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Filme de Lula é ''hit'' entre empresas

Financiadores abrem mão de benefício fiscal ao bancar cinebiografia do presidente, com estreia prevista para 2010

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De olho na popularidade recorde do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, empresas começaram a comprar cotas de até R$ 2 milhões para patrocinar o longa Lula, O Filho do Brasil, descartando o mecanismo mais comum de financiamento cinematográfico - o de incentivo fiscal. Essas companhias, que não estão entre as principais financiadoras de cinema no País, são, na maior parte, empresas com negócios que dependem intimamente de decisões do Executivo e que possuem contratos milionários com o governo federal - nos últimos dois anos, já receberam mais de R$ 1 bilhão. Das sete empresas que já decidiram bancar o filme sobre os primeiros 30 anos da vida de Lula, dirigido por Fábio Barreto, três estão entre as principais construtoras do País: Odebrecht, OAS e Camargo Corrêa, que financia um longa pela primeira vez. A Oi, empresa de telefonia que teve autorização para comprar a Brasil Telecom, também financia o projeto. Além delas, são patrocinadoras Volkswagen, AmBev e Nestlé, que farão merchandising no filme, baseado no livro homônimo da historiadora Denise Paraná. O bilionário empresário Eike Batista, do grupo EBX, doou R$ 1 milhão. O filme sobre a vida do presidente será lançado em 2010, ano de eleição presidencial. Os produtores Paula e Luiz Carlos Barreto alegam que a data tem a ver com uma questão comercial (leia entrevista abaixo). A produção custará R$ 12 milhões - 70% já foram captados. Para a distribuição, serão necessários outros R$ 4 milhões, que ainda estão em negociação. O financiamento do filme com o chamado "dinheiro bom", ou seja, sem uso de leis de incentivo, está na contramão da maneira como a produção cinematográfica é bancada no Brasil. Desde a retomada do cinema nacional, em 1995, o principal caminho são as leis de incentivo, como a Rouanet e a do Audiovisual, que preveem a isenção fiscal para patrocinadores. De acordo com dados da Ancine, dos 274 filmes nacionais lançados entre 2003 e 2007, apenas 33 não tiveram recursos oriundos de leis de incentivo. Os produtores alegam que estão criando um novo paradigma de financiamento no Brasil. O uso do "dinheiro bom" é celebrado por produtores, alguns céticos sobre a viabilidade desse tipo de captação para obras que não tenham o presidente como protagonista. "O investimento de empresas pode ocorrer para alguns títulos muito especiais. A tendência mais forte de retorno para o investidor é, no entanto, por meio de fundos que investem em várias produções. Faz mais sentido comprar cotas de um fundo que investir num único filme", disse o cineasta Roberto Moreira. "Não há tantas histórias de Lula para que a indústria se lance nesse mecanismo do dinheiro bom", declarou Assunção Hernandes, da Raiz Produções. "É um caso especial ainda. E único. Em cinema, não dá para saber quais filmes terão resultado. Mas há fortes indicativos de que esse poderá ter", afirmou o diretor André Klotzel. Segundo estimativas de produtores ouvidos pelo Estado, Lula, O Filho do Brasil deverá ter 4 milhões de espectadores para se pagar. Os produtores do longa estimam que, num cenário positivo, o filme terá cerca de 5 milhões de espectadores. Será um fracasso, dizem, se for visto por até 2 milhões de pessoas. Desde 1995, apenas três filmes nacionais tiveram público acima de 4 milhões. Foram eles Se Eu Fosse Você 2 (2009), 2 Filhos de Francisco (2005) e Carandiru (2003). COMPANHIAS As companhias que bancam o filme do presidente alegam interesse na obra em razão do retorno de imagem para suas marcas, mesmo em época de crise. Muitas não abrem o total bancado, mas alegam ser normal o patrocínio, uma vez que já financiaram outras produções. A AmBev, antes da fusão Brahma-Antártica, alega já ter patrocinado outro filme da família Barreto, Dona Flor e seus Dois Maridos. A investida mais recente no cinema foi com Meu Tio Matou um Cara (2004). A Odebrecht, que deu R$ 350 mil, também diz já ter bancado outros longas. A Oi afirma que o filme tem o apoio do Oi Futuro, instituto de responsabilidade social. A empresa não abre o valor, mas diz que já fez parceria com outras produções, como Feliz Natal, de Selton Mello. Segundo André Senador, diretor de relações com a imprensa da Volkswagen, a empresa banca outros três longas. "O filme extrapola a condição política. Não enxergamos nenhuma conotação, mas o exemplo de vida de um homem", disse. Procurada, a OAS não se manifestou.

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