante do século XX, o artigo 225 de nossa Constituição. Teve a coragem de erigir à condição de sujeito de direito o nascituro. As atuais gerações são responsáveis por legar um ambiente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida das futuras gerações.

Em 1992, quase duzentos chefes de Estado vieram ao Brasil para a ECO, de que resultaram compromissos não cumpridos. Mas havia clima favorável à preservação ambiental, como forma de corrigir os erros que começaram com a chegada lusa no limiar do século XVI.

Desde o retorno à democratização, havia formal preocupação com a educação ambiental. Afinal, ninguém vai proteger o que não conhece. A exuberante natureza brasileira é desconhecida pela maioria da população, carente de educação de qualidade. Se ainda existem quase doze milhões de analfabetos em sentido estrito, o que se não dirá quanto aos analfabetos ecológicos, que podem superar os cem milhões?

Só que nunca se levou a sério a obrigação de se educar ambientalmente a população. O máximo que pode acontecer é a inclusão de uma disciplina a mais no inadequado currículo feito para que os educandos “decorem” informações. A despeito de disporem de celulares que permitem acesso imediato a dados atualizados, coloridos, audiovisuais, sonoros. Impossível que a aula preleção convencional concorra com a sedução do mundo web.

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Só que a educação climática talvez seja a maior urgência contemporânea. Aquilo que aconteceu no Rio Grande do Sul continuará a ocorrer e com frequência e intensidade maiores. Acompanho a professora Mercedes Bustamante quando acredita numa educação climática atraente, calcada na ciência, que tem sido muito precisa ao advertir a humanidade de que ela nunca esteve tão próxima a ser extinta.

Chega de transmitir informações inúteis ao alunado. Agora é o momento de usar adequadamente educação e ciência, que “são os motores de transformação da sociedade e desempenham um papel fundamental para moldar novos caminhos para o mundo”. É urgente “educar cidadãos globais e entregar conhecimento e inovação à sociedade”.

Uma educação climática adequada às necessidades e perigos do Brasil se incumbiria de um “aprendizado diante de riscos, incertezas e mudanças rápidas. Não podemos mais prometer aos jovens uma atmosfera estável em suas vidas”. Não. O inesperado está aí, embora já não se possa dizer tão inesperado, tantos os avisos emitidos pela ciência e que não ecoaram na surdez coletiva de uma sociedade impregnada de egoísmo e desinteressada de atuar em relação ao destino comum a todos os viventes.

Não é necessário esperar outra catástrofe. Pois “as projeções mostram que grande parte do mundo será exposta a temperaturas substancialmente mais altas, e uma literatura acadêmica robusta e em rápido crescimento está documentando as consequências negativas da mudança climática, e das altas temperaturas sobre os alunos e a aprendizagem”.

Isso requer “abordagens participativas, interdisciplinares, criativas e orientadas pelo afeto para a educação sobre mudanças climáticas, envolvendo diretamente os jovens na resposta às complexidades científicas, sociais, éticas e políticas”.

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Abordagens que precisam ser feitas no âmbito da educação formal, todavia também na vertente informal. Transmitir a toda a sociedade as informações que ela precisa ter, quanto a alertas preventivos, providências a serem tomadas diante das calamidades, coordenação de cadeias cooperativas e adoção de soluções colaborativas. Incentivar a juventude que já nasce com chip e sob a influência algorítmica, a inovar e a criar esquemas de salvação para toda a população, notadamente aquela mais carente.

Bem observa Mercedes Bustamante que “a mudança climática não é apenas um fenômeno científico. É também uma questão social complexa, que exige mais do que ensino de conteúdo. “Clima” envolve as ciências naturais, enquanto “mudança” impõe o envolvimento das ciências sociais e humanas”. E como ela conclui: não temos o luxo da escolha. É para já! Educação climática para valer ou resignado auto sacrifício para o caos.

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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Werther Santana/Estadão
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