Flávio Bolsonaro diz que é impossível conter reação de apoiadores a resultado de eleições

‘Como a gente tem controle sobre isso?’, diz senador a respeito de eventual levante diante de derrota do pai

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Por Felipe Frazão

Coordenador da campanha à reeleição de Jair Bolsonaro (PL), o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que o presidente não terá como controlar uma eventual reação violenta de apoiadores que contestem o resultado das urnas. Flávio não quis confirmar se Bolsonaro reconheceria uma derrota, mas negou que planeje estimular um levante. “Algo incentivado pelo presidente Bolsonaro, a chance é zero”, disse ele em entrevista ao Estadão.

Filho primogênito de Bolsonaro, Flávio sugeriu que militares se pronunciem oficialmente se o Tribunal Superior Eleitoral ignorar as recomendações para a transparência das eleições feitas pela Defesa. “Se as Forças Armadas apontam vulnerabilidades, e o TSE não supre, é natural que essas pessoas tenham que se posicionar (dizendo): ‘A gente não pode garantir que as eleições vão ser seguras’.”

Ouça aqui os bastidores da entrevista relatados por Felipe Frazão:

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O presidente vai aceitar o resultado da eleição?

O presidente pede uma eleição segura e transparente, era o que o TSE deveria fazer por obrigação. Por que não atende às sugestões feitas pelo Exército se eles apontaram que existem vulnerabilidades e deram soluções? A bola está com o TSE.

Se o TSE não ceder, não fizer a reunião técnica que foi pedida pelos militares, as Forças Armadas devem fazer o quê?

Se as Forças Armadas apontam vulnerabilidades, e o TSE não supre, não resolve esses problemas, é natural que essas pessoas, talvez via comandante do Exército, via ministro da Defesa, tenham que em algum momento se posicionar: ‘Olha, sugerimos, houve alterações, apontamos vulnerabilidades, o TSE não quer fazer, por consequência a gente não pode garantir que as eleições vão ser seguras’. Para que chegar a este ponto? Essa resistência do TSE em fazer o processo mais seguro e transparente obviamente vai trazer uma instabilidade. E a gente não tem controle sobre isso. Uma parte considerável da opinião pública não acredita no sistema de urnas eletrônicas.

Se houver um levante contra o resultado das eleições, como vimos nos EUA, qual será a posição do presidente, do sr., dos principais nomes do governo? Se isso surgir de apoiadores, o presidente endossa?

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Como a gente tem controle sobre isso? No meu ponto de vista, o (Donald) Trump não tinha ingerência, não mandou ninguém para lá (invadir o Capitólio). As pessoas acompanharam os problemas no sistema eleitoral americano, se indignaram e fizeram o que fizeram. Não teve um comando do presidente e isso jamais vai acontecer por parte do presidente Bolsonaro. Ele se desgasta. Por isso, desde agora, ele insiste para que as eleições ocorram sem o manto da desconfiança.

'Como a gente tem controle sobre isso?', diz senador sobre eventual levante diante de derrota do pai. Foto: Mateus Bonomi/Estadão

Se as Forças Armadas apontam vulnerabilidades, e o TSE não supre, não resolve esses problemas, é natural que essas pessoas, talvez via comandante do Exército, via ministro da Defesa, tenham que em algum momento se posicionar

Flávio Bolsonaro

Ele poderia ter de tomar uma decisão dura, até decretar estado de sítio, alguma medida de exceção?

Isso não está na mesa. O que está na mesa hoje é que o TSE dê segurança para que o eleitor mais humilde tenha a certeza de que o candidato que escolher vai (receber) o voto de verdade.

Se for com o sistema que está aí, e o presidente tiver resultado negativo, ele reconhece a eleição?

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Alguns avanços o TSE já fez, que, se forem implementados, dificultam a possibilidade de fraude. Se tem mais coisas que podem ser feitas para diminuir, por que não fazer? Quem quer dar golpe na democracia, Bolsonaro ou quem está resistindo a atender a sugestões técnicas?

Por que o presidente deixa no ar que vai tomar alguma decisão, em tom de ameaça, e diz que pode descumprir decisão do Supremo?

Ele é uma pessoa genuína e fica indignado com as interferências de alguns ministros do Supremo no Executivo e no Legislativo, decisões que inviabilizam o governo, que invadem a esfera do presidente da República. O presidente se sentiu aviltado e externou isso. A pessoa não pode mais falar o que pensa?

