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Inquérito vê cálculo político em fraudes nos dados de vacina; leia o que a PF diz sobre Bolsonaro

Relatório de 114 páginas subscrito pelo delegado Fábio Alvarez Shor indica que, além de burlar exigências sanitárias, ‘círculo próximo’ do ex-presidente se preocupava em manter bolsonaristas coesos

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Por Rayssa Motta , Pepita Ortega , Julia Affonso e Fausto Macedo
Atualização:
Celular de Bolsonaro foi apreendido pela PF. Foto: Wilton Júnior/Estadão Foto: Wilton Junior / Estadão

Ao pedir autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) para colocar a Operação Venire nas ruas, a Polícia Federal (PF) afirmou que as fraudes nos dados da vacinação da covid-19 foram motivadas pela guerra ideológica travada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na pandemia.

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A conclusão aparece na representação enviada pelo delegado Fábio Alvarez Shor, da Coordenação de Investigações e Operações de Contrainteligência, ao STF em 18 de abril.

“A recusa em suportar o ônus do posicionamento contrário a vacinação, associada à necessidade de manter hígida perante seus seguidores, a ideologia professada (não tomar vacina contra a covid-19), motivaram a série de condutas criminosas perpetradas”, diz um trecho do documento.

LEIA TODA A REPRESENTAÇÃO DA PF

A representação policial pediu buscas em endereços ligados aos investigados, incluindo na casa do ex-presidente em Brasília, e defendeu a prisão preventiva de seis pessoas.

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Um dos presos é o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência da República e braço direito de Bolsonaro. Ele foi o pivô da investigação.

A PF chama o suposto esquema de ‘estrutura criminosa’ e afirma que as fraudes teriam sido usadas por pessoas do ‘círculo próximo’ do ex-presidente para burlar regras sanitárias impostas na pandemia e, ao mesmo tempo, ‘manter coeso o elemento identitário do grupo em relação a suas pautas ideológicas’. “No caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a covid-19″, escreve o delegado.

Para a PF, as suspeitas de fraude têm conexão com a investigação das milícias digitais, que se debruça sobre a atuação de grupos organizados na internet para espalhar ataques e notícias falsas. O delegado afirma que as falsificações nos cartões de vacina são a ‘materialização no mundo real’ de uma estratégia que busca ganhos ideológicos, político-partidários e financeiros.

“Seja nas redes sociais, seja na prática de atos concretos de inserções de dados falsos de vacinação contra a covid-19, o elemento que une seus integrantes está sempre presente, qual seja, a atuação no sentido de proteger e garantir a permanência no poder das pessoas que representam a ideologia professada”, diz outro trecho da representação da PF.

A Polícia Federal cita, no mesmo documento, o chamado ‘gabinete do ódio’, que segundo a investigação ‘reverberou e amplificou por multicanais a difusão de notícias falsas envolvendo a pandemia e ataques à vacinação contra covid-19′.

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Os investigadores afirmam que os certificados de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro e da filha dele, Laura, de 12 anos, foram adulterados às vésperas das viagens da família aos Estados Unidos, em dezembro do ano passado, após a derrota eleitoral.

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COM A PALAVRA, O EX-PRESIDENTE JAIR BOLSONARO

“A defesa do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, reitera que este, em linha com a posição que sempre manteve, nunca recebeu qualquer imunizante contra covid-19. Na constância de seu mandato somente ingressou em países estrangeiros que aceitassem tal condição ou se dessem por satisfeitos com a realização de teste viral, procedimento adotado em diversas ocasiões. A ex-primeira-dama, Dona Michelle, conforme amplamente divulgado, foi vacinada, com imunizante de dose única, no ano de 2021. A filha menor do casal, por sua vez, foi proibida de receber qualquer imunizante em razão de comorbidades preexistentes, situação sempre e devidamente atestada por médicos. A contrario sensu do quanto amplamente noticiado na data de hoje, não haveria qualquer motivo para que o Ex-Presidente promovesse ou determinasse a confecção de certificados falsos.”

Paulo Amador da Cunha Bueno, Daniel Bettamio Tesser e Fábio Wajngarten

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