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Como a conjuntura do País afeta o ambiente público e o empresarial

As fusões e aquisições contemporâneas são cada vez mais complexas e desafiadoras

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Por Redação
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Fonte: arquivo pessoal.  

 Leonardo Barém Leite, Sócio sênior do escritório Almeida Advogados, especialista em Direito Societário e Contratos, M&A, Governança Corporativa, Sustentabilidade, ESG e Compliance

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As chamadas operações de M&A (Mergers and Acquisitions), ou compra e venda de empresas (ou ativos) (em linguagem mais corriqueira e simples) são frequentes há muito tempo; e a sua estrutura básica pouco muda, se considerarmos apenas que uma parte vende ativos e a outra os compra (em diversos formatos).

Há inclusive quem diga que essas operações costumam ser parecidas e são cada vez mais simples, rápidas e com menor complexidade de implementação, graças, em grande parte, ao que hoje se consegue realizar com a tecnologia.

Temos a opinião, e a experiência, de que esse pensamento pode ser muito arriscado, e merece maior cuidado em sua avaliação.

Esses movimentos das organizações de fato fazem parte do ciclo de vida dos negócios, e grande parte dos empresários atua em operações dessa modalidade ao longo da carreira, de forma de que o conceito não é propriamente novo, mas o que vem mudando (e cada vez mais rapidamente) é a complexidade. E a importância de termos realmente o conhecimento, e a experiência necessários.

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Ainda que o cerne desses projetos seja, muitas vezes parecido, a complexidade das operações, e os inúmeros desafios vêm aumentando. E muitas vezes os riscos (e as perdas deles decorrentes, quando materializados) surpreendem tanto, que podem levar ao total fracasso do negócio.

Parte do aumento constante da complexidade decorre do conceito de gestão de riscos, que não para de crescer de forma geral, e esse tema se torna ainda mais desafiador em contextos de compra (total ou parcial) de outros negócios (ou empresas).

Sabemos que conhecer efetivamente todos os riscos do seu negócio, e conseguir geri-los adequadamente, já demanda enorme capacidade e habilidade, de forma que não é difícil entender que adquirir um outro negócio (ainda que do mesmo segmento, e com potenciais sinergias) é ainda mais complexo e desafiador. Pois envolve riscos ainda nem conhecidos, e inicialmente de terceiros.

Por mais que se procure informações sobre o alvo, na realidade o conjunto total da operação adquirida, e o domínio de toda a sua complexidade (incluindo riscos, contingências etc.) só passa a ser efetivamente conhecido após a assunção da efetiva gestão (do target). E sempre há surpresas.

Um dos potenciais equívocos bastante cometidos é minimizar os riscos e maximizar oportunidades e sinergias, assim como minimizar a importância da cultura (e da maneira de atuar) do negócio alvo (que nem sempre se identifica, conhece e estima, apenas com documentos e informações).

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Mesmo empresas (ou ativos) aparentemente saudáveis e promissoras, podem envolver dívidas, problemas, riscos e contingências que não são conhecidas de início, ou mesmo durante as negociações. E mesmo as chamadas Due Diligences (que são fundamentais e cada vez mais complexas, e detalhadas) podem não conseguir mapear todo o contexto se realizadas sem todos os cuidados realmente necessários.

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Temos visto, por exemplo, práticas equivocadas, e arriscadas, de algumas organizações, que nem sempre são passíveis de detecção apenas com a coleta tradicional de documentos e certidões. E que envolvem altíssimo risco.

Em muitos casos, até mesmo o vendedor "de boa-fé" do negócio (ou dos ativos) desconhece toda a complexidade da sua operação em termos de riscos (inclusive potenciais), e por vezes até ele é surpreendido quando os problemas se materializam.

