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O que se sabe sobre a morte do preso na Papuda pelos ataques do 8 de Janeiro

Cleriston Pereira da Cunha, de 46 anos, morreu após passar mal durante banho de sol nesta segunda-feira no presídio

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Foto do author Rayanderson Guerra
Por Rayanderson Guerra
Atualização:

RIO – Um dos presos no Congresso por envolvimento nos atos golpistas do 8 de Janeiro, Cleriston Pereira da Cunha, de 46 anos, morreu após passar mal no Complexo Penitenciário da Papuda nesta segunda-feira, 20, em Brasília. Ele teve um mal súbito durante banho de sol no presídio.

O detento se sentiu mal por volta das 10h, no pátio do bloco de recolhimento da penitenciária. Ele foi atendido por equipes do Samu e do Corpo de Bombeiros, com protocolo de reanimação cardiorrespiratória. Às 10h58, ele morreu.

Cleriston Pereira da Cunha morreu após um mal súbito na Papuda nesta segunda-feira Foto: Reprodução/Ação penal

Quem era Cleriston Pereira da Cunha?

Empresário e membro de uma família de políticos do interior da Bahia, Cleriston, conhecido pelos familiares e amigos próximos como “Clezão do Ramalhão”, foi preso em flagrante no dia 8 de janeiro – data da invasão aos prédios dos Três Poderes, em Brasília – e levado à Papuda. Ele nasceu na Bahia, mas morava no Distrito Federal há duas décadas.

O que ele fez no 8 de Janeiro?

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Segundo denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), Cleriston fez parte do grupo que invadiu o Congresso durante os ataques, quebrou vidraças, espelhos, móveis, lixeiras, computadores, obras de artes e câmeras de seguranças.

Além disso, de acordo com o Ministério Público, ele queimou o salão verde da Câmara, empregando uma substância inflamável, e destruiu uma viatura da Casa. A conduta foi citada pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), ao receber a denúncia.

O que alegou a defesa dele?

Durante o julgamento da denúncia, em abril, o advogado Bruno Azevedo de Souza, defensor de Cleriston Pereira da Cunha, negou as acusações e afirmou que o acusado estava no local fazendo uma manifestação pacífica, sem depredar nenhum patrimônio público.

Cleriston se tornou réu por sete crimes, incluindo associação criminosa armada, golpe de Estado e deterioração de patrimônio tombado. Ele ainda não havia sido julgado pelo plenário do Supremo. A defesa dele contestava o fato de os crimes terem sido imputados coletivamente, e não individualmente, pelo Supremo.

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Cleriston Pereira da Cunha tinha problema de saúde?

Cleriston sofria de problemas de saúde e tinha um parecer da PGR favorável à soltura dele. Enquanto estava detido preventivamente na penitenciária, ele recebia remédios controlados para diabetes e hipertensão e era acompanhado por uma equipe médica.

Por conta da sua condição física, a defesa de Cleriston havia pedido ao ministro Alexandre de Moraes para que ele fosse colocado em liberdade provisória. No dia 1º de setembro, a PGR deu parecer favorável ao pleito, mas ainda não havia um despacho do STF sobre a solicitação.

Médica alertou para risco de morte

No dia 11 de janeiro, a médica Tania Maria Liete Antunes de Oliveira, do Hospital Regional de Taguatinga, pediu “agilidade na resolução do processo legal” de Cleriston alegando que o detento corria risco de morte por imunossupressão e infecções, diante de seu quadro de saúde.

De acordo com ela, o preso era acompanhado a cerca oito meses por um quadro de “vasculite múltiplos vasos” e “miosite secundária à Covid-19″. Em 2022, ele ficou internado por 33 dias para tratar complicações do estado de saúde.

“Em função da gravidade do quadro clínico, risco de morte pela imunossupressão e infecções, solicitamos a agilidade na resolução do processo legal do paciente”, escreveu.

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Como era atendimento médico na penitenciária?

De acordo com registros da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal, Cleriston recebeu oito atendimentos médicos entre janeiro e agosto. No dia 29 de maio, o detento chegou a ser levado ao Hospital Regional da Asa Norte. Os demais atendimentos ocorreram em consultórios da própria penitenciária.

Desde que foi preso, Cleriston recebeu medicamentos controlados para hipertensão e diabetes enviados pela defesa. Em fevereiro, ele chegou a recusar os remédios afirmando que não precisava mais da medicação. Em abril, o detento voltou a receber medicamentos.

Após a morte do detento, Moraes pediu que a direção do Complexo da Papuda remetesse informações detalhadas sobre as causas da morte.

“Tendo em vista a notícia sobre o falecimento do réu Cleriston Pereira da Cunha, oficie-se, com urgência, à Direção do Centro de Detenção Provisória II, requisitando-se informações detalhadas sobre o fato, inclusive com cópia do prontuário médico e relatório médico dos atendimentos recebidos pelo interno durante a custódia”, determinou.

O que diz a família?

A família de Cleriston considera ter havido descaso do STF com o réu. Em entrevista ao Estadão, o irmão de Cleriston, Cristiano Pereira da Cunha, afirmou que a família está indignada pela demora do STF em despachar a concessão da liberdade provisória e relaciona a detenção na Papuda com o mal súbito ocorrido nesta segunda-feira.

Cleriston Pereira da Cunha era empresário e morava em Brasília há 20 anos Foto: Reprodução/Cleriston Cunha no Facebook

Cristiano é vereador de Feira da Mata, um pequeno município no oeste da Bahia, e filiado ao PSD. Ele disse que o irmão decidiu participar do 8 de Janeiro por “aquilo que motivou todos os brasileiros” e o chamou de “verdadeiro patriota”. O pai dele, Edson Cunha, foi vice-prefeito da cidade entre os anos de 1989 e 1992.

Aliados de Bolsonaro criticam STF e Moraes

Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reagiram à morte de Cunha com críticas ao Supremo e ao ministro da Alexandre de Moraes.

O senador e ex-vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS) criticou o fato de Cleriston ainda estar preso até esta segunda-feira, mesmo com o parecer da PGR. Segundo o parlamentar, o falecimento do homem representa uma “burocracia que vem cerceando direitos dos presos”. “É preciso uma investigação minuciosa para que esse fato gravíssimo seja esclarecido”, afirmou Mourão.

O deputado federal Ubiratan Sanderson (PL-RS), presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados, publicou nas redes sociais um documento enviado para a Vara de Execuções Penais do Distrito Federal. No texto, Sanderson questiona os motivos que levaram à morte do preso. “Alguém terá que ser responsabilizado”, afirmou o parlamentar do PL.

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) afirmou que o seu gabinete está trabalhando em conjunto com a bancada de oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a realização de uma “apuração dos fatos relacionados a essa infeliz notícia”.

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O deputado Coronel Meira (PL-PE) chamou Cleriston, acusado de tentativa de golpe de Estado, de “patriota” e publicou uma imagem em que afirma que o preso “pagou com a sua vida”.

O ex-deputado federal e ex-procurador Deltan Dallagnol (Novo-PR) também ressaltou o aval dado pela PGR à concessão da liberdade provisória para Cleriston. “Não há palavras para a injustiça absurda praticada pelo Supremo”, disse.

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