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Que acordo o presidente e o ministro Alexandre de Moraes fizeram?

Foi uma conversa dele com o Temer e o Alexandre de Moraes. O presidente fala que o Alexandre não cumpriu. Eu vi dentro do Congresso, havia uma conversa para, em o Congresso não derrubando a prisão do deputado Daniel Silveira, ato contínuo o Alexandre de Moraes soltaria. Mas ele ficou mais alguns meses preso. E não cumpriu, se foi de verdade, esse acordo. Alguns deputados votaram achando que estava valendo, para manter a prisão. A todo momento a gente olha esse tipo de ato. E você não vê nenhum tiro do Palácio do Planalto lá para o STF. Só ao contrário.

Quando Bolsonaro cobra uma contagem paralela de votos feita pelas Forças Armadas, o que não é missão delas, não é um ‘tiro’, uma afronta clara a atribuições do Judiciário?

Se os técnicos estão mostrando que precisa ser feito para garantir a segurança e a imparcialidade, por que não fazer?

Mas isso não consta na sugestão das Forças Armadas.

Essa apuração paralela não precisa ser só das Forças Armadas, pode ser da OAB, por exemplo. É uma tripla checagem de segurança. Por que ser contra? Não tem lógica. Por vaidade? Qual o preconceito com os militares? Será que esse preconceito não se estende a ter um presidente militar?

O governo está atuando para aprovar PEC com aumento de auxílios sociais. Vai dar tempo para reverter o quadro eleitoral?

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Esse impacto é possível. Mas meu pai sempre me ensinou a fazer as coisas sem pensar no que vai trazer votos de volta. O momento pede. O mundo com inflação alta, o poder de compra do planeta diminuiu.

O que está na mesa hoje é que o TSE dê segurança para que o eleitor mais humilde do Brasil tenha certeza de que o candidato que ele escolher vai (receber) o voto de verdade.

Flávio Bolsonaro

Mas não pode ser tarde eleitoralmente?

Aí quem vai dizer é o eleitor. Sinceramente, ele não está preocupado se vai dar voto ou não. Ele está fazendo porque os mais pobres precisam.

E vai ser fácil aprovar?

Não acho que será difícil aprovar. Há consenso de que é necessário um pacote como este. Não foi fácil lidar com tudo que aconteceu e, no meu ponto de vista, o saldo é positivo para o governo. O eleitor vai saber pesar isso tudo. Agora, se vai querer que volte aquela quadrilha do PT para assaltar o País e estuprar as estatais... No governo Bolsonaro isso não acontece e as pessoas sentem melhoria na qualidade de vida.

Mas a inflação ainda está chegando a 12%, 33 milhões de pessoas estão passando fome. Não é isso tudo que está sendo explorado pelas campanhas adversárias?

Isso é uma narrativa mentirosa. Como alguém pode achar que estar trabalhando e ganhando menos do que a média é pior do que estar desempregado?

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Tem algum mea-culpa do governo?

Nenhum governo é perfeito. Ninguém nasce sabendo ser presidente. Mas o saldo é imensamente positivo. Até quando o presidente Bolsonaro erra, erra tentando acertar. Para mim, o maior equívoco foi não dar mais atenção para a publicidade das coisas que beneficiam as pessoas.

O ex-ministro da Educação Milton Ribeiro disse que o presidente telefonou para ele falando de busca e apreensão. Houve isso?

Não sei se ele telefonou, mas, quando se analisa o contexto, pode ser algo para confortar a família. Qualquer pessoa que estivesse acompanhando, em função da gasolina que grande parte da mídia botou no caso... A busca e apreensão eram uma coisa possível de acontecer. Se tivesse interferência na PF, coisa que Bolsonaro não faz, por que o cara seria preso?

Até quando o presidente Bolsonaro erra, erra tentando acertar. Para mim, o maior equívoco foi não dar mais atenção para a publicidade das coisas que beneficiam as pessoas.

Flávio Bolsonaro

O juiz federal Renato Borelli prendeu por risco de obstrução de Justiça, ocultação de provas.

Ele (Milton Ribeiro) já estava fora do ministério. Esse juiz tem que ir para o CNJ, porque ele fez ativismo político para desgastar o governo, causar transtorno eleitoral. Se ele já sabia que se falava no presidente Bolsonaro antes da prisão do ex-ministro, ele tinha que ter mandado para o STF, não ter determinado a prisão. Pelo que tem até agora, não podemos falar que o ministro Milton tem envolvimento com corrupção.

