E-mails anexados à investigação contra o operador do PSDB Paulo Vieira de Souza registraram a suposta atuação do operador Rodrigo Tacla Duran no esquema de lavagem de dinheiro da empreiteira Odebrecht. Vieira de Souza, ex-diretor da Dersa, estatal paulista, foi preso pela Polícia Federal na Operação Ad Infinitum - 60.ª fase da Lava Jato - nesta terça-feira, 19, por suspeita de também operar no esquema.
Tacla Duran, foragido na Espanha, é, segundo a Lava Jato, 'Blackz'. Em mensagem de julho de 2011, ele escreveu a 'Waterloo', codinome do executivo Fernando Migliaccio - ligado ao Setor de Operações Estruturadas, o departamento de propinas da Odebrecht -, e citou o operador Adir Assad - delator da Lava Jato.
"Boa tarde; 1 - o Adir já falou comigo, hoje, 07/07 e comentou sobre a operação (tudo ok), eu tenho boa parte dos R$ disponível em SP já vou ajuda-lo e te ajudar, na OP sfiha entregarei o $$ para o Adir e ele faz o repasse para vc ok?", diz a mensagem.
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RELATÓRIO DE ANÁLISEDocumento
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MEINL BANKA ligação entre 'Blackz' e Rodrigo Tacla Duran foi estabelecida em 2017, quando a Procuradoria da República, no Paraná, analisou documentos obtidos no sistema Drousys, usado pelo Setor de Operações Estruturadas.
O objetivo inicial era verificar se os termos 'Blackz', 'Vampe' e 'Vampeta' referiam-se a Tacla Duran. Em delação, o executivo Olívio Rodrigues Júnior, ligado à Odebrecht, havia atribuído ao operador o codinome 'Blackz'.
Durante a investigação, a Procuradoria destacou alguns e-mails. Em mensagem de 19 de dezembro de 2014 enviada ao endereço 'blacz@sectrial.com', o destinatário é identificado por Rodrigo Tacla Duran. O remetente usa ainda o vocativo 'Caro Rodrigo'.
Em outro e-mail, de 16 de julho de 2013, o remetente 'feeling@drousys.com' encaminha a 'white@drousys.com' uma mensagem com de 'blackz@sectrial.com'. Segundo o Ministério Público Federal, 'Blackz' assina como 'Vampe'.
Uma terceira mensagem foi destacada pelos investigadores. Um e-mail vinculado a instituições financeiras reforça, segundo o Ministério Público Federal, a vinculação de Rodrigo Tacla Duran à conta 'blackz'.
Marcos Bilinski - executivo ligado ao 'banco de propina' da Odebrecht, em Antígua, e hoje delator da Lava Jato - denominou, em julho de 2013, o titular da conta 'blackz@sectrial.com' como 'Vamp'.
No conteúdo da mensagem encaminhada, 'Blackz' é chamado de 'Rodrigo'.
"Diante das evidências registradas nas mensagens selecionadas, e das vinculações do codinome Vampeta e Vampe com a conta blackz@sectrial.com, bem como outras indicações presentes em e-mails a Rodrigo e Rodrigo Tacla Duran, é possível inferir que esses codinomes Blackz, Vampeta e Vampe referem-se a Rodrigo Tacla Duran", informou o relatório.
O documento destacou ainda uma mensagem de 31 de março de 2013. No e-mail, segundo os investigadores, Tacla Duran fez um 'desabafo' e afirmou ter operado mais de US$ 300 milhões.
"Operei com vocês + de USD$ 300.000.000,00 e acredito eu que nunca trouxe problemas ou aborrecimento de qualquer natureza a vocês", dizia a mensagem.
"Desculpe o desabafo, pode até não parecer, porque eu brinco bastante, mas é que levo muito a sério este nosso negócio, porque neste nosso meio a lealdade e a palavra são muito importantes e nunca traí a confiança de ninguém, porque acredito, sim, que esta é a conduta mais adequada neste nosso meio, que o papel não existe, e é uma relação de confiança mútua."
O e-mail cita ainda os codinomes 'Dragão' e 'Juca', ligados a operadores financeiros. "Com esta situação expliquei ao Dragão que não vou + operar cheques para ele e que ele deve operar cheques com o Juca ou com qualquer um, porque não irei mais arrumar operação de cheques para ele, as quais não tem nada haver com a gata e só ficam criando oportunidades para este tipo de mal - entendido."
A reportagem está tentando contato com os citados. O espaço está aberto para manifestação.