PUBLICIDADE

Bolsonarista que morreu na Papuda avisou STF em depoimento sobre problema de saúde; veja vídeos

Em audiência realizada em junho com representantes do Supremo e do Ministério Público, Cleriston Pereira da Cunha disse que sofria com desmaios e falta de ar dentro da Papuda

PUBLICIDADE

Foto do author Gabriel de Sousa
Por Gabriel de Sousa
Atualização:

BRASÍLIA - O homem que foi preso por participação nos atos atos antidemocráticos de 8 de Janeiro e morreu nesta segunda-feira nas dependências da Penitenciária da Papuda prestou depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) e avisou de seus problemas de saúde. O interrogatório ocorreu no dia 31 de julho.

PUBLICIDADE

O depoimento foi gravado. A audiência foi presidida pela juíza Larissa Almeida Nascimento. Ela representava o relator do processo, o ministro Alexandre de Moraes. Cleriston Pereira da Cunha contou que tinha vasculite aguda que o fazia desmaiar e ter falta de ar no presídio.

Cleriston estava detido na Papuda desde o dia 9 de janeiro acusado de invadir o Congresso Nacional. O preso tinha uma parecer favorável da Procuradoria Geral da República (PGR) para deixar a Papuda protocolado em setembro, mas o despacho não foi feito pelo STF até o seu falecimento.

No depoimento, Cleriston contou que começou a passar mal depois que foi detido pelos policiais no Congresso Nacional em 8 de janeiro. Segundo seu relato, sofreu um desmaio e acabou urinando nas roupas.

Ainda durante o interrogatório, ele contou que chegou a ser encaminhado para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Distrito Federal e só recebeu os seus remédios para vasculite na manhã do dia 9, pelas mãos da esposa.

“Passei muito mal, sem alimentação. Nós não tivemos alimentação, só por volta de madrugada, não lembro, mais ou menos. Eu comecei a passar mal, eu sei que eu desmaiei e, inclusive, fiz xixi até na roupa, sem ver. (...) “Me levaram para uma UPA e me trouxeram novamente. Aí que a minha esposa chegou com os remédios por volta de umas sete horas da manhã, seis horas”, afirmou.

Cleriston tinha uma parecer favorável da PGR para deixar a Papuda protocolado em setembro, mas o despacho não foi feito pelo STF até o seu falecimento. Segundo a sua defesa, ele sofria de vasculite, diabetes e hipertensão e recebia auxílio de uma equipe médica da penitenciária desde que foi preso em janeiro.

Publicidade

Após prisão, médica disse que Cleriston corria risco de morte por conta do seu quadro de saúde

Em um pedido médico enviado ao STF dois dias após Cleriston ser preso na Papuda, uma médica atesta que Cleriston sofria de um quadro de vasculite de múltiplos vasos e uma miosite causada pela covid-19. A profissional atesta também que o bolsonarista foi internado por cinco semanas para tratamentos de pulsoterapia e antibioticoterapia.

A médica registrou também que Cleriston tinha a sua vida ameaçada por conta do seu quadro clínico, e solicitou uma celeridade para o seu julgamento pela Suprema Corte: “Risco de morte pela imunossupressão e infecções, solicitamos agilidade na resolução do processo legal do paciente”.

Preso disse que passou 17 dias sem comer na Papuda

Na audiência, Cleriston disse que ainda sofria de problemas de saúde enquanto estava preso. “Eu tenho essa vasculite aqui de desmaiar, de falta de ar, essas coisas. Mas Deus tem cuidado da gente aqui e nós vamos vencer”, afirmou.

Segundo o detento morto na segunda, sua doença o fez ficar por 33 dias internado em um hospital público na região administrativa de Taguatinga, no Distrito Federal. Cleriston afirmou também que passou 17 dias sem conseguir comer na Papuda.

Ao ser preso, bolsonarista teria dito que não teria ‘nada a esconder’

PUBLICIDADE

O bolsonarista afirmou que morava e tinha um comércio na região administrativa de Vicente Pires, que fica a 20 quilômetros dos Três Poderes. Segundo Cleriston, ele soube dos atos antidemocráticos pela mídia, e se deslocou até próximo aos Três Poderes após receber uma carona da sua esposa.

O preso disse que não participaria dos ataques se soubesse que as manifestações seriam violentas. Cleriston negou que tivesse entrado em confronto com os policiais.

Segundo denúncia do Ministério Público, o homem fez parte do grupo que invadiu o Congresso Nacional. Durante os ataques, foram quebradas vidraças, espelhos, móveis, lixeiras, computadores, obras de artes e câmeras de seguranças. A denúncia do MPF ainda fala que parte dos invasores queimou o salão verde da Câmara, empregando uma substância inflamável.

Publicidade

O empresário brasiliense admitiu que invadiu o Senado. Mas nada quebrou. Disse que sequer recebeu voz de prisão por parte dos policiais. Eles apenas teriam orientado as pessoas que estavam no plenário a se retirar para “um lugar seguro”. Na saída, Cleriston disse que a polícia pediu o seu celular: “Passei a senha também e falei que eles poderiam anotar. Não tenho nada a esconder”.

“Logo em seguida que eu fiquei sabendo que eu estava preso. Eu falei para o policial: ‘o senhor falou que ia nos conduzir para um local em segurança mas nós estamos presos?’. [O policial disse:] ‘É, agora vocês não podem sair daqui mais’. Aí, inclusive nós estamos aqui [na Papuda] até agora”, afirmou.

Família diz que STF agiu com descaso ao não beneficiar Cleriston

Em uma entrevista exclusiva ao Estadão, o irmão de Cleriston, Cristiano Pereira da Cunha, disse que a família está “indignada” pela morte do irmão e considerou que o STF agiu com um “descaso” ao não o beneficiar com a saída da Papuda apesar do parecer da PGR.

“A gente considera um descaso. Já tinham vários laudos. Ele sofreu um mal súbito lá dentro. Infelizmente, eles não apreciaram e terminou chegando à conclusão do que a médica já havia dito: que ele ia sofrer um mal súbito. Fica aí a indignação”, afirmou Cristiano, que é vereador pelo PSD no município baiano de Feira da Mata.

Em fevereiro, o advogado do bolsonarista, Bruno Azevedo de Souza, chegou a dizer que a prisão de Cleriston seria uma “sentença de morte” e pediu para que a Justiça concedesse liberdade provisória, o que foi negado naquele momento.

“Ele já sofreu graves danos e grandes sequelas em razão da covid-19. Depende da utilização de bastantes medicamentos, que nem sequer são oferecidos pelo sistema penitenciário. É de extrema importância informar que a médica responsável pelo acompanhamento solicitou exames necessários para assegurar a saúde do agravante, todavia ele não pode comparecer aos exames devido a prisão preventiva. Essas condições podem acarretar em complicações fatais para o paciente. Nesse sentido, é notório que a segregação prisional pode acarretar uma sentença de morte”, disse o advogado.