Para tentar lidar com essas questões, ao longo do tempo os operadores desses movimentos empresariais desenvolveram instrumentos de proteção financeira, para que garantias e/ou responsabilidades e/ou parte do valor combinado para o negócio sejam acionados em caso de necessidade. Assim como maneiras de se tentar isolar riscos. E, em grande parte dos casos, esses instrumentos (se bem estruturados) costumam funcionar bem.

O que vem ocorrendo, porém, é que tem ficado cada vez mais difícil tentar estimar todas as possibilidades de risco, e todas as possíveis contingências, mesmo com a melhoria dos sistemas de investigação e de garantias.

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O risco zero jamais será alcançado, e faz parte do próprio conceito de uma boa compra (ou de uma má compra), e, em geral, o risco combinado integra o próprio formato ou valor do negócio, mas tem crescido a necessidade de se encontrar novos mecanismos de negociação, de investigação e de garantias.

Mesmo os mais arrojados empreendedores já estão se dão conta de que é preciso cada vez mais cautela ao se identificar efetivos bons negócios, por melhor que pareçam de início. E que o cuidado ao se efetivamente avaliar (em termos financeiros, jurídicos, ambientais, operacionais, e tantos outros) também precisa ser cada vez maior.

Muitos dirão que empresas alvo que contem com programas, efetivos e bem estruturados, de compliance e de governança corporativa, bem como de controles internos e de auditoria, e que tenham boa saúde financeira costumam ser compras mais seguras, e de fato isso tende a ser verdade - mas nem sempre.

As operações das organizações têm crescido tanto em complexidade, e tanta coisa é terceirizada (e por vezes "quarteirizada"), que até mesmo para tentar estimar o alcance (e o detalhamento) das investigações a serem efetuadas, já se encontram muitos desafios.

Adicionalmente, por razões de mercado e de custo, e ainda por oportunidades, a ansiedade pelo fechamento rápido tem crescido muito, o que pelo aspecto dos riscos aqui comentados, é um complicador adicional.

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Na mesma linha, não apenas o prazo tem sido cada vez menor, como também muitos operadores buscam maneiras mais baratas de se fazer as investigações - o que tende a levar, naturalmente, a uma simplificação dos processos que por vezes passam a ser menos profundos e detalhados. E ocorrem, cada vez mais por amostragem, por estimada materialidade e de forma virtual (que podem, ou não, funcionar).

Outro risco que tem sido muito assumido, e nem sempre com o devido cuidado, é o abuso da confiança em certidões, declarações, e até mesmo certificações, que precisam ser muitíssimo bem avaliadas. Na mesma linha, as auditorias, quem nem sempre são efetiva garantia de que tudo esteja em ordem.

E temos que adicionar, ainda, o risco de se estar abandonando as verificações efetivas no local, de forma presencial e especializada, seja por custo seja por tempo.

A tecnologia de fato tem ajudado muito, e proporcionado economia de recursos e de tempo, mas é preciso que se diferencie com cuidado (e muita experiência) o que pode ser abordado dessa forma, e o que ainda precisa ser avaliado pessoal e presencialmente, de maneira mais detalhada e profunda.

Todo esse contexto de aumento de complexidade vem aumentando de forma extremamente rápida, de forma que é preciso que os operadores do mercado percebam enquanto é tempo que, além dos pontos já elencados acima, nem sempre se pode (ou se deve) acreditar com segurança que os antigos mecanismos de negociação, de investigação, e mesmo de se buscar garantias, sejam suficientes.

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O risco de imagem, inclusive por más práticas comerciais e operacionais, que nem sempre são detectáveis por meras documentações, também são extremamente difíceis de se avaliar (e de remediar, quando necessário).

Adicione-se, ainda, todos os riscos ligados a práticas de governança corporativa, e mesmo ESG, que podem estar sendo tratadas pelo alvo de maneira pouco cuidadosa, escondendo riscos que podem ser maiores até mesmo do que todo o negócio.

Esse alerta é importante, e nos remete à beleza dessas operações, que quando bem implementadas, podem trazer muitas alegrias às organizações.

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Gestão, Política & Sociedade.

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