A Comissão de Esporte do Senado Federal aprovou nesta quarta-feira, 8, a convocação da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, para depor no colegiado sobre o “protocolo de intenções para o combate ao racismo e promoção da igualdade racial”, assinado com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) no dia 24 de setembro deste ano.
Procurada pelo Estadão, a ministra confirmou que vai comparecer à sessão para prestar esclarecimentos e disse que a “convocação se transformou em convite”.
O pedido foi apresentado pelo senador Carlos Portinho (PL-RJ), que disse, na justificativa, que “faz-se de suma importância conhecer as ações concretas que o Ministério da Igualdade Racial está planejando para concretização desse objetivo (combate ao racismo no esporte)”.
O requerimento aprovado pela comissão destaca a importância de a ministra esclarecer a “implementação e os efeitos benéficos” do protocolo assinado. Os ministros Silvio Almeida (Direitos Humanos) e André Fufuca (Esporte) também participaram da cerimônia, mas não foram acionados pela Comissão.
No dia em que o protocolo foi assinado, Anielle foi de Brasília a São Paulo usando um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), que tem um custo operacional muito mais elevado do que o de um voo comercial. Silvio Almeida fez o mesmo trajeto, mas com um voo de linha.
A ministra respondeu às críticas da oposição dizendo ser alvo de violência política de gênero. “É inacreditável que uma ministra seja questionada por ir fazer o seu trabalho de combate ao racismo e cumprir o seu dever. Vemos que as noções estão invertidas quando avançamos em um acordo histórico de enfrentamento ao racismo e somos criticados por isso. O que de fato incomoda?”, escreveu nas redes sociais na época.
O protocolo foi assinado durante a final da Copa do Brasil, disputada entre São Paulo e Flamengo, clube carioca para o qual a ministra torce. O jogo foi no estádio do Morumbi, em São Paulo. As assessoras que acompanharam Anielle publicaram nas redes sociais vídeos e fotos debochando da CBF e do São Paulo.
Uma delas, Marcelle Decothé da Silva, postou uma foto da torcida são-paulina acompanhada dos dizeres “torcida branca, que não canta, descendente de europeu safade... pior de tudo pauliste”. A declaração foi alvo de repúdio da Torcida Independente e da presidência do clube. Anielle pediu desculpas pelas atitudes. A assessora foi demitida.
O episódio colocou a ministra na mira do Congresso. Além dessa convocação aprovada no Senado, a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle (CFFC) da Câmara aprovou um pedido do deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP) de convocação de Anielle para explicar os gastos com o voo da FAB.
Como mostrou o Estadão, o ministério gerido por Anielle gastou mais de metade da verba em viagens. A pasta empenhou (reservou para gastar) R$ 6,1 milhões dos R$ 12,5 milhões a que tem direito apenas para essa finalidade.
No dia 28 de setembro, a ministra da Igualdade Racial pediu escolta e proteção policial, por causa de intimidações que começou a sofrer por causa do episódio. Além de xingamentos, Anielle foi alvo de ameaças de morte, que diziam que ela teria o mesmo destino da sua irmã, a vereadora Marielle Franco, vítima de uma execução violenta no dia 14 de março de 2018.