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Lei Geral do Esporte é avanço, mas clubes precisam melhorar governança interna, diz pesquisadora

Legislação aprovada no primeiro semestre tornou crime corrupção privada no âmbito do esporte; tema é debatido em seminário do Estadão em parceria com o Instituto Não Aceito Corrupção

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Foto do author Pedro Augusto Figueiredo
Foto do author Pepita Ortega
Por Pedro Augusto Figueiredo e Pepita Ortega

Embora a Lei Geral do Esporte, sancionada no primeiro semestre, represente um avanço na responsabilização de gestores e profissionais do esporte, os clubes ainda têm o desafio de melhorar sua governança interna para dar mais transparência à gestão, na visão de Agatha Paraventi, professora do Insper e da Cásper Libero.

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Um dos principais pontos da nova legislação é tornar crime a corrupção privada no âmbito do esporte, uma inovação que ainda não se aplica no âmbito privado nos demais setores. A pena é de 2 a 4 anos de prisão. A especialista, porém, destaca que um dos desafios é a profissionalização das estruturas dos clubes que são responsáveis pela fiscalização, como os conselhos deliberativo e fiscal.

“Hoje os estatutos dos principais clubes determinam a existência de um Conselho Fiscal, que recomenda-se que seja independente, mas quem aprova no fim as contas é o Conselho Deliberativo, que muitas vezes tem uma composição muito mais política do que isenta”, disse Paraventi.

Professora Agatha Paraventi foi uma das participantes da mesa que discutiu as inovações da Lei Geral do Esporte Foto: Reprodução / TV Estadão


Ela participou, ao lado do jornalista Mauro Beting e do presidente do Instituto Não Aceito Corrupção (Inac), Roberto Livianu, do 8º seminário Caminhos contra a Corrupção, que debateu a lei recém-criada. A conversa foi mediada pelo editor de Esportes do Estadão, Robson Morelli. A íntegra e as demais mesas do evento podem ser assistidas na TV Estadão.

O art.165 da lei determina que é crime “exigir, solicitar, aceitar ou receber vantagem indevida, como representante de organização esportiva privada, para favorecer a si ou a terceiros, direta ou indiretamente, ou aceitar promessa de vantagem indevida, a fim de realizar ou de omitir ato inerente às suas atribuições”.

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Roberto Livianu, que também é procurador da Justiça de São Paulo, avalia que o artigo pode representar o fim de um ciclo de impunidade e ajudar na melhora da imagem do esporte brasileiro, embora considere que outras medidas também são necessárias. “Tem que haver vontade política de reorganizar as coisas e passar a ter gestão íntegra, transparente e governança séria que presta contas e é democrática”, disse ele.

Roberto Livianu, procurador da Justiça de São Paulo, questionou formato das eleições para a CBF. FOTO: FELIPE RAU/ESTADAO  Foto: FELIPE RAU

Livianu criticou o que enxerga como falta de transparência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), responsável pela gestão do futebol brasileiro e da seleção, e das federações estaduais. “Não existe transparência e democracia”, declarou.

Segundo Mauro Beting, houve uma onda nas últimas duas décadas de gestores preparados para lidar com a administração esportiva no país, principalmente no futebol. Embora reconheça que houve evoluções, o jornalista demonstra ceticismo. “Leis relacionadas ao esporte no Brasil são iguais a goleiros frangueiros: não pegam”, ironizou.

Lei Geral do Esporte é oportunidade de conscientização da população

Agatha Paraventi afirma que é preciso ficar atento à forma como a nova lei do esporte brasileiro será regulamentada, pois isso irá influenciar na sua aplicação. Ela considera que por se tratar de uma área popular e que mexe com a paixão da população, a legislação é uma oportunidade para que a população compreenda as consequências da corrupção.

“A gente tem a oportunidade de traduzir para a sociedade esse artigo como um processo de educação, informação e engajamento nesse interesse público a favor do que é transparente e que tem governança”, explicou a professora. “Se a regulamentação for adequada, a gente terá resultados expressivos, que é o que temos acompanhado no âmbito da administração pública”, continuou ela.

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A Lei Geral do Esporte é um legado deixado pela ex-ministra da pasta, Ana Moser, que foi a responsável por negociar a aprovação do projeto junto ao Congresso. “É um legado deixado por ela”, disse Livianu. “Lamentavelmente, ela não continuou à frente do [Ministério do] Esporte”, acrescentou o procurador. Moser deixou o cargo em meio a negociação do governo Lula (PT) para dar mais espaço para o Centrão na Esplanada dos Ministérios. Ela foi substituída por André Fufuca (PP-MA).

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