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Temor e ‘reverência’ de agentes levaram Silvinei à prisão

Polícia Federal pediu preventiva do ex-chefe da Polícia Rodoviária Federal para evitar pressões sobre ex-superintendentes do Nordeste em depoimento acerca de reunião às vésperas do 2º turno nas eleições

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Por Pepita Ortega
Atualização:
O ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques. Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

A oitiva de ex-superintendentes regionais da Polícia Rodoviária Federal no Nordeste, Estados em que houve ‘concentração de ações fiscalizatórias’ da corporação no segundo turno, foi o pivô para a prisão preventiva do ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques.

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Os investigadores da chamada Operação Constituição Cidadã querem ouvir os ex-chefes da PRF sobre uma reunião que teria ocorrido no dia 19 de outubro de 2022, com suposta determinação de ‘policiamento direcionado’ no dia 30 daquele mês, data do segundo turno do pleito.

Para o delegado de Polícia Federal Flávio Vieitez Reis, chefe da Operação, o ideal seria que todos os ex-dirigentes da PRF fossem ouvidos concomitantemente para evitar uma combinação de versões. Nessa linha, colocou a liberdade de Silvinei como um possível empecilho.

Segundo o delegado, a liberdade do ex-diretor-geral da PRF poderia ‘comprometer a eficácia das diligências’, uma vez que, ainda que Silvinei esteja aposentado, ‘muito provável que haja uma reverência de tais Policiais Rodoviários Federais àquele Diretor-Geral que os indicou para as respectivas funções’.

A Polícia Federal alegou a ‘reverência’ de agentes à Silvinei citando o exemplo de dois policiais rodoviários federais que prestaram depoimento em dezembro do ano passado e, segundo os investigadores, ‘faltaram e/ou omitiram a verdade’.

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Trata-se de Naralúcia Leite Dias, ex-chefe do serviço de análise de inteligência da PRF, e Adiel Pereira Alcântara, ex-coordenador de análise de inteligência da PRF. A PF percebeu contradições nos depoimentos e apreendeu os celulares dos agentes para confrontar suas versões.

De acordo com Reis, mesmo ‘sabendo que a análise do conteúdo de seus celulares os desmentiriam, podendo procurar a Polícia Federal para se retratar ou colaborar com as investigações’, Naralúcia e Adiel ‘optaram por não fazê-lo, preferindo suportar eventuais ações adversas a relatar as determinações ilegais’ de Silvinei.

“Um Diretor-Geral de uma Instituição Policial de Estado como é a Polícia Rodoviária Federal, atuar de forma a determinar um policiamento direcionado com o intuito de dificultar/impedir eleitores de votarem, e mencionar que a instituição deveria escolher um lado, indica uma atuação como Polícia de Governo, colocando interesses sociais e políticos acima dos interesses da sociedade, o que é inadmissível em um Estado Democrático de Direito”, ressaltou o delegado.

O chefe da Operação Constituição Cidadã alegou que a prisão de Silvinei visa ‘permitir’ a produção de provas de ‘forma clara, precisa e eficaz, sem qualquer interferência’.

No relatório, a PF também ressaltou as razões para a busca em endereços ligados ao ex-diretor-geral da PRF: a busca por celulares e documentos que possam esclarecer a ‘arquitetura intelectual’ das ações do dia 30 de outubro de 2022. A investigação se debruça sobre supostos crimes de violência política e prevaricação, além de delitos eleitorais.

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Os investigadores ainda inserem as suspeitas que recaem sobre Silvinei dentro de um contexto maior. Para a PF, a conduta do ex-diretor-geral da PRF não seria um ‘ato isolado com o mero intuito de vitimar a lisura do Sistema Eleitoral Brasileiro’.

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Elas seriam: “uma parte de um conjunto de atos que se iniciaram ainda em 2019 com a divulgação de fake news e notícias não lastreadas, com o objetivo de desacreditar o Processo Eleitoral Brasileiro, reforçar o discurso e polarização e gerar animosidade dentro da própria sociedade brasileira, promovendo o descrédito dos Poderes da República, culminando com os notórios atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro, que seriam a execução no mundo real dos propósitos iniciados com a milícia digital em meio cibernético investigada no Inq 7874 (inquérito das milícias digitais).”

Em junho, ex-diretor da PRF prestou depoimento à CPMI do 8 de Janeiro sobre as operações da eleição e negou ter usado o cargo para beneficiar Bolsonaro. Ele afirmou que a ação da corporação foi mais intensa no Nordeste porque a estrutura da Polícia Rodoviária Federal é maior na região. Também disse ser vítima de uma “perseguição” e alvo da “maior injustiça da história”.

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