A Polícia Federal diz que o ex-ministro é suspeito de corrupção passiva, tráfico de influência...

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Suspeito de corrupção. É uma prisão arbitrária, perseguição política. Não dá para comparar com os R$ 6 bilhões recuperados da Petrobras, dos delatores que devolveram dinheiro que roubaram. Não dá para botar na mesma prateleira, a população enxerga. É forçação de barra.

Não são suficientes indícios como dinheiro na conta de familiares, atuação dos pastores dentro do MEC com respaldo do ministro?

Pedindo para levar recurso público para as escolas? Isso 100% do Congresso que vai no ministério pede.

Tem pedido de propina, senador.

Se os pastores pediam pedágio para os caras no meio do caminho têm de responder por isso.

Como esses pastores, Gilmar Santos e Arilton Moura, tiveram tanto acesso ao presidente, participaram de eventos no Palácio do Planalto?

São lideranças religiosas. Tem que receber qualquer liderança, ainda mais religiosa, que é uma pauta do governo. E pelo que sei os pastores não tinham antecedentes. As pessoas fazem besteiras, e as responsabilidades têm que ser individualizadas.

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O caso MEC não justifica a CPI da oposição?

A CPI quer fazer palanque político na véspera da eleição. Sou contra um factoide como esse para atrapalhar a eleição, como foi a CPI da Covid. Espero que o Senado não caia nessa armadilha que só bota o Senado cada vez mais em descrédito.

A liberação de emendas consegue segurar a CPI?

Não tem nada a ver, isso já estava acontecendo independente de CPI. Não é o momento de instalar CPI nenhuma, todos os 81 parlamentares tem de ter oportunidade de participar e estamos em véspera de recesso e eleição. Que comece depois quando todo mundo tiver voltado da campanha. Existem quatro pedidos de CPI feitos antes dessa, uma para apurar as obras de escolas paradas do MEC e mau uso do Fies. Se for instalar CPI, que obedeça a ordem cronológica. É o caso de pedir que seja apensada essa CPI do MEC à nossa anterior, porque tem vinculação.

O presidente tem reiterado que pode descumprir decisão do Supremo, ele deixa no ar que vai tomar uma decisão, é tom de ameaça.

Hoje ele está numa linha mais tênue. Ele é uma pessoa genuína e fica indignado com as interferências de alguns ministros do Supremo no Executivo e no Legislativo, decisões que inviabilizam o governo, que invadem a esfera do presidente da República. O presidente se sentiu aviltado e externou isso. A pessoa não pode mais falar o que pensa?

O Ministério Público do Rio quer retomar as investigações da rachadinha, que o senhor conseguiu anular.

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E já perdeu de novo. Não tem por que reabrir. Estou tranquilo com relação ao processo e a minha consciência. Viraram minha vida do avesso e não acharam nada. Felizmente o VAR jurídico funcionou nesse caso e não deixou dúvidas para ninguém. Não aceito tomar gol de mão. Não tem pessoas falando que me deram dinheiro, não tem depósito na minha conta, meu patrimônio é compatível com minha renda. Tentam colocar Bolsonaro na mesma prateleira de corrupção do Lula. Não dá.

A campanha vai ter comparação desses casos de corrupção entre Lula e Bolsonaro?

Eles vão tentar fazer. Eu comprei uma casa em 35 anos, pegando financiamento imobiliário no banco. Querem dar ar de ilegalidade. Mais uma que vai ser arquivada. Você acha que o banco me emprestou dinheiro porque tenho olho verde? Emprestou porque eu tinha condições de pagar a dívida que estava tomando e tenho até hoje. Tenho fontes de renda como parlamentar, advogado e empresário.

A 95 dias da eleição, é a primeira vez que um presidente no cargo não lidera as intenções de voto. Como mudar esse cenário?

É a primeira vez que um presidente pega uma pandemia seguida de uma guerra. Vamos ter tempo para mostrar todas as conquistas e realizações do governo. Conclusões de obras como a transposição do rio São Francisco, o povo nordestino sofreu com a seca até ontem e o presidente realizou o sonho de milhões de nordestinos, um direito deles. A crise que enfrentamos no petróleo, se o PT não tivesse roubado e sido incompetente nas refinarias, que deveriam estar funcionando, como Comperj e Abreu e Lima, o Brasil seria muito menos impactado pela oscilação do preço lá fora.

A ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina era cotada para ser candidata a vice-presidente, mas o presidente indicou que será o general Braga Netto. O que pesou na decisão?

Nessa eleição o vice não é determinante para ninguém. O Braga Netto é um quadro excepcional que poderá estar em outros lugares do País onde o presidente não estiver. A Tereza também é, mas é importante que ela dispute o senado pelo Mato Grosso do Sul. O presidente, dentro de seu xadrez, ele foi sempre muito bom de War e pela sua formação militar, conhece bastante de campanha, porque política não é muito diferente de uma guerra.

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Lula pensou muito na escolha do vice, Geraldo Alckmin (PSB), foi uma estratégia para dialogar além da esquerda, rumo ao centro. Tereza Cristina não teria amplitude eleitoral maior?

Lula usa o Alckmin para dar um recado ao mercado de que não vai fazer nenhuma loucura. Só que mente sem parar. Diz que não vai respeitar teto de gastos, que vai acabar com a independência do Banco Central e rever avanços na legislação trabalhista. O cara é um terror para qualquer investidor e empreendedor no Brasil. Ele vai partir para um lado de autoritarismo que ser muito difícil de segurar.

Filho mais velho do presidente, Flávio Bolsonaro coordena a pré-campanha do pai à reeleição. Foto: Mateus Bonomi/Estadão

Vários pré-candidatos da terceira via desistiram: João Doria, Luciano Huck, Sergio Moro, Luiz Henrique Mandetta, João Amoêdo. Mas ainda resistem Simone Tebet, Luciano Bivar, entre outros. O quadro pode mudar?

Não existe terceira via. É impossível pensar diferente. Todos esses que se colocaram e desistiram têm uma convergência de ideias muito maior com Bolsonaro do que com Lula. Tenho certeza que vão reconsiderar a posição de vir contra Bolsonaro e no segundo turno vão apoiar. Acredito que no apagar das luzes, no fim das convenções, o União Brasil tome a decisão de caminhar conosco. Estou aberto para conversar.

O ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol disse que votaria em Bolsonaro contra Lula no 2º turno. Esperam algo semelhante do ex-juiz Sergio Moro?

Não esperava do Deltan, como não espero do Moro, uma decepção para todos nós, não tem nenhuma relevância política mais. Deltan fez uma dedução de bom senso. Na cabeça dele, Bolsonaro é menos pior, menos lesivo à pátria do que o PT. É o raciocínio de muitas pessoas.

Por que essa insegurança do presidente em relação à participação nos debates na TV?

É uma decisão que ele vai tomar mais para frente. Defendo que ele vá aos principais debates.

Como a primeira-dama Michelle Bolsonaro vai trabalhar para reduzir a resistência entre as mulheres?

Quando ela achar conveniente vai estar disponível para levar a verdade à população. Gosto da forma como ela se posiciona, firme, simpática, ajuda a mostrar como o presidente é dentro de casa, a intimidade.

Houve aumento de 20% no desmatamento, que atingiu 13 mil quilômetros quadrados na Amazônia, segundo dados oficiais. Cogitam mudar o eixo nas políticas ambientais?

Por que mudar se o Joe Biden elogiou o presidente na proteção da Amazônia?

O assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira expôs ao mundo que a Amazônia está à mercê de criminosos.

Sempre esteve. Uma das linhas de conversa com Biden foi essa, que ajudassem com tecnologia e recursos humanos no combate ao crime organizado que existe lá, exploração de madeira, tráfico de drogas. Um lugar tão isolado é difícil combater. Mas não dá para botar a responsabilidade no governo Bolsonaro. O governo faz a parte dele, foram quase R$ 800 milhões investidos no combate ao crime na Amazônia. A gente fica sensibilizado com o sofrimento da família, mas em tempo recorde conseguimos elucidar o crime. Logo no início a oposição nos acusou de não tomar medidas para resolução, quando conseguimos prender começam ‘ah, mas tão rápido, quem mandou matar?’.

Não era cedo demais, só 10 dias de desaparecimento, para a Polícia Federal descartar mandante?

Mas se o cara confessou. Falou onde está o corpo, está resolvido o crime. Isso não é bom? Vai alongar porque pode ser que tenha mandante? Não tem indício de que alguém mandou eles fazerem aquilo. Só falta dizer que o Bolsonaro mandou matar os caras